Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

11 setembro 2014

Quando se gosta, gosta-se, mesmo que haja muita coisa de que não se gosta no outro. Nunca há alternativa quando se gosta. Tenta-se tudo sempre. Como já disse e escrevi várias vezes, gostar do que alguém tem, das suas qualidades e como nos faz sentir, não é gostar dessa pessoa. Mas pode-se gostar estupidamente de quem não tenha o que gostamos, o que queríamos, o que nos faz sentir confortáveis, simplesmente gostamos, sem razão alguma. Estupidamente, mesmo sem conseguir fechar os olhos ao que não gostamos. Aliás, só assim se gosta verdadeiramente: com os olhos abertos para o pior do outro e ainda assim o amor ser maior que isso. A este gostar não há alternativa, não se consegue escolher desistir, a não ser - e só para algumas pessoas, não todas - quando percebemos a certeza de que esse alguém não gosta de nós, de que não somos amados, e que o amor vive de reciprocidade e aquece-se do que sentimos através do outro acerca de nós, do mundo, da vida, e dele mesmo. 
E eu quero amar e ser amada. Ainda que ame menos do que o amei. Quero sentir-me amada e fazer alguém sentir-se amado, devolvendo-lhe o melhor de mim que me dá, que me dá o amor que é dos dois. Só assim. Não quero quem não me queira. Duvido que se possa ser feliz sem se sentir amado, ainda que ame. Aliás, olho para algumas pessoas e tenho essa certeza, não são felizes como gostariam, como poderiam ser, porque amam mas não são amados por quem amam. Eu não quero isso para mim. O amor assim só sobrevive e forçado, não vive nem respira profundamente. Sem "nós" não há amor, há amar alguém até que alguém nos ame. 

9 comentários:

Anónimo disse...

Há também quem nao ame mas sobreviva esforçando-se a tentar pelas razoes mais parvas do universo que se consigam imaginar e como sabemos a imaginação nao tem limites razoáveis.

Eva disse...

Sim, acredito que seja possivel o esforço de sobrevivência não amando, quando não se ama ninguém. Vai-se sobrevivendo, não há razão, ou força motora, para mudar. Isso eu posso não concordar, não me servir, mas entendo, e aí realmente qualquer razão é bom justificativo.

Mary Poppins disse...

"Mas pode-se gostar estupidamente de quem não tenha o que gostamos, o que queríamos, o que nos faz sentir confortáveis, simplesmente gostamos, sem razão alguma. Estupidamente, mesmo sem conseguir fechar os olhos ao que não gostamos. Aliás, só assim se gosta verdadeiramente: com os olhos abertos para o pior do outro e ainda assim o amor ser maior que isso. A este gostar não há alternativa, não se consegue escolher desistir, a não ser - e só para algumas pessoas, não todas - quando percebemos a certeza de que esse alguém não gosta de nós"

Eu tenho de deixar de vir ao teu blog... dá-me conta do sistema nervoso e do auto controlo todo :)

Eva disse...

:) não sei se isso pode ser encarado como elogioso ou apenas como uma fatalidade... Eu escrevo o que toda a gente que pára um pouco para pensar sabe... Como tu sabes e sabias estas coisas que te dão cabo do sistema nervoso... A mim também por isso as tenho de escrever.
... Mas isso de não vir mais ao blog não vale!! ;))

Mary Poppins disse...

era um elogio...anda aqui uma pessoa a tentar não escrever, não pensar, matar o que sente, e o que sabe que não vai conseguir matar..e depois! Depois chego aqui e pronto, eu não escrevo mas alguém escreve :)

Eva disse...

:)
Duvido da eficácia dessa coisa do querer matar o que se sente, que também dúvidas peluda vistos... Acho que só o próprio o pode matar magoando-nos, de resto acho que, com sorte, vai apenas desfalecendo é perdendo a vivacidade das cores. Depois as vezes penso, será que se eu pudesse mesmo matar o que sinto, o faria? Não é o mais bonito que senti até hoje? Deixaria de sofrer mas também perdia o resto. Era uma espécie de suicídio estranho... E não sei a resposta, mesmo.

Eva disse...

* pelos vistos.
(Este telemóvel é parvo e faz-me passar as maiores vergonhas...)

Mary Poppins disse...

(LOOL o que eu me ri. percebi que era uma gafe claro. mas teve piada.)

A eficácia posso dizer que realmente é nula. E tenho essa dicotomia que referes também. Queria um dia acordar e ter feito um reset a tudo dos ultimos anos para evitar tanto sofrimento, que sei que foi mútuo. Mas, também tenho o outro lado. Tenho uma ternura infindável que acalento e gosto de manter viva, porque é tão boa. É um calor bom que me faz sorrir sozinha com as recordações das coisas que falávamos e dos momentos que tivemos, da pessoa em si. Não quero esquecer isso. Era bom que existisse realmente o conceito de começar de novo. Conseguir começar com aquela pessoa da estaca zero, apenas com o que somos hoje.

Eva disse...

;) foi uma gafe peluda, digamos eheheh

Sabes, eu acho que nunca se começa de novo, da estaca zero, mas recomeça-se sempre de novo. O passado entranha-se em nós e muda-nos, porque a vida que nos acontece, se nos toca, muda-nos, e a partir daí para o bem e para o mal é parte de ti, não te consegues amputar disso. Mesmo quando julgas que já esqueceste porque já não te lembras sempre e conscientemente, está lá, debaixo dos dias visíveis. A vida molda-nos o carácter, os medos e as reacções, não se volta ao zero, nunca. E ainda bem, senão não se aprenderia nada, e os mesmos erros se cometeriam. Mas acho que a qualquer momento se pode recomeçar, desde que se queira, que haja vontade.
Se gostarem um do outro arranjarão motivos ou inventá-los-ão (quando se gosta arranja-se maneira e não há desculpam que nos valham..) para recomeçar e tentar de novo... Como dizia o post quando se gosta mesmo tenta-se tudo sempre. Eu acredito nisso. E às vezes preferia não acreditar. Mesmo. Mas acredito.