Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

29 abril 2013


A lei do desejo
Fala-se muito em justiça, nos tribunais, na Constituição, mas poucos são os que falam da mais elementar das leis: a do desejo. Muito se diz sobre o amor, a paixão, o dinheiro, como se todos fossem uma espécie de equipa que antes de entrar em campo já venceu, mas poucos são os falam sobre esta lei – a do desejo – como se esta não estivesse prevista no código, como se não tivesse regulamentada, como se fosse omissa, tamanho é o embaraço e o incómodo que tantas vezes provoca. Mas não, não há lei que se lhe compare, porque em todas as outras há alíneas várias que adiam os processos e os arrastam pelos tribunais. Na lei do desejo, a arrastar, só se for pelo chão, pelas paredes, pela cama. Enquanto nas outras há letras pequeninas e asteriscos minorcas que safam os bandidos à luz de uma outra suposta interpretação e leitura, na do desejo não há nada a fazer, não há segundas interpretações, encolhe-se os ombros, abana-se a cabeça e começamos a desapertar os botões da camisa como quem se vai entregar à justiça, já com as mãos esticadas e juntas, à espera de algemas. Pobre gente, fala-se tanto da energia nuclear se como fosse a fonte energética mais poderosa do mundo e ainda ninguém percebeu que bastaria conseguir transformar em pó o desejo, para que as duas Coreias se pudessem matar convenientemente. Por isso, o desejo segue os princípios bíblicos e seguindo essa conduta é sempre culpado para que, no fundo, nos inocente. De tal modo que não é primeira vez que chegados a tribunal a juíza pergunta: Foi você que traiu a sua mulher? E outra alternativa não restará ao réu, se não responder-lhe: Não fui eu dr.a juíza, foi o desejo.

Fernando Alvim

[o desejo, o desejo... esse culpado que supostamente inocenta toda a gente que lhe é vítima...]

6 comentários:

B disse...

Uiii o desejo, o desejo...
Esse bem, ou mal dito.....

Eva disse...

Pois... tem dias em que é maldito, outros em que é muito bom... enfim... outros em que nem um nem outro - desapareceu em combate...

Anónimo disse...

...não fui eu, Dr. juiza, foi o desejo
bem sei que à face da lei tou lixado...
mas, sabe, a Eva abriu um precedente...portanto, tou...safo?

n.

Eva disse...

ahhh menina n. eu não abri precedente nenhum... foi o Alvim!!!
E realmente acho que o desejo só inocenta quando não é solteiro e está casado com o querer bem, com o gostar, com a ternura... se calhar com o amor no fundo. Desejo por desejo é tão animal como o instinto de defesa, ou de sobrevivência... é instinto, é forte, mas não inocenta, porque o seu fundo não é bom, a sua razão não é fundamentalmente boa, é apenas fruição, prazer, coisa ôca sem o resto...

Anónimo disse...

Minha doce, é no sentido bíblico que faço alusão à Eva. Era suposto ser uma piada, mas tá visto que não tenho jeito :(
e tou de acordo contigo, desejo pode ser avassalador, mas nao inocenta...

espero que passes amanhã um belíssimo feriado
Beijinhos

n.

Eva disse...

Oh minha querida n. a piada foi tão inteligente que o meu cérebro encalhado (juntamente com o resto da minha pessoa) não entendeu, não alcançou o teu sentido de humor sempre tão oportuno... Eva baralha-me sempre, uma vez que assim me baptizaram... daí a confusão!!
Bom feriado também para ti... eu espero passá-lo numa esplanada a conversar com amigas, e a ler, e a esquecer-me que o tempo passa quando não queremos, e que não passa quando queremos muito que passe...