"Criámos barreiras contra o optimismo, habituámo-nos a ver os optimistas como líricos, a arrumar tudo o que nos digam na prateleira da auto-ajuda, da charlatanice. O optimismo é um filtro cor de rosa que nos aumenta a importância própria e nos faz criar uma visão selectiva do mundo; é uma pala à frente dos olhos. Se olharmos a vida sem optimismo percebemos que tantas vezes não fazemos diferença nenhuma na vida de ninguém. Que se não existíssemos, não mudava nada.
Todos temos o secreto sonho de ser a pedra angular na vida de alguém; é isso que nos faz sentir importantes, que nos faz achar que a nossa vida tem sentido. É um condicionamento mental, evolucionário talvez, que está na base de porque procuramos relações amorosas, porque desejamos ter filhos. O sentido da vida é ser importante para alguém. E quando olhamos à volta e entendemos que os nossos filhos, os nossos amigos, os nossos amantes, os nossos companheiros, são tão autónomos e bem resolvidos que na verdade não precisam de nós para nada, isto afecta-nos.*
E aí acontece uma de duas coisas: ou nos deprimimos por nos considerar inúteis, ou percebemos que fazemos falta a nós mesmos; que, acima de tudo, sempre fizemos falta a nós mesmos, e que somos imprescindíveis na procura da nossa própria felicidade.
E que mesmo que não consigas ser relevante para ninguém, a última palavra é sempre tua: és relevante para ti próprio, ou a tua vida é apenas uma função da vida dos outros?"
* aprende no entanto uma coisa: é muito diferente “fazer falta” e “ser desejado”, e a única coisa que interessa é a segunda.
[ eu não sou definitivamente optimista, e daquelas duas coisas acontece-me a primeira em tempo quase real: deprimo. eu não faço falta nem a mim mesma, a sério, é triste chegar a esta conclusão, mas hoje é assim que estou.]