Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

04 maio 2012



Lido no Fogo Posto, Mia Couto pela mão desta menina , menina esta que qualquer dia tem de ter quota aqui no estaminé, tais são os roubos descarados aos seus escritos... mas tem uma maneira muito particular de me pôr a pensar...e quando há um lugar em nós que é amarmos alguém? 

6 comentários:

Ana disse...

isto é Mia Couto, que isto eu sei. sei que é muito verdade também. (é por isso que depois dói um bocado "deixar" de amar e regressar ao nosso corpo. ele perdeu a forma da nossa alma)

o que eu não sei é se é meu ou não o título do post. =)

Eva disse...

Não percebi assim, percebi que sabias Mia Couto de cor e que não sendo dele e nãotendo autoria também não sabias, como o título do teu post. Já rectifiquei, o seu a seu dono.
E sim, tens razão, dói demais, esfola-nos vivos, deixa-nos em carne viva de alma morta.

Ana disse...

mas também é por isso que a alma é maleável. acaba sempre por se ajustar de novo. =)

Eva disse...

Sim, é obrigada a isso, mas nunca mais volta a deixar-se ficar ou arrastar para certos lugares. E o que me intriga é que se há lugares em nós que são, no fundo, amar alguém, como é que escapamos dele, se para isso é preciso sairmos de nós e para o conseguir temos de amar alguém, quando afinal já amamos e isso é que nos deixou nesse sitio que agora é deserto? E como amar outro alguém se esse lugar vazio está ocupado??
Olha esquece, não há solução, não vale a pena...

Ana disse...

a solução é o que fazemos com o tempo. "apenas" isso.
e eu não acho que existam em nós lugares que sejam amar alguém. nós é quando amamos nos transformamos em alguém diferente. saímos ou somos empurrados para fora de uma relação diferentes de quem éramos quando nela entrámos. se isso nos impossibilita ir para certos lugares, tenho a certeza de que nos possibilita um sem número de novos caminhos.
eu não acredito muito em vazios. acho que são só uma percepção errada. no desamparo, somos cegos.

Eva disse...

Eu acho que nós somos um enorme mundo por conhecer desde que nascemos e vamos conhecendo o que somos com a vida, com os outros que nos fazem ver e descobrir coisas em nós que não conhecíamos, que somos nós, que sempre fomos, sempre estiveram lá, mas à sombra. E esses lugares que vamos descobrindo em nós, alguns serão por amar alguém. As melhores e piores partes provavelmente. São recantos de nós que passam a estar à luz, onde dantes não víamos nada, não conhecíamos, e é com esses lugares com que depois nos vemos e não sabemos, depois desses amores, o que com eles fazer. Por isso é que acho que há lugares em nós que são amar alguém, porque foi o que nos levou a esses lugares que existindo, não os conhecíamos. Por isso dizes que nos transformamos, talvez, sim transformamos o que sabíamos de nós, e por isso nós, no fundo. Acontece que no fim do amor eu não sei o que fazer a esses lugares em mim, ou como sair deles, porque é sair de mim, porque esses lugares são parte de mim. Era isto que queria dizer e como entendi a frase.
E os vazios... há muitas maneiras de os ver, entender. Os vazios podem ocupar espaços enormes e ter um peso brutal, há vazios que não são ôcos, são só um enorme e denso sentimento de falta de algo que existia antes de lhe chamarmos vazio. O vazio tal como a ausência pode ser cheio, atulhado de coisas, como a ausência pode ser tão presente, ou mais, que a presença. Tal como algumas presenças são tão completamente ausentes para nós.
E não sei se no desamparo somos cegos, se não vemos nada, vemos é muito pouco além e temos muito, muito frio.