Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

25 agosto 2014

"- O problema é que estou farta do meu marido, senhor Budiño.
- Talvez esteja deprimida esta noite, senhora Ransom.
- Chame-me Mary, Ramon.
- Como é que sabe que me chamo assim?
- Está no folheto da agência.
- Você está deprimida esta noite, Mary. Isso acontece a muitas pessoas com o triste Carnaval. Deprimem-se.
- Não estou deprimida. Estou enfastiada do meu marido. Nada mais, é muito simples. 
- Só esta noite ou sempre?
- É sempre, mas especialmente esta noite. 
- E porque não se separa?
- Digamos que por preguiça. 
- É um bom motivo.
- É, não é? Fez-me rir, Ramon, e eu não me rio facilmente.
- No entanto, fica muito bem quando se ri.
- O seu escritório fica muito longe?
- Chegámos, senhora."

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[... E eu que sou tão, mas tão preguiçosa, não tenho destas preguiças. E destas facilidades, desta rapidez de arranjar um entretém. No entanto ao menos é capaz de ser mais sincera a resposta, é escusado complicar ou vestir a verdade de outras roupagens. Prefiro a sinceridade, mesmo que estúpida.]

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