Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

13 setembro 2014

"Não era possível que desejasse mesmo a morte dela depois de a ter amado tão desesperadamente. Agora que ela sabia o que era o amor, recordava mil sinais de adoração que ele tinha por ela. Para ele, como na expressão francesa, ela comandava a chuva e o bom tempo. Era impossível que já não a amasse. Será que se deixa de amar um pessoa só porque se foi tratado de forma cruel?
(...)
A princípio pensava que tinha apenas de dar tempo ao tempo e que, mais cedo ou mais tarde, Walter lhe perdoaria. Confiara demais no poder que sobre ele exercia para acreditar que pudesse ter acabado para sempre. Nem todas as águas conseguiriam extinguir o fogo do amor. Ele seria fraco se a amasse e ela sentia que ele deveria amá-la. Mas agora já não tinha tanta certeza."

Somerset Maugham, in Véu Pintado

[...pois realmente acho que não há água que apague o fogo do amor, mas o que dá essa temperatura invencível ao amor é a consciência dele e a sua reciprocidade. É amar, saber que se ama realmente e muito (se é que pode haver isso de amar pouco, como se amar fosse relativo, quando afinal é um verbo tão absoluto... Mas a consciência desse absoluto é talvez isso que tento dizer aqui: a consciência dá até outra dimensão a essa ausência de relatividade, de mais ou menos, de talvez, de alternativa) e sentirmo-nos amados. E aqui digo sentirmo-nos e não sermos. Porque a realidade não é absoluta mas relativa a cada um. Se me sinto amada, na minha realidade sou amada. E se amo também o amor é pleno e forte e nenhuma água apaga esse fogo, como toda a escuridão do mundo não apaga a luz duma pequena vela (já aprendi esta...). Quando não há reciprocidade, ou quando ela não é a nossa realidade por não ser sentida, não há o poder que o amor exerce nas pessoas, e que tanta gente confunde como o poder de uma pessoa sobre a outra. Não, não é a pessoa, não é o outro, é o amor que se sente, é o que o outro nos faz sentir que nos deixa reféns, e que nos prende e tem poder sobre nós. Porque sim, o amor é egoísta, existe apenas para nos fazer sentir bem e plenos e felizes. A única particularidade do amor é fazer-nos sentir bem e plenos e felizes, através do outro, dele se sentir bem, pleno e feliz. É uma coisa egoísta que  nunca se consegue sozinho, e que  passa pelo bem estar de outro, como uma espécie de corpo condutor da nossa felicidade. Eu acho isto e penso isto assim, mas acho que ninguém entende isto. Ou muito poucos. Acham que alguém amá-los lhes dá poder sobre eles, e se não amam acho que chegam a "endeusar-se". Se amam, normalmente não percebem como são correspondidos, porque tornam o outro uma espécie de deus torto, de carne e osso, e defeitos vários, mas a quem dedicamos todas as preces não religiosas, como as atenções, os sorrisos, os beijos pequeninos e grandes, os carinhos, e as coisas que fazem a vida valer a pena. ]

Sem comentários: