Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

05 março 2012

Vim o caminho a ouvir Jorge Palma. Gosto das músicas pelo que elas dizem, e as letras daquelas músicas são poemas que me tocam, quase todos. Mas não há nada que me afaste da cabeça as ideias que não quero lá. E as comparações, as malditas comparações, que nascem não sei de onde, até de músicas que nada têm a ver com comparações, mas dou-me comigo a comparar muitas coisa que não devia, e que doem, porque não me sou meiga, porque não me poupo. Nem os outros.
Chego aqui à porta com a ideia que não vale a pena pensar mais, e que já não tenho lugar para sentir, desde que me desalojaste de mim, de ti; desde que já não me sentes e que tenho de te anestesiar em mim, que criar uma dormência com o teu nome. Tenho de passar por ti sem te ver, sem te sentir cá dentro a remexer o que em ti não existe. Não vale a pena comparar-me, perco de todas as vezes, resposta que me serves sempre fria e sem dores tuas, as pontas dos teus dedos têm outros nomes e escolhem outra pele, mas então porquê? O que andámos a fazer tanto tempo? Quem andámos a enganar tanto tempo? Afinal, eu fui o quê em ti? Tempo que passou? Dias que se consumiram num fogop mais vivo para melhor se viver a própria vida? E eu? E a minha vida que é a que vivia contigo?
e a música do Palma a latejar-me na cabeça, a vibrar no coração quase parado:
"Tira a mão do queixo não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas pra dar"
Será? Acho que desisto, que desisti.
Depois de ti não acredito em mais nada.
Não acredito em nada do que se sente.
Nem em palavras que os olhos dizem com a mesma clareza que as palavras que nunca proferiste.
Porque no silêncio cabe tudo o que nós quisermos, e o tamanho do erro não cabe em nós depois de descoberto.

2 comentários:

Lias disse...

Depois de tudo, o que nos sobra é a incredulidade. Dizem-nos que temos de aceitar e seguir em frente, mas como fazê-lo quando ficamos despojados de quem somos? Porque dentro de nós tudo mudou. As bases mais fundamentais do que somos saem tremidas. E já não sabemos o que queremos, quando a única coisa que queremos não nos é permitida.

Gosto de a ler. Identifico-me com as palavras e os desejos que tudo fosse diferente. Resta-nos esgotar-nos nestas dúvidas até que o dia de seguir em frente surja diante de nós.

Eva disse...

Obrigada, é sempre uma surpresa boa saber que gostam de nos ler, que fazemos sentido para mais pessoas.
É verdade, suponho que sem sabermos como esse dia surge e assalta-nos. De repente já não temos dúvidas, de repente as coisas começam a fazer sentido outra vez, ou então habituamo-nos a viver assim, sem perceber o sentido das coisas ou purisimplesmente desistindo de que deve haver um qualquer sentido na vida para além dum dia a seguir ao outro.
E sim, gostaria que tudo, ou quase tudo fosse diferente, mas o caminho que me dão é este, há que caminhá-lo o melhor que podemos.