Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

06 janeiro 2015


“Irreconhecível

Me procuro lenta

Nos teus escuros.

Como te chamas, breu?

Tempo.”

Hilda Hilst 

[O tempo vive no passado, só coube tempo no que foi, no que sabemos ter sido. Amanhã não sabemos se há tempo para caber o que ainda não foi. Para a frente a escuridão come-nos o olhar. O depois não se sabe, não se vê, não se adivinha. O futuro não é uma tela em branco, é uma tela em negro. Ausência de luz, ausência de cor. Para se ver branco tem de haver luz, tem de se ver - a escuridão é não ver, não saber. E só sabemos do tempo que foi nosso. Do que foi, do que fomos, do quanto fomos o que somos - do que agora sabemos poder ser. 
Amanhã é escuridão, a única luz é a memória. A memória somos nós. Escureçam-me esta luz, apaguem-na, para eu não saber do tempo em que, inteira, me perdi do medo do escuro. 
Só depois da luz se teme a escuridão.]

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