Acabei de me lembrar duma frase que me disseste, e odeio-te agora um pouco por ma teres dito, e a mim mais por a ter ouvido, ter percebido, mas achar que eras mais tu a falar sozinho, e a diminuir-te. Não era. Eras tu a constatar um facto, e a incluir-te nele, ainda com a tua pele quente encostada à minha, ainda tu em mim.
" Não há ninguém nesta cidade, eu pelo menos não conheço, que esteja à tua altura."
Não vou apequenar-me para servir a ninguém, não espero que ninguém se acrescente para me chegar.
Isso não é amar, mas tu, de amar, nada percebes. Nunca percebeste. Pelo menos do que eu entendo por amor. Nem falo do facto de não me amares a mim, mas de não amares verdadeiramente ninguém. Este episódio, de que me lembrei agora de repente, ao fechar a luz da cozinha, mostra-o, mais, comprova-o. Infelizmente. Porque a maneira como parecias amar-me fazia-me feliz. Mas o amor, a existir, não permite episódios destes.
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