Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 outubro 2012



Porque os outros se mascaram mas tu não

Porque os outros usam a virtude 
Para comprar o que não tem perdão. 
Porque os outros têm medo mas tu não. 
Porque os outros são os túmulos caiados

Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia Mello Breyner


[por isso vais sempre sofrer, pela verdade, com a verdade, pela falta de te calculares e aos outros, mas também com a mais pura verdade da tristeza e a mágoa e até a revolta...pudesse eu conseguir usar uma máscara e confundir-me no meio dos mascarados, mil vezes o escolheria, se o conseguisse escolher...só não seria eu, mas neste momento apetecia-me ser qualquer uma menos eu. Não vejo vantagem, só desvantagem, e muita]

2 comentários:

Anónimo disse...

tão eu este poema. Vou roubar...adorei!

Eva disse...

também o achei a minha cara, cm muita pena minha...
leva à vontade, a Sophia escreveu para toda a gente...
:)