Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

14 julho 2014

Sento-me no degrau da varanda enrolada na manta que ontem me enrolou, trago um Porto de que ontem bebi mais de três copos, acendo um cigarro e penso que perdi conta aos que ontem durante toda a noite acendi. Sento-me e penso que dizem que o tempo cura tudo, que volta a pôr tudo no lugar, e eu cada vez mais acho que o tempo não cura nada, e a pôr no lugar não é nunca no lugar antigo porque o que o tempo faz é mudar tudo de lugar. O lugar antigo, depois do tempo correr por ele, corre com ele, deixa de existir, porque uma coisa não fazemos, não podemos fazer, é apagar o tempo que passou, que nos mudou e que mudou tudo de sítio. E o tempo em cima do tempo que correu é corre traz-nos sempre à tona, faz-nos sempre emergir quando nós nos queremos submergir nos dias, na vida, em que não nos somos verdadeiramente. E fá-lo à força se o queremos contrariar, quanto mais o contrariarmos maior a violência com que nos força. O que o tempo também faz é ensinar, mas não é por ensinar que todos aprendem. Tanto não aprendem que tentam voltar a lugares que o tempo apagou em nós. Não há maneira de apagar o tempo, de parar o tempo, não há maneira de negar o que o tempo trouxe, só há aprender com tudo o que fizemos e nos mudou com o tempo. O tempo não cura nada e encontra-nos sempre. Só nos surpreendemos com isso quando não queremos aprender o que ele nos ensinou. E eu aqui pergunto-me o que é que ele me ensinou. O que eu sei. Sei-te. E tu?

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