Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

19 junho 2012


O caminho de manhã faz-se agora com porquês, com comos? com como é que é possível???!! Vêm substituir os adoro-te, os amo-te, que trancava dentro da boca horas depois de teres a tua boca na minha, o meu corpo aninhado nos teus braços, o meu mundo no teu colo, que me roubavam pensamentos, surgiam-me por dentro como agora me surge tanta incredulidade, tanto desnorte, tanta incompreensão. Às vezes chego a pensar que estou doida, que não podes ser assim, que eu nunca amaria alguém tão pérfido, nunca adoraria uma alma tão cruel, e tão desumana, depois penso que doida estou agora por duvidar, que a realidade está à frente dos olhos a queimar-me a vista e o horizonte, que as pessoas são o que são, que não se conhece nunca ninguém, passem os anos que passem, as pessoas são muitas vezes indiferentes aos meios para atingir os seus fins. Ainda assim pergunto-me porque dedilhar a minha alma como fizeste tanto tempo?, porquê enganar-me? porquê? Porquê dizer tanta coisa que não perguntei? Porquê dizer que me adoravas, até que me amavas, falar de tanta coisa que não esperava ouvir, mas que saiu da tua boca sem pedido, sem perguntas, saíram livremente, e eu, tonta, achava que as coisas quando saem livremente são verdade porque não têm uma razão de existir, não são provocadas, são só o libertar daquilo que apertamos tantas vezes por dentro. Estou enganada, devo estar, vi tudo mal, entendi tudo ao contrário, era só uma maneira de alimentar uma coisa que não querias assumir mas também não querias perder. É uma versão do chamado banho-maria, e eu detesto isso. Talvez o erro seja meu, normalmente é, estava demasiado desperta para ouvir tudo o que gostava de ouvir da tua boca e que tantas vezes me surpreendeu, e deixei por ouvir o que dizias no silêncio de tantas respostas, ou apenas no silêncio sem qualquer pergunta, sem nada, como agora.

2 comentários:

panties on the rope disse...

sinto isso um bocadinho todos os dias, por todas aquelas pessoas que me fizeram sentir otária por acreditar e me dexar levar em amores paixoes e amizades que só existiam na minha cabeça...
fica aqui um pouquinho da minha solidariedade: só faz falta quem cá está =)

Eva disse...

É verdade só faz falta o que nos acrescenta alguma coisa, e quem não gosta não acrescenta nada de bom. Ser otária às vezes faz parte, é porque acreditámos, é porque quisemos bem, é porque ainda somos, afinal, capazes de sonhar... mil vezes ser otária e sofrer, do que já andar morta e não saber. Não acreditar em nada de bom, não querer nada mais além, não correr atrás do sonho. É essa capacidade que não quero perder, e acho que é por isso que nem me dou ao trabalho de disfarçar que sim, sou otária, fui, mas quem acredita dá a volta. Otários são os que não percebem que mais vale um genuíno otário do que um falso esperto, que afinal também se sente otário, só não quer admitir por vergonha, orgulho ou estupidez. Faz parte da vida. É assim. Otária hoje, com o sonho nas mãos amanhã, ou atrás dele. É bom ter ainda a capacidade de correr atrás e sonhar e acreditar. É difícil, mas a razão porque não quero amargar de vez é porque não quero perder isso, quero continuar a ter uma alma, e não um corpo com factos inscrito na sua história...