Está hoje um dia de vento e eu gosto do vento
O vento tem entrado nos meus versos de todas as maneiras e
só entram nos meus versos as coisas de que gosto
O vento das árvores o vento dos cabelos
o vento do inverno o vento do verão
O vento é o melhor veículo que conheço
Só ele traz o perfume das flores só ele traz
a música que jaz à beira-mar em Agosto
Mas só hoje soube o verdadeiro valor do vento
O vento actualmente vale oitenta escudos
Partiu-se o vidro grande da janela do meu quarto
Ruy Belo
Só sabemos o valor das coisas quando algo se parte, nos parte. Podemos não deixar de gostar delas, mas depois passamos a saber o que custa refazer os pedaços do que foi inteiro.
(Eu detesto o vento que assobia furacões pelas frestas das janelas, que corre louco, que não afaga, apenas arrasta, escorraça. Dá-me medo, só gosto dos seus mimos, dos carinhos feitos brisa fresca que despudoram a leveza dos tecidos, que bailam nas folhas, nos cabelos, nas ondas que, gargalhando em fina espuma, não desistem de me lamber os pés à beira-mar.)
Boa noite
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