Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

23 janeiro 2015

Fui agora, por acaso, até aos posts de final de Junho de 2012 e é incrível... Tudo. Eu lembrar-me da cena que deu origem a certo post, que acabava com alguém a dizer "tenho de me ir embora daqui", como aliás depois está escarrapachado nos comentários ao post. Lembro-me até exactamente do toque no braço com a ponta dos dedos que me fez voltar a lembrar que o manto que tenho em cima do esqueleto é pele, e que a pele sente. É suposto sentir. Lembro-me de ouvir que tinhas de ir embora dali, lembro-me que não te disse para não ires, como nunca to disse, como nunca pedi para ficares. Há coisas que não se pedem porque não devem ser feitas para fazer a vontade a alguém, têm de ser vontade, sim, mas apenas do próprio, não são próprias para se fazerem concedendo, ou cedendo a pedidos de ninguém. Leio, e lembro-me das brincadeiras, de como tudo se tornava uma brincadeira em que acabávamos a rirmo-nos juntos, e tantas vezes agarrados, colados, nariz com nariz, respiração a passo, silêncio a par. Lembro-me dos nossos nomes parvos, de te chamar tanto mula sem cabeça como coisa boa, e de tu me chamares biscoito. Lembro-me de passares no café onde tínhamos ido tomar café num domingo à  tarde, de te ver à  distância passar de carro, quando uns dias antes estavas sentado comigo na mesa, com um café à frente e muita conversa no meio. Depois apanhámos a estrada impedida, um cortejo ou uma procissão, disso não me lembro, e fomos um atrás do outro a mandar mensagens enquanto os carros não podiam andar.  Lembro-me de me falares dessa tarde muitas vezes, de me dizeres que tinhas gostado tanto...Lembro-me de me adorares, e não sei como isso é possível, como poderá ser possível lembrar-me disso, que nunca foi... Lembro-me de tudo. Como? Ainda sei as tuas mãos de cor. Porquê? Ainda sinto o calor dos nossos beijos. Para quê? 

Sem comentários: