Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

23 dezembro 2014


Uma pessoa tenta, tenta acreditar naquela coisa do pensa positivo, do bom atrai o bom, aquilo a que eu chamo treta de optimistas, o não querer ver a realidade e substitui-la por uma coisa mais bonitinha e menos amarga, e quando tenta fazer isso percebe que era melhor, muito melhor, a racionalidade dos pessimistas, em que se espera o pior, preparamo-nos para o pior, e talvez a vida não nos consiga arranjar pior que isso, e então lidamos com o que contamos, se tivermos um bocadinho de sorte, com melhor do que o que contávamos. São menos desilusões, menos baldes de realidade amarga pela goela abaixo. Mas eu caí nesse erro, de esperar o melhor, de achar que a vida me daria uma trégua, que me deixaria respirar e restabelecer, que me deixaria voltar a abrir um sorriso sentido antes de me pôr a chorar outra vez, antes de me fazer desabar de novo. E no meio de lágrimas, choradas e por chorar, vem-me à ideia uma frase, completamente fora de contexto, completamente fora do tema que as lágrimas choram, mas de longe a frase sussurra-me perto "se é para tentar tudo, tem de ser tudo, tenho de fazer tudo." É  então que percebo que a vida não é só cruel e péssima de timings, é abusadora e de mau carácter, trai e pisa quem já está no chão, lembra-nos o que queremos esquecer em alturas que só nos apetece fugir. Fugir do sítio para onde vou agora, tenho de ir, é minha obrigação. E só queria um peito onde encostar a cabeça, e uma cabeça para encostar ao meu peito, e esquecer-me que existe vida, cruel, amarga ou o que for, esquecer apenas. Como quem deixa de existir.

2 comentários:

Filipa disse...

Bom dia Eva!
Este comentário não tem nada a ver com o post, este comentário é para lhe desejar um feliz Natal, não porque é costume desejar-se um feliz Natal, não porque é uma formalidade, mas porque, para mim, Natal é partilha, é toque, principalmente emocional e a Eva toca-me com a sua escrita, através da qual tem a generosidade de se partilhar connosco, de partilhar, também, pedaços de tão boa escrita de outros, que podemos ler, neste cantinho escuro mas acolhedor, onde nos sentimos sempre bem.
Muito obrigada, Eva, por esta partilha e é por tudo isto, que, daqui, se ficou com muita vontade de enviar para aí, os votos de um feliz Natal.

Eva disse...

Olá, Filipa! Tão bom ler estas palavras... Agradeço e posso dizer que me fizeram muito bem nesta altura tão complicada, hoje especialmente. Talvez seja este o verdadeiro espírito de Natal, fazer chegar calor mesmo à quem não se conhece, ou melhor, conhece por dentro das palavras que nos saem. Espero que a Filipa tenha um óptimo Natal, cheio das coisas boas da vida, de afectos, de sorrisos de boas gargalhadas partilhadas num ambiente doce :)
Um grande beijinho, Feliz Natal e obrigada :)