Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

08 maio 2013


Têm sido complicados os últimos dias, ainda que quisesse explicar, não sei se o conseguiria. Sinto-me a definhar por dentro, a apodrecer a alma, a amargar o ser, deixarei de ser quem era, não sei quem serei. Não quero saber, na verdade.
Dou por mim a ver rosas oferecidas a outras mãos e os espinhos cravados por dentro da minha pele. 
Oiço, e volto a ouvir, coisas que me disseram e sinto-me enganada - principalmente, essencialmente, por mim mesma - sinto mentiras em todas as verdades que sentia por dentro, não no que viam os olhos, não no que a razão me gritava, mas no que os olhos viam para dentro, sentiam. Relembro comentários e conversas, filmes emblemáticos, com significados próprios ocultos, que não me deram a conhecer, coisas que não eram nossas, que tinham outras memórias impressas na história, nos comentários; tanta coisa de que eu não fazia parte, percebo agora que o tocavam por razões que eu não adivinhava, eram coisas dele que nunca fui eu, eu nunca fui parte dele, nunca fui eu a tocá-lo, fui o preenchimento de um vazio entre margens do tempo, uma ponte que se foi atravessando, atravessando os dias e as noites, mais nada. E então relembro o rosto dele, a centímetros do meu, o corpo dele colado ao meu, pele com pele, numa pele só, a dizer-me que havia vezes que queria mergulhar em mim: para dentro de mim, correr-me nas veias, habitar-me por dentro, ir para onde eu fosse, cá dentro: fundirmo-nos... como doutra vez que me lembro agora, sem aviso ou previsão, me disse em que havia momentos em que as almas encaixavam tão bem, em silêncio, só encostados, que parecíamos perfeitos. Pré-feitos um para o outro digo eu, que era o que me parecia a mim. Tudo isso, tudo isso... dizia, falava a pensar em alguém que não eu, eu apenas ouvia, eu estava sempre lá para ouvir... era eu que o ouvia, e por o sentir, por sentir exactamente o que me dizia - ainda que eu o guardasse por dentro da boca nos beijos que lhe dava - acreditava que podia sentir, que era verdade, que podia ser verdade. 
Não era, não foi, não é. 
A verdade das verdades sentia eu, sinto eu, ele tinha mentira na minha única verdade, a verdade única que me mantinha, que me nutria, que me importava, mas que era, afinal, só minha. 
Como a culpa, a culpa é só minha. 
Acreditei no que sentia que sentiam.
Acreditei que sentiam o que sentia.
Vi-me ao espelho nele, e em mim viam outra pessoa.

3 comentários:

Anónimo disse...

Rosas, Rosas.. sempre Rosas!!! Sabes que a minha cor favorita é vermelho. pareces que adivinhou.. :(

Inês Lopes disse...

identifico-me tanto com este texto. acreditar em alguem e ter que meter na cabeça que esse alguem não existe, doi muito

Eva disse...

Dói, dói muito sim. Nós fazemos as pessoas, vemos as pessoas como se calhar elas nao são, quando percebemos isso e todo o engano em que caímos dói muito.