Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

19 agosto 2011


"Estar-se cheio, tenso, farto, às vezes no limite da loucura. Cintado de moral, da vigilância dos princípios, do "parece mal". E da cobardia, decerto, e do comodismo. E uma vontade oculta de se rebentar com tudo. Ser-se livre, como quem já nada tem a arriscar. O mais difícil, é que tudo seria fácil. Porque, se fosse difícil, era mais fácil de aguentar, (...) Foi possível, porque já nada havia a perder. O cálculo do futuro não entra já no seu cálculo."

"Cansado. O futuro restrito. A vontade de chegarmos à beira e atirarmo-nos. A monotonia dos dias fiscalizados, a sedução do diferente. Digo diferente. Só o pecado é diferente. Ou sobretudo. Será talvez útil regressar ao pecado de vez em quando, para que a virtude seja mais suportável? Mas não é fácil. É preciso coragem. Coragem? Que é isso de coragem? Em todo o caso, não propriamente pelo pecado em si (para subdesenvolvidos morais como eu, ele pesa), mas porque não é fácil equilibrar o prazer dele com as chatices anteposteriores." 

Vergílio Ferreira, Conta-Corrente I
Parece que escreve para mim em tanta coisa, e faz-me parar muitas vezes a pensar, e dar por mim a sorrir por entender tão bem, e por me sentir menos diferente. Há quem goste de ser diferente, eu não, e pelos vistos tenho razão, porque " só o pecado é diferente", e só serve para se prosseguir a pureza das virtudes... apoiada no pecado.

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