Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

10 setembro 2015

(foto @_mylight_ )
(..)
Mas o pior momento do dia é aquele em que nos separamos. 

Não consigo dormir.

Fico noite fora com a minha solidão - e quem esteve a ver-me parte com o susto de continuar a existir.

Nenhum de nós é capaz de murmurar: fica comigo e toca-me. E a noite cai, de certeza, mais escura para quem parte.

Eu sou apenas a imagem do que fui. Não sinto nada.
(...)

Al Berto, "O Esconderijo do Homem Triste"

[são assombrosas as coisas deste homem, desconcertantes, quase letais de doçura, e, no entanto, duma tristeza tão densa, duma solidão tão lancinante... E a separação, sempre a separação. Ser preciso haver uma separação para haver solidão, é saber-se não estar só, é saber o exacto peso da solidão por conhecer a exacta medida da leveza do seu contrário, que é, não apenas companhia, mas partilha. Quando isso se perde parece que não resta nada, porque não havendo com quem deixa de haver o que partilhar. Tudo se esvai a cada noite, a cada manhã, a cada dia que não se conta, que não conta, mas que se vão somando de existência, de sobrevivência... 
Leio isto e penso que ouvimos sempre que a noite cai, mas não, a noite levanta-se, afirma-se, emproa-se, ensopa-nos, para que nos deixemos cair no vazio até ao amanhecer seguinte. Em tudo. 
Nem sempre parece que vai voltar a amanhecer.]

2 comentários:

Prova(me) disse...

O problema é quando as pessoas partem de algo onde nunca estiveram! Aí sim, é que a nossa alma fica de rastos, porque, de um momento para o outro, apercebe-se que as lutas, os murros que deu em pontas de faca para estar sempre presente, afinal de contas, só existiu de uma parte! E pergunta-se a ela mesma - como me posso despedir de algo que nunca esteve presente?

bfs

ps: mas sim, custa muito, deixa-nos sem ar, sem saber o que fazer, pensar dizer...um vazio que nada completa!

Eva disse...

Olá,
Sempre que perdemos alguém que achamos que queremos sente-se esse vazio, mas quando percebemos que já antes estávamos sozinhos descobrimos que aquele vazio já existia, sempre estivemos sozinhos, só não sabiamos e por isso passámos o nosso precioso tempo a dar murros em pontas de facas... E é aí que acho que tomamos consciência que para estar sozinho então mais vale não ter ninguém a fazer de conta de está ao nosso lado. É - de longe - melhor estar sozinho e ter esperança e a possibilidade de encontrar alguém que mereça a nossa companhia, alguém que de facto esteja connosco, seja presente... porque menos que isso ninguém merece, embora haja quem se contente... É aí, bom aí talvez mereçam, não sei.
Bom fim de semana