Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

14 fevereiro 2015

"Ainda assim, em casa dos seus pais havia uma situação pouco comum para a época: a sua mãe tinha uma profissão. Melhor, uma carreira. A atriz e cantora Maria Clara não era a típica dona de casa, numa altura em que isso era a norma. Como é que o seu pai via isso?

- O meu pai tinha um ouvido catastrófico, como o meu, mas tinha um orgulho extraordinário nela. Tinha 40 anos quando casou com a minha mãe, 14 anos mais nova. E conquistar a atriz de sucesso terá sido, para ele, um feito. Ele tinha fama de pinga-amor, mas foi por ela que se apaixonou perdidamente. Durante anos e anos, quando a minha mãe chegava dos espetáculos em Lisboa, o meu pai esperava-a com um enorme ramo de flores. Apesar de a minha mãe não gostar particularmente de flores. Mas ele não sabia e ela não queria dizer-lhe. O meu pai, como de costume, depois ia para os livros e a minha mãe perguntava-me: «E agora, o que é que eu faço a isto?» "


Ouvia muitas vezes um dos programas de rádio deste senhor, apanhava ao final da tarde e muitas vezes aconteceu, depois, não ser capaz de sair do carro antes de o programa acabar. Lembro-me de num programa o ouvir confessar que tinha tido a sorte de ser um filho que chegava a ter ciúmes do amor que os pais tinham um pelo outro, ao ponto de, mesmo sendo filho, às vezes se sentir um pouco a mais, um pouco intruso, daquele amor. Eu achei delicioso, e secretamente desejei que os meus filhos o pudessem também vir a dizer. Principalmente porque o amor, como modo de vida, é  também um exemplo. Um exemplo de como deve ser, ou deveria ser, um mundo muito próprio, uma união muito cúmplice, cosido com respeito, bordado com linhas de ternura e carinho. Para que não se dê o exemplo de que qualquer coisa serve para chamar de amor, que qualquer coisa chega para alimentar a vida.

Sem comentários: