Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

12 setembro 2012


Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.
O seu corpo perfeito, linha a linha
derramava-se no meu, e eu sentia
nele o pulsar do meu próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas.
Dentro de mim alguma coisa ardia:
o mistério das palavras maduras
ou a brancura de um amor que nos prendia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão
e longamente bebi os horizontes.
E longamente fiquei até ouvir
o meu sangue jorrar na voz das fontes.


Eugénio de  Andrade

Boa noite.

4 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite

Miú Segunda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miú Segunda disse...

Não há poeta do amor como o querido Eugénio! (Lá está, pena é que ele gostasse pouco das filhas de Eva... no sentido bíblico.) Mas pronto, nós compreendemos. E adoramos os poemas mais belos, fluidos, transparentes, delicados, depurados, limpos e difusos de que há memória na língua portuguesa.

Eva disse...

Gosto uito de poesia no geral, gosto de Eugénio, gosto de Pessoa, gosto de Torga, descobri há pouco tempo Joaquim Pessoa que gosto muito. Gosto de toda a poesia, mas a que mais gosto é sempre a que mais me toca e fala por dentro dos sentimentos, parece nem sequer assentar em métrica ou técnica, não se percebe nada disso, só se percebe que quem escreve, acima de tudo sente, e sente duma forma tão bonita que ao passá-lo para palavras é essa beleza que quase se toca se come se bebe que transborda. E é por isto que de todos os que li ainda nenhum, mas nenhum, me tocou tanto como Florbela Espanca. Era uma louca, por ser lúcida no amor, em que a única lucidez é ser-se louco, ou não se é nada.