Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

27 julho 2014


"Tu não sabes ser jardim, só sabes ser jardineiro." 
Frase duma amiga devia eu ter quinze dezasseis anos. E tenho pensado muito nisto. E no porquê disto. Concluo que como me parece que nunca irão realmente gostar de mim preciso que as pessoas precisem de mim, porque assim penso que mais dificilmente me deixarão ir. Mas não é verdade. Realmente as pessoas não gostam de mim, mas das minhas faculdades, do meu tratar delas, mimá-las, arrumá-las um pouco e à bagagem que lhes pesa. Consertá-las, fazê-las crescer enquanto pessoas, se calhar. Depois disto não precisam mais de mim, e então batem asas de mim, uns porque já viram o que tinham a ver, e dizem que aprenderam tanto comigo (obrigada, a sério, é mesmo o que uma mulher apaixonada precisava de ouvir), outros porque ganharam a segurança que não tinham, mas todos facilmente me substituem e vão lá à vidinha deles. Como sanguessugas. E eu, eu só escolho jardins para cuidar e para me dar que realmente goste, e depois fico sem nada, deixo só um jardim arranjadinho para alguém a seguir a mim usufruir. Mas em cada canteiro deixo um pedaço de mim que me falta quando me expulsam. E eu já devia saber tudo isto antes de o pensar e aqui escrever, porque há tanto tempo já que digo que gostar não é precisar, é precisamente o contrário, é não precisar do outro para nada, mas ainda assim querê-lo, porque nos sentimos o melhor que somos e podemos ser com ele. Porque nos sentimos a partilharmo-nos de igual para igual. Sem utilidade nenhuma. A utilidade é subserviente, o amor é tudo e basta-se a si mesmo. O jardim existe sem jardineiro, o jardineiro não existe sem jardim.

2 comentários:

Filipa disse...

Olá Eva,
Dizem que temos tendência para repetir padrões, se temos alma de cuidadoras provavelmente mesmo que de uma forma inconsciente acabamos por nos envolver com quem precise de ser cuidado/concertado.
Mas, também sempre ouvi dizer, que quem ama cuida, portanto...
Também, às vezes, estamos tão habituadas a cuidar que não deixamos que cuidem de nós e eles normalmente gostam, precisam, precisam que precisemos deles mesmo que o amor não seja precisar.
PS: É sempre bom voltar aqui, hoje a pôr a leitura em dia :)

Eva disse...

Sim e eu preciso, preciso para isso do amor. Preciso para o mimo ao fim do dia, preciso para aproveitar bem a vida, para não ser mera sobrevivência pobre, de resto precisar é pouco, muito pouco. E não é gostar.