Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

17 maio 2013


(...)
E logo ela é só flama, inteiramente.

Com um olhar põe fogo nos cabelos
e com a arte sutil dos tornozelos
incendeia também os seus vestidos
de onde, serpentes doidas, a rompê-los,
saltam os braços nus com estalidos.

Então, como se fosse um feixe aceso,
colhe o fogo num gesto de desprezo,
atira-o bruscamente no tablado
e o contempla. Ei-lo ao rés do chão, irado,
a sustentar ainda a chama viva.
Mas ela, do alto, num leve sorriso
de saudação, erguendo a fronte altiva,
pisa-o com seu pequeno pé preciso. 


Rainier Maria Rilke


[há quem dance Tango apenas a andar, há quem tenha salero no olhar, há quem saiba  rodar a baiana só quando a ocasião o exige. Tudo na vida tem um ritmo a que temos de responder, mas nunca sem o sentir - de dentro para fora. Só assim tem alma que se vê nos gestos mesmo calados, só assim mostramos alma, só assim temos alma. A minha anda apagada, muito apagada, tenho de voltar a pisar o chão com sal, olhar com chama, dançar cheia de Tango dentro. Falta-me qualquer coisa. Qualquer coisa que não é uma coisa...]

4 comentários:

Anónimo disse...

Acho que deveria colocar uma legenda no inicio do blog tipo "Não se aconselha a pessoas com problemas cardíacos" sim? e quem lhe disse que era muito intensa não se enganou um milímetro.

Eva disse...

ahahahah... naaaaaa
é da foto né?
ADORO a foto... Tango é assim, um dia ainda vou ver um espectáculo destes, de preferência num daqueles tascos obscuros, onde o ambiente é mesmo de faca e alguidar, ciúmes, paixão e... e... e...
(se nunca chegar a ver também não faz mal, posso imaginar bem a coisa, às vezes até a consigo sentir...)

Anónimo disse...

A parte dos cardíacos sim, o intensa nao. Tem mais a ver como sente e consegue descrever. Há uma pureza muito grande entre essas duas coisas o que a torna muito intensa

Eva disse...

A foto não mostra mais que uma perna. Nunca é o que se mostra é o que se vê e o que nos transmitem. Por isso gostei tanto da fotografia e ainda não tinha um texto bom para ela, até que hoje me deparei com este poema do Rilke, e é perfeito. Tem passagens perfeitas.
Quanto ao intensa, não sei o que é isso de ser intensa... sei que sinto as coisas, que as sinto muito, intensamente, não sei se é isso ser intensa, porque ninguém sabe como as sinto a não ser eu. E também sei que nunca consigo descrever como realmente as sinto, às vezes parece que querem sair todas ao mesmo tempo e não as consigo travar para se tornarem legíveis. É esquisito. Sou esquisita.