Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

21 março 2015


Hoje, em diferentes momentos do dia, a memória rasgou-me os pensamentos uteis de quem quer esquecer o que mais ninguém lembra. De manhã lembrei-me, sem descortinar o porquê, dos pequenos grandes terramotos que me vinham morrer nos braços e que tremem agora longe da minha pele. Já não os sei, perderam-se no tempo das memórias que quero desbotadas e enterradas por me incendiarem a raiva que dói por dentro - raiva de mim mesma, misturada com mágoa que retorce as entranhas. Depois, ao fim do dia, ao olhar para as minhas próprias mãos a navegar desertos de afecto, quase consegui ouvir outra vez quando me disseram que a maneira como toco seria bastante para me reconhecer, às escuras ou de olhos fechados. Sem me verem, viam-me nas pontas dos meus dedos. Agora, mesmo que me vissem, nada lhes toca o olhar que sente de olhos fechados e às escuras. Nada lhes treme. Por mim. A mim, mesmo às escuras nada me aquieta este olhar que os olhos tentam fechar.

Boa noite

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