Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

01 agosto 2012

Tinha acabado de sair do banho há pouco, estava a pentear-se em frente ao espelho baço, pensava no que havia de fazer, não queria ficar em casa, não lhe apetecia sair, não lhe apetecia nada. Enfia uma camisola depois de se resignar a não sair. Tinha acabado de a vestir quando tocam a campaínha, estranhou, não esperava ninguém. Ultimamente nunca esperava ninguém, nunca chegava ninguém, com aviso, ou sem ele. Culpa dela também, que nunca lhe apetecia coisa nenhuma. Ainda no corredor pergunta quem é, do outro lado respondem "não sei se queres saber..." e ela em frente à porta. Estancou. O coração parou. Não sei quanto tempo passou, não sei quantas batidas o coração falhou para logo a seguir se redimir disparado a bater desenfreado. Aquela voz. Não pensou. Abriu. Ele entrou depressa e fechou a porta atrás dele, parecia ter medo que mudasse de opinião, que tivesse tempo para pensar, ou dizer, alguma coisa. Olharam-se, olhos na alma do outro. Ela fez meio encolher de ombros, como alguém que não entende, que nem sabe o que está acontecer, de quem não está a acompanhar a velocidade do tempo, e da situação. Ele, ali à frente dela?? estaria doida? Como? Porquê? Ele respondeu com meio sorriso, passou-lhe a mão pelo cabelo molhado, agarrou-a pela nuca com firmeza e carinho ao mesmo tempo, naqueles gestos que confundem uma mulher, mesmo que não esteja já confundida de todo, ela reconheceu o toque e o peso das saudades daquelas mãos nela. Beijou-a, primeiro com meiguice, com ternura carregada de saudade, para logo depois a apertar contra si pela cintura, com avidez, com a força do desejo tanto tempo trancado. Atacou-a. Literalmente. E ela a ele, até a racionalidade a atacar de rompante, o fazer afastá-lo por momentos, e perguntar 
"o que raio estás aqui a fazer? Não tinhas ido embora? Há quase um ano? Não disseste que era isso que querias?? Que não podia ser? Que não sei o quê? O que queres afinal?" 
Ele puxa-a e responde munido de sorriso de miudo traquina, a sua melhor arma,
"dantes eras mais esperta... ainda não percebeste? quero-te..." 
" a mim? ao meu corpo? as tuas saudades não são de mim... nem olá, nem perguntar por mim nem coisa nenhuma!!"
Desencosta-se dela, cai-lhe um véu no rosto que o altera radicalmente, põe os olhos no chão, o sorriso some-se, e diz 
"tens razão desculpa, fui bruto se calhar, desculpa"
Calam-se os dois, e o silêncio ali não cai bem, não encaixa neles, como a distância não cabe entre eles.
"Oh meu grande parvo, isso é que são saudades? vontade? tu não sabes calar uma mulher quando ela começa a dizer disparates?? Já não há homens como antigamente, capazes de um bom encosto, e pronto... tótó!!"

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