Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

17 novembro 2014




"Já dizia Clarice: A vida não é de se brincar porque um belo dia se morre. E concordo com o velho Buk, se parássemos para pensar nisso, quem sabe podíamos amenizar um pouco dessa agonia toda? Todo momento de nossaodia é uma escolha, e como disse o Jô Soares em entrevista recente: Escolher é perder sempre. Mas cabe a nós decidirmos o que vale a pena perder, já que não temos todo o tempo do mundo. Que diabos, nem ao menos sabemos quanto tempo nos resta!

Se cada escolha significa uma renúncia, não está em tempo de pensarmos melhor sobre nossas perdas? Em pensar menos no volume, na quantidade, e mais na qualidade daquilo que estamos escolhendo? Vários colegas ou um bom amigo? Várias risadas forçadas em uma festa ou uma noite com risadas sinceras de doer a barriga? Muitas transas vazias ou poucas transas com possibilidades do aconchego do depois? Que tal menos ‘doer’ e mais ‘doar’?

Não estou dizendo que devemos deixar de fazer outras coisas triviais. Não devemos ser sérios sempre, nem filosóficos sempre, nem ser altruísta sempre – mas aprendi que a vida nos da dois caminhos de aprendizagem: o da dor e o do amor. E enquanto eu puder escolher, fico com o segundo, ainda que pareça que ele dói às vezes, o caminho do amor é sempre a melhor opção. E já que não temos escolha sobre a morte, que ao menos a gente possa escolher as possibilidades que deixam a vida mais leve. Daqui a gente não leva muita coisa mesmo."

Apanhado aqui.

[Tema já recorrente aqui no tasco... as escolhas, o cada sim ter o seu não equivalente, o cada não ser um outro sim noutro sentido. No fundo o que diz Jô Soares: "escolher é perder sempre." É isso, para escolher o que queremos ter, o que queremos agarrar e viver, temos de escolher o que perder, a alternativa de que abdicamos. Ver o que mais valorizamos, o que mais nos poderá fazer felizes. Que felicidade escolhemos, afinal. Mas é sempre uma escolha, sempre. Escolham bem. Nunca se sabe quanto tempo temos para corrigir os erros que poderíamos não ter feito. O mundo gira, às vezes até pode girar na nossa mão, ou parecer, mas não volta atrás, nem pára de girar.]

2 comentários:

Filipa disse...

Essa frase "escolher é perder sempre" disse-a o Jô Soares em jeito de homenagem ao filho que morreu com 50 anos e era autista. Uma vez numa loja, entre uma série de coisas que o filho queria levar, e tendo o Jô dito para ele escolher, o filho disse que então não queria nada e quando o pai lhe perguntou porquê, ele respondeu "porque escolher é perder sempre". Ele recusou-se a escolher porque tudo aquilo para ele era importante. A vida obriga-nos a escolher, e é por isso, que perdemos sempre, de facto, e é impossível saber se o que escolhemos foi o melhor ou o que nos faz mais feliz, até porque o que nos faz mais feliz no momento em que escolhemos, pode deixar de fazer mais à frente, é por estas e por outras que a vida é um desafio, e eu confesso que se pudesse, fazia como o filho do Jô, e muitas vezes recusava-me a escolher.

Eva disse...

Olá Filipa. :)
Não sabia do resto da história, mas a verdade é que escolher é perder sempre. E não escolher é uma escolha :))))
Essa é que é essa, não escolher é escolher não alterar nada. É uma escolha, e por isso é sempre - também - perder.