Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 julho 2014

E mais uma vez aqui estou, sentada no degrau da varanda, olho para o lado e lembro-me duma noite em que aqui estavas ao meu lado e eu chateada com alguma coisa a tentar manter alguma distância e tu a aligeirar, a brincar quase a medo, tocas-me sem querer e sabes sempre que noto bem que me tocas e me desmontas, sabes, mas ainda assim lembro-me de estares aqui ao meu lado meio a medo. Não me quero lembrar destas coisas que me fazem sorrir e que me despedaçam ao mesmo tempo por saber que são só minhas, são só memórias minhas. Guardo coisas pequenas, coisas que senti, olhares, toques a medo e às vezes de raspão. A escrever isto estou-me a lembrar de tantos momentos, coisas que me foram boas e ficaram. As coisas que eu gostava. O que me fazia rir e sorrir, e quando me sentei aqui não era isto que pensava, era que é domingo à noite e amanhã começa uma semana nova, mas não sei em quê. Por que é que as pessoas estão sempre a chamar de novas coisas que se repetem sempre? Todas as semanas há uma semana. Nova porquê? Que tem de novo que a anterior não tivesse? O que mudou? Nada, ou eu não vejo. Infelizmente, porque precisava mesmo de algo novo nesta semana nova. Na verdade precisava duma vida nova, mas a vida também é coisa que se vai repetindo todos os dias sem grande cerimónia, e no entanto todos os dias é diferente, tem coisas diferentes. É nessas coisas diferentes que me ponho a pensar, no que vou fazer amanhã, no que queria fazer esta semana, e depois percebo que  por muito que pense já sei que amanhã me vai custar cada osso a sair da cama porque, por diferentes coisas que a semana possa ter, a vida é a mesma e não é esta que eu queria. E penso nisto e deito-me para trás e logo me lembro de quando aqui ficámos os dois deitados a olhar lá para fora, a conversar, a rir e a namorar. Percebo então que nada muda, que tudo está na mesma, mas que tudo mudou. Não estás, nem estarás mais, aqui. Mas a vida não é nova e não é de certeza a que eu quero. E amanhã é segunda. Mais uma. Dizem que é nova.

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