Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

17 agosto 2014

"O amor feito de raciocínio tem realmente mais espírito do que o amor verdadeiro, mas é feito apenas de momentos de entusiasmo; conhece-se excessivamente, julga-se sem cessar, longe de desencaminhar o pensamento, é construído à força de pensamentos."

Stendhal, in Vermelho e Negro

5 comentários:

Filipa disse...

Grande definição;
"O amor feito de raciocínio..." nessa definição de Stendhal, é o tal dos plásticos...:)

Eva disse...

É, realmente é o tal que encaixa nas realidades plastificadas, mas chego à conclusão que a essas nada lhes chega, são impermeáveis, têm bom aspecto sempre, não se deterioram, só a a natureza não gosta delas... e algumas pessoas que gostam das coisas mais naturais, vá.
Mas, como diz Stendhal, é um amor com mais espírito, como tem bases lógicas e racionais deve ser mais consistente - ainda que deplorável e infeliz -, mantém-se, atravessa o tempo mesmo depois de morto, principalmente porque parece-me que é talvez o seu estado normal e até exigível: morto. As coisas com vida dão uma trabalheira (bom e as outras também... não deve ser por aí) e são muito arriscadas, nunca se sabe se o trabalho compensará, porque as coisas naturais, como as (e com) pessoas verdadeiras, são sempre algo imprevisíveis - nunca se ama o que se conhece, ou tem, completamente (é uma frase de alguém que li há uns tempos, e não me lembro quem, e é perfeita). Amar é um risco que nem todos estão dispostos a correr, o plástico é seguro, nem biodegradável é!! ;))

Eva disse...

...fui ver, foi uma frase que me ficou a moer uns tempos - a moer muito mesmo, cá por coisas -, mas como sempre não decoro nem exactamente como é dita, nem de quem é. Aqui fica:
"Só se ama o que não se possui completamente." Marcel Proust - ainda por cima um nome destes e eu nada... santa ignorância. ficam-me as ideias o resto apago. Memória de galinha. Mas acho que desta já não me esqueço ;))

Filipa disse...

É mesmo verdade Eva essa frase de Proust e fez-me lembrar outra frase que me ficou a moer a mim e que vem na contracapa de um livro que comprei agora e que vai ser a minha próxima leitura, "Todo o amor só o é se houver a possibilidade da sua impossibilidade". Há algum tempo li por aí, um comentário de um anónimo que nunca me saiu da cabeça, dizia ele, que o amor não era um sentimento, mas sim uma decisão, isto é o tal amor raciocínio em todo o seu esplendor,decide-se amar aquela pessoa da mesma forma que se decide que se vai comprar uma determinada coisa que nos é conveniente, provavelmente aquele anónimo nunca terá quaisquer dúvidas, nem há perturbações ou dificuldades que o façam vacilar diante da sua decisão, lá está é um amor cheio de espírito, com bases lógicas e racionais...pensei quando li isto e hoje e sempre, o amor com esta pessoa, vai, tendo em conta aquela base, durar para sempre e depois fico sempre com uma sensação de pena daquela pessoa e da que estará ao lado dele...mas isto sou eu que devo ter um parafuso a menos :)

Eva disse...

:))
essa frase é muito boa, mesmo, e resume o que dissemos: para ser amor há sempre incerteza, há risco, risco de perder ou risco de ser feliz; por isso também o ciume é sempre uma componente (sem entrar em exageros psicóticos, mas os ciumes naturais de quem gosta), porque traduz o medo de perder, o medo que a pessoa que amamos possa encontrar noutras pessoas coisas que não temos e goste, medo que alguém possa ver naquela criatura que amamos o mesmo que nós vemos.... e nunca ninguém que ame acha que o outro está seguro, isso faz parte dessas coisas do raciocínio, das coisas certas, sabidas, medidas, contratadas e, basicamente, acabadas. As relações pessoais e, como tal, emocionais nunca são assim, são dinâmicas e, sim, dão trabalho e chatice, porque nem tudo são rosas, mas quando se gosta e a alternativa é ficar sem quem se ama, sempre se encontra solução, porque deixarmos de amar não é alternativa.

Quanto a esse anónimo, que já não lê o que aqui no tasco se escreve, e por isso já não nos lê aqui, lá terá as decisões dele e eu não tenho pena nenhuma dele e ainda menos de quem ele tiver ao lado. Se decidiu é porque decidiu bem, e se assim é, é porque está bem, sente que assim é que está certo e se sente bem.
Nem todos nascemos para arriscar fora do plástico. Eu não quereria que pesassem, medissem, raciocinassem e decidissem que era melhor ficar comigo, queria que sentissem que não há alternativa a ficar sem mim. Não é ser melhor ou pior, era ser a única coisa que podia ser. Que tinha de ser, desse por onde desse. Só isto.
Decidir é só reconhecer o que temos dentro e dar-lhe voz, nada mais.