Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

25 abril 2012


Ela sentiu umas cócegas no ombro, mas duvidava se o tinha sentido mesmo. Insistiram, e ela teve a certeza de que tinha acordado, virou-se devagar, com o sorriso já desperto, e encontrou o olhar dele a acordá-la com carinho. Ele não disse nada, afastou-lhe o cabelo da cara e deu-lhe um beijo na testa. Ela afogou-se no pescoço dele e abraçou e tudo o que conseguiu, com pernas e braços, e ficou assim, só abraçada, à espera que acordassem para o mundo. Ele sussurrou-lhe ao ouvido que gostava de a ver dormir, e ela respondeu que gostava de o ver mal acordava. O olhar dele era o seu sol, enquanto não o visse não era dia nela. Ficaram assim enquanto o tempo parou, depois o tempo pareceu ter passado porque a fome deu horas. Deu-lhe um beijo e num salto anunciou a hora do banho. Lá foram, a água quente na pele do corpo já quente sabia bem, ele abraçava-a por trás com um braço que a envolvia pela cintura e que acabava no seu peito, a outra mão a percorrer-lhe as costas, e então deixou de haver tempo, e deixou de haver estomâgo, mas a fome tornou-se urgente, e ela gosta sempre dessa urgência, de a sentir, de a querer também, de a devorar enquanto sorri e sente apenas o toque, o carinho, o desejo, a vontade. Sente-se tão bem a vontade num toque, um toque pode ter a palete de cores mais extensa e viva, um só toque pode conter tudo e dizer tudo, ou pode ser vazio, não ter nada que vá além da epiderme. O toque dele ia-lhe além epiderme até à medula da alma, e era lá que a fazia completa. Era seu, ela era dele, naqueles instantes tinha certeza disso, sentia isso, em todo o resto do tempo duvidava e tinha medo, e sabia que enquanto fosse assim era bom, quando deixasse de ter medo, quando deixasse de duvidar, quando deixasse de querer, pouco mais restaria. Virou-se para ele, encostou-o à parede percorreu-o a par com a água que caía quente, desceu, subiu, adorava o seu corpo, cada milimetro dele, não se cansava de o ver e de o percorrer, com boca, pele e mãos,de se encaixar e amar a cada vez. Ficaram presos num beijo até ser a vez dele pegar nela e a encostar à parede enquanto a invadia e a água corria, fria para a temperatura dos corpos, acelerados, molhados, ligados. As respirações a compasso largo, os dedos a enterrarem-se na carne, os olhos a penetrarem-se e então abandonaram-se e os corpos tomaram conta da explosão que se dava, que acabava com eles abraçados, encaixados, com as bocas coladas num sorriso só. E um olhar que nos descobre por dentro. Ficaram assim algum tempo.
"Anda vamos ver a Toscana da Rascóia, que vai ser uma rambóia." -  ele deu uma gargalhada das que lhe enchiam a alma, e ela sabia que também ali ele era dela, mas em pouco tempo já não saberia nada, porque as certezas são coisas de pequenos instantes enganadores. Não há certezas, a única coisa que sentia por certa era querer continuar a ter medo, medo de o perder, medo que ele não fosse dela, que não se sentisse parte dela, porque isso era amá-lo ainda e tanto. Isso era certo. Só se perguntava se ele pensaria o mesmo. E se não pensasse, não era.

17 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Eva disse...

Não vou publicar esse comentário anónimo atrevido...mas gostei ehehhe

Anónimo disse...

Atrevido?

Eva disse...

Sim, não estava a espera de ler aquilo que tantas vezes não oiço e quase nunca vejo... e é atrevimento sim, do bom, mas é vir dize-lo aqui. Gostei mas não vou pôr ao ar...

Eva disse...

Então mas gostou foi? Riu-se estou a perceber, nem me vou atrever a perguntar o que mais gostou...evakillme

Anónimo disse...

Um malandro é o que é

Eva disse...

Do melhor...ou do pior, não sei.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Eva disse...

Ahhhhhhh
Quero! Quero!
Agora também está bom, dá para juntar os dois atrevimentos??

Anónimo disse...

Ou mais, tudo, sem limites ou contabilidades

Eva disse...

'Tá bem.
Gosto disso.
Eu não sou do departamento das contabilidades, é mais o seu, essas contabilidades manhosas que gostava de fazer... bahhh
(mas estou à espera do atrevimento com tudo tudo e sem contabilidades...)

Anónimo disse...

Espero ser capaz de corresponder as expetativas ahahaha

Eva disse...

Depende do departamento de que esteja a falar... há alguns em que corresponde muito bemmmm
ehehheh

Anónimo disse...

Esta onde eu a possa imaginar oh perversa cobra?

Eva disse...

Pode imaginar-me onde quiser.. eu estou aqui, where else?

Anónimo disse...

Hoje é dia para uma revolucao

Eva disse...

Que seja uma boa revolução, com frutos.
eu estou aqui