Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

06 setembro 2014



"Toda a gente me dizia que já não existia, mas eu decidi procurar, fazer um avistamento de algo que fosse realmente uma questão de fé, que me mudasse para sempre. Foi essa impossibilidade que me excitou. Quase tudo o que nos dizem que não conseguiremos alcançar, que não conseguiremos ter, que não existe, afinal só o próprio medo nega.
(...)
(...)perdermos o desejo de pureza é a maior perda de todas; perdemos a existência da própria alma humana. É essa busca que nos torna humanos. Só o medo nos impede de viver vidas apaixonadas.
(...)
Esse é o primeiro grande passo, fundamental, para que uma pessoa acorde na sua própria vida: tirar-lhe totalmente a esperança. É uma pessoa acordar diante do abismo. E, como diz Nietzsche, quando se olha para dentro do abismo, o abismo olha para dentro de nós. E nessa contemplação damo-nos conta da dimensão universal da miséria e do sofrimento em que estamos metidos. E talvez isso nos dê a vontade, a energia, a força e o entusiasmo para querermos dar o salto em direcção ao desconhecido, em direcção a algo que não é comprável, não existe nas lojas, não dá para ver pela Internet e é uma descoberta própria de cada um. A esperança tem de ser a primeira coisa a morrer na nossa vida.
(...)
Queria um indivíduo que sai de outro mundo e, de repente, é confrontado com uma estranheza tal que não consegue resistir. O facto de ser mais velho, de não ser lusófono, de ser verdadeiramente estrangeiro permite-lhe contrastar, exaltar-se, sofrer tremendamente com coisas que diríamos normais. E não são nada – muitas das coisas que estamos a viver tornaram-se normais, mas não são nada naturais. Quando uma pessoa acorda de uma coisa assim, já não há espaço, nem tempo para mais palhaçadas. Não há amanhã."

...sacado desta entrevista com alguém que eu não conhecia... mas o título, por ser algo que penso há muito e volta e meia me remói os pensamentos, fez-me ir ler. E a entrevista vale a pena ser lida.

[Tenho pena de não me lembrar melhor dos livros que leio, realmente a minha memória de galinha dá nisto, já li aquele livro do Conrad, sei que gostei, que gostei muito, que é um livro forte e duro, mas só tenho uma ideia vaga da história e tive de ri rever quem era aquele personagem (para estas revisões este blog é coisa boa, é é...)]

8 comentários:

Filipa disse...

A entrevista vale a pena ser lida e o Miguel Gullander vale a pena ser visto :) fora de brincadeiras, a primeira vez que soube da existência desse Senhor foi por acaso num programa que estava a dar na RTP 2 chamado Mar de Letras, prendeu-me a atenção, tranquilo, cheio de mundo, conversa muito agradável, gostei.

Eva disse...

:)
..eu não o conhecia, mas gostei muito de ler a entrevista e fiquei curiosa do livro, isso fiquei. A ignorância duma pessoa é demasiado grande... estamos sempre a descobrir que é um bocadinho maior do que suspeitávamos...

Anónimo disse...

O abismo é profundo especialmente para quem tem falta de vista mas esta lá e a queda ai é longa e demorada mas ja nao se consegue voltar ao cimo. Acabou ponto.

Eva disse...

Não é cair no abismo, é deixar o abismo caie em nós, e dentro dele dar-lhe a volta, a volta que se quer dar. O abismo é o medo suponho, é o desconhecido.

Mary Poppins disse...

"A esperança tem de ser a primeira coisa a morrer na nossa vida."

Frase perfeita
Enquanto há esperança há sempre um motivo maior, esse. A esperança é sempre o maior dos motivos para tudo. Porque revela uma crença no que pode vir.
Sim...a esperança tem de ser a primeira coisa a morrer, para não ficarmos presos a algo.

Eva disse...

Sim, é exactamente isso. A esperança pode ser a maior mentira que podemos perseguir a vida toda, o maior engano, no fundo. Desde a adolescência que este pensamento me persegue, a esperança deve ser a primeira a morrer contrariamente ao clichê, porque nos impede de ver a verdade crua e é nessa que temos de viver. Lembro-me de começar a pensar isto quando percebi wue há coisas que não têm cura, coisas que não mudarão muito. Há que saber viver sem esperança, a esperança é só uma expectativa com um nome mais terno, uma fé menos religiosa.

Mary Poppins disse...

A esperança é uma expectativa que pode durar uma vida. Enche tudo quando existe. Consome. Preenche. Domina. Quando se vai...fica um vazio tão dificil de lidar... somos mais felizes quando temos esperança, essa é a verdade. Nem que seja uma felicidade ilusória, nunca vivida. Sem ela, parece que nos falta tudo, a começar por objectivos, por propósitos. Ir para quê? Falar para quê? Amar para quê?...é triste. Muito triste viver sem esperança..

Eva disse...

O vazio que fica quando a esperança morre é o vazio da mentira, do engano, fica a realidade, a verdade. E não é fácil quando se perde a esperança, por isso o melhor é talvez nunca a ganhar. Aprender a lidar com a realidade, ou prelo menos como vemos a realidade, porque cada um vê a sua... E amar para quê?... amar não tem para quê, nem por quê, ama-se e pronto é quase - ou é mesmo - uma fatalidade. Fatalidade maior é quando tem de haver esperança em nos amarem também... aí é mais complicado, ter esperança que um dia nos amem, ou esperança de ser amados sem o sentir como uma realidade (ainda que às vezes se sinta como realidade e não seja, porque, lá está, há uma para cada cabeça, é como as sentenças...). O melhor é não ter esperança, aliás daqui a pouco vou aqui pôr um trecho do livro que estou a ler que descreve precisamente isto, o amar sem ser amado, mas assumir isso sem esperança de mudança: é uma opção. De infelicidade quanto a mim, mas opção, ainda que a melhor parte do amar seja isso mesmo - amar, mais do que ser amado, mas amar e não ser amado e sentir-se isso, é algo que não sei se será realmente amor... mas isto dava aqui conversa para horas...
;))