Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

11 agosto 2012

Acabei o livro. Não gosto geralmente de livros demasiado fantasiosos, pouco reais. Este, no entanto, compensou-me largamente esse não gostar, pela escrita de Mia Couto. Uma linguagem quase infantil, uma língua doce que mostra tanta crueldade também. Porque a infância é também muitas vezes cruel, dura e triste, ainda que doce, como a vida, aliás. A história de um país, de uma guerra, que não é mais guerra, mas só um caminho sem norte. Caminho que vai mudando a partir de ruínas sempre estanques. Viagens nas várias personagens que vão aparecendo, viagens nas lendas populares, sonhos e realidade misturada. Mas o que mais vale a pena ler é o que não está escrito, e que nos passa nas frases e passagens monumentais de Mia Couto, que na simplicidade desfere os maiores golpes, numa lucidez brilhante de tantas vezes desconstruir o óbvio.
Frases que me ficaram como:

"melhor ideia é aquela contra cujos argumentos não há factos."
(a frase não é assim mas a ideia é, e o avesso da frase cliché). A ideia sai impune. Verdade.

"o destino o que é senão um embriagado conduzido por um cego?",

" nunca vi dança com tanto corpo como o daquela mulher",

ou a "festa é a tristeza a fazer o pino."
e esta é tão, mas tão, verdade, que me fez rir e reconhecer-me tantas vezes, que me fez parar de ler um bocadinho.

Tenho o livro todo marcado com passagens que quero reler, como tenho feito com os livros que tenho lido ultimamente. Gosto de no fim me despedir do livro revendo o que mais me marcou, e que deixei marcado no livro, para mais tarde reler com calma, para mastigar ideias e deixar viagens cruzarem-se, e irem-se desembrulhando em mim. Depois selecciono algumas para partilhar aqui. 
Agora tenho de escolher a próxima vítima... logo à noite, talvez.

Sem comentários: