Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

27 março 2012

Às vezes esqueço-me, e dou por mim a lavar a loiça com um sorriso colado à pele, aos gestos, ao tempo. Dou por mim a recordar coisas, a repetir coisas que já foram, que já foram presente e agora são só prenda do passado envenenado de felicidades. Acabo o dia a pensar na razão de tanta alegria, de tão boa disposição, e então percebo que as razões que me desencantam o sorriso encantado são apenas razões para estar triste, que nem a mim enganam, que já tantas vezes me enganei que até de olhos fechados me desengano. Mas tenho de fechar os olhos ao sonho e apagar o sorriso falso por verdadeiro de falta de razões para me pôr feliz. Às vezes ponho-me a pensar como me perco tanto no sítio donde não saio. Porque eu sei onde estou. Já vi, e sei, o filme todo, mas teimo em achar que enquanto não vir as letrinhas a passar, ainda não acabou, ainda tenho de fazer o meu papel, o meu papel de parva de sorriso palerma colado ao ser que faz o meu papel, até as letrinhas começarem a passar e eu ter de voltar ao sítio onde estava antes de ser parva, ou depois de já o ter sido. Eu sei bem onde estou, sou estupidamente lúcida para o papel em que teimo em fazer de conta que as letrinhas ainda não passaram.

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