Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

01 fevereiro 2014


"Não é preciso mais desculpas. Há que encarar os factos. Chega o dia em que o amor acaba. Finito. The end. E essa sim, é a verdadeira razão para o término das relações. Não é por surgir alguém mais interessante, por irmos viver para outra cidade a km de distância, nem tão pouco por querermos estar sozinhos nesta nova etapa da vida. Todas estas desculpas que damos a nós próprios - estejamos nós em que papel estivermos na relação que agora finda - são apenas uma, ou várias, das muitas desculpas para a verdadeira realidade - a morte do amor. Talvez porque o amor seja um saldo que se esgote, talvez porque as relações necessitem de um esforço mútuo contínuo, talvez porque as pessoas por quem nos apaixonamos - ou a imagem que construímos delas - acabam um dia por morrer. E com elas, o amor. 
Não ocorre de um dia para o outro, não. Também ninguém se apaixona de um momento para o outro. O desejo sim, nem sempre; a mim excitam-me as pessoas inteligentes, por isso talvez goste de pessoas caladas. E com óculos, mas isso talvez seja por querer que me vejam melhor. Também o amor quando morre vai desfalecendo, um sufoco imperceptível, sou eu que não quero perceber os sinais - já não me olha nos olhos quando diz que me ama, agora já nem diz, o sexo tornou-se numa actividade mecânica, marcada pelo compasso do relógio à espera que algo aconteça como que por milagre, a cumplicidade deixa de existir nos pequenos gestos, há quanto tempo não me deixas escrito um bilhete dentro da minha pasta?
O amor morre. Não tenhamos medo, não arranjemos mais desculpas para o nosso fracasso, o excesso de trabalho, o nascimento dos filhos, a boazona do decote pronunciado, o colega carente e mal fodido.
Foram precisos... dez? dez anos para meter na cabeça que o amor acaba. Finalmente posso terminar aquele dia de Setembro (ou foi Agosto?) - talvez antes até, eu estava de manga curta, sem mangas, sem roupa, sem ti, o meu mundo tinha acabado e eu tinha tido o meu primeiro grande desgosto de amor. Hoje, volto a casa, a outra casa, nunca conhecerás esta casa. Deito-me na cama, sei que me deixaste de amar. Apago a luz e sei que já nada disso me importa."


Pergunto-me como se recuperam dez anos que se demoram a perceber o que não quisemos perceber logo, mas estava já percebido. Há tempo demais na constatação das coisas mais óbvias - aliás acho que, quando doem, quanto mais óbvias mais se demora, para tentar adiar o que na verdade já foi. Tentar ver um futuro  diferente no que já é passado. Só o recomeço se adia, mais nada.

3 comentários:

Anónimo disse...

Nao há volta a dar... não se recupera o tempo "perdido"; o que passou, adeus, não volta atrás...Mas no fundo, ganha-se: ficas mais lúcida e preparada para outro recomeço...e para decidir o que realmente queres da vida.
Mas tu sabes isso tudo muito bem... e eu só estou aqui neste blá blá porque te sinto muito deprimida, Evinha. Tens de reagir, amiga.
Um abraço graaande para ti!!!!

Da piscapisca

Unknown disse...

Não se recupera, segue-se em frente.

E nao há recomeços, só começos novos.

(e a semântica importa...) :)

Eva disse...

Se não se recupera recomeça-se sempre... só se começa de novo, no branco limpo, se apagares das tuas reacções o passado e desconfio que isso não se consegue e ainda bem, porque tu és sempre o que já aprendeste em todos os fins e em todos os recomeços, és a compilação do que a vida te fez, como a viste e como a passaste a ver. Nunca se começa completamente de novo, por muitas coisas novas que até encontres percorrendo o mesmíssimo caminho ou outro que estreies... e é isso que te faz.

Mas percebo (apesar de tudo isto) o que queres dizer, sim...

Eu só espero recuperar-me e depois disso gostar do que fiquei, no que me tornei, no que perdi de mim e o que ganhei perdendo-me.