Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

02 outubro 2014

- (...) acho que temos os dias contados...
- Os dias contados? porquê? Não me contas nada pahhh. Que se passa?
- Diferenças no sentir. No mostrar. Onde estamos quites é no querer.
- E então? Isso é normal as pessoas não são iguais....têm de acertar agulhas.
- É isso que estamos a tentar, mas é complicado. E dói. Ela esfria-me muito...
- Porquê? Achas que ela não mostra?
- Sim, sou eu que quero mais. Sou eu que tenho pressa. Sou eu que estou apaixonado... ela não mostra como eu...
- Mas mostra, só tem mais medo, não?
- Para ela somos uma "cena" calma. Tranquila. E ela é tudo menos tranquilidade para mim...
- eheheheh... que giro, miudo! Tu és paixão ela é amor. Queres melhor? É juntar isso!!
-... quero. Quero melhor. Sinto-me a morrer!!... aos poucos. Devagar. Com dor. Com tudo. Sem sono. É drama, mesmo...
- Porque ela não ferve como tu?
- Não. Não vejo. Não sinto. Sou o porto seguro dela. Com orgasmos. É isso.
- Mas isso é bom, não?
- É?
- Talvez ela seja do tipo calmo e tranquilo. Queira um porto seguro para amar e ser amada. O porto seguro é carinho é compreensão é ternura é apoio: é amor. Quem me dera ter esse conforto de ter com quem partilhar um lugar tranquilo no porto... e sim depois com paixão, com pele, com orgasmos partilhados. Vocês estão a velocidades diferentes é esse o problema. Tu vais chegar onde ela está, onde há mais tranquilidade, acho eu. Ela é que nunca chegará à tua asfixia, a asfixia que te faz sentir completamente cada respiração.
- E sei viver assim?
- Se os dois quiserem muito arranjam maneira de se encontrarem a meio, porque a alternativa de perder o outro, de perder a respiração, não é alternativa, não se concebe sequer. Se se conceber não é realmente forte...

(...)

- Falaram? Ontem fiquei preocupada contigo...
- Falei... disseste-me tudo.. acredita...
- Tudo? como? Expliquei-te como vejo esta coisa de gostar realmente de alguém...
- Fizeste-me ver as coisas de uma maneira que não conseguia.
- Como? Explica lá... Não te disse nada que não soubesses, pois não?
- Disseste....Eu achava que ser porto seguro era redutor de tudo o que sinto.Eu sentia que ela não merecia tudo o que sentia por ela.Que ela gostava menos, ou que não gostava de todo, e senti-me espalmado, asfixiado, encolhido com tudo o que sentia.. Sentia-me uma botija de gás com fogo a aproximar-se...eu ia explodir, mais cedo ou mais tarde. E algures tu dizes-me: "Tu és paixão. Ela é amor"

(conversa de ontem acabada, ou continuada, hoje com um miúdo que adora deixar conversas a meio e às vezes desaparecer... mas com quem gosto de conversar e das ideias, mesmo que um bocadinho bruto, às vezes... é um bom miúdo)

[as pessoas são diferentes, gostam de maneira diferente, mostram de maneiras diversas. O importante é gostarem e saberem que gostam e o quanto gostam, o quanto não querem a alternativa: a de ficarem sem a pessoa de quem gostam, aquela pessoa que torna os dias em alguns minutos que valeriam anos, que nos fazem depois, longe, sorrir sozinhos, e que nos fazem sempre sentir bem. O importante é que independentemente de como se gosta e se mostra é que os dois se sintam bem a mostrar e se sintam bem com a forma como o outro mostra. Às vezes é preciso sairmos dos nossos sapatos para entendermos o outro e as suas formas diferentes de mostrar, outras vezes as pessoas mostram de formas idênticas, o que interessa é que se goste de como somos gostados e como gostamos. Ambos têm de amar o amor que têm além de amar o outro.
Mas nem todos estamos nas mesmas fases, nem todos temos os mesmos ritmos... há pessoas que por serem muito atraentes valorizam muito mais o sentirem-se bem com alguém, o carinho, o mimo, a ternura, a amizade, a tranquilidade dum porto seguro que sabemos que nos quer bem pelo que somos, não pelo que todos vêem. Como se o privilégio deste porto seguro ser para cegos que só nos vêem pela alma, que nos sentem, e não os que passam por nós na rua e que os olhos sadios fazem rodar cabeças. E esse privilégio entrega-se quando há confiança, quando nos entregamos a alguém mais de alma que de corpo - tão mais de alma que de corpo... Quando todos nos valorizam o corpo, nós valorizamos quem nos valoriza a alma. Acho que é o que se passa com esta mulher.
E eu fiquei a pensar nisto, porque comigo foi o contrário. Precisamente o contrário. Sempre me disseram inteligente, perspicaz, amiga, boa para conversar, melhor ainda para ouvir. Isso para mim era o normal, reconhecido por várias e variadas pessoas ao longo da vida. Agora alguém que me fizesse sentir desejada, alguém que me fizesse acreditar que valia umas torcidas de pescoço na rua (nisso nunca acreditei, mas bastava-me acreditar que isso aconteceria em casa ou por quem eu realmente quisesse e me quisesse, e isso sim aconteceu), alguém que gostasse do meu corpo e mo fizesse sentir, dentro e fora dele, alguém que gostasse da maneira como me mexo, como me rio, da minha gargalhada, das brincadeiras parvas de mulher que só se tem com o nosso homem, no fundo da mulher que há em mim para além da pessoa. Isso surpreendeu-me, enganada ou não - que diferença faz? se se sente assim para nós é assim... -, e talvez isso me tenho feito encontrar-me completa, e sentir-me bem com quem sou, com o que sou, sentir que alguém me quer e deseja se me olha, que me olha e o desejo vê-se nos olhos e sente-se na ponta dos dedos, na boca, na pele que pede a minha. Alguém que me faça inteira e completa. E foi isto, fiquei a pensar nisto... eu acho que me sentiria bem na tranquilidade dum porto seguro que de vez quando se aventura mar adentro, às vezes revolto, às vezes frio, às vezes profundo, mas sempre verdadeiro, genuíno, e que sabe poder voltar à paz dessa tranquilidade, talvez só assim se possam aproveitar todas as viagens.

2 comentários:

do Paço disse...

enho as minhas dúvidas, naturalmente! :P

Não entendi um detalhe no (parêntesis) do meio a que se refere o "às vezes"!
Às vezes gostas das ideias do miúdo para conversar ou às vezes é um bom miúdo?

O miúdo fez isso que dizes. Conheceu-a de olhos fechados sem olhar o corpo. Viu o que ela ainda nem tinha visto. Viu algumas feridas d'alma e tratou-as. Foi-se chegando devagar para não assustar.

O miúdo curou-lhe feridas. Quem cura as dele?

Tu: és mais que o que vês. mil vezes mais que o que vês. poderás ter complexos, inseguranças e desconfianças sobre ti mesma. toda a gente as tem. as tuas são só um pedaço mais profundas. urge alguém te que trate das feridas d'alma. (e não que as crie!). que cuide de ti. que te dê o mimo, as palavras, a compreensão e o amor que uma mulher-avião como tu precisa. depois, claro, que fale a mesma língua que tu! (foi a minha grande conclusão de ontem).

o meu repto final mantém-se: não te percas no escuro. quando brilhas, brilhas mais que o «normal» das pessoas.
brilha, Eva. brilha.

Eva disse...

:)
o às vezes, miudo, era relativamente ao ser bruto, era isso... de resto acho que é sempre bom miudo mesmo quando deixa conversas a meio e pessoas penduradas mesmo por vários dias :P

"O miúdo curou-lhe feridas. Quem cura as dele?" - entendo-te tão bem... e sabes quando é que se faz esta pergunta? quando não nos sentimos amados, porque quando nos sentimos amados curar as feridas de quem nos ama cura as nossas, garanto-te. Agora se não nos sentimos amados, sentimo-nos usados e sentimos as feridas cada vez mais fundas. Como te disse e concluí ontem, tu não sentes que és amado, quando isso estiver bem e esclarecido em ti, quando o sentires tudo o resto se resolve, quando tu sentires isso, encontraram uma língua que ambos falam. Porque tu sentes-te gostado e bem e ela também. Falar a mesma língua é ser da mesma espécie, é pertencer a um mundo próprio.

E quanto a mim, eu só queria mesmo ser normal, ou melho,r mesmo que não fosse, só queria sentir-me normal, e sentir de maneira normal. Não quero brilhar, quero não sofrer. Só isso. Tens razão preciso de mimo, compreensão e amor. Uma pessoa normal já o teria ou acharia que tinha, ou arranjava depressa, eu sou lenta em tudo, em deixar de amar e em entregar-me, mas quando o faço entrego-me completa a esse abismo. É uma queda e uma ascensão. Não sou normal. Infelizmente.