Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

15 dezembro 2014


"Entender e aceitar todas as dores da existência dá muito trabalho. Pensar resulta em incertezas, falta de respostas e consequentemente em angústias. Quem sofre com tudo isso é a psique, que de tão atormentada, pode posteriormente afetar o comportamento e a personalidade. Nietzsche diz enxergar a vida de forma tão profunda que se sente completamente sozinho. Com quem ele discutiria suas questões provenientes de uma visão tão reflexiva sobre a vida? Quem não tem esse mesmo nível de profundidade também não tem capacidade de viver com pessoas como Nietzsche.(...)
Tendo em vista pessoas pensantes como Nietzsche, é possível fazer uma relação com a sociedade pós-moderna, permeada por indivíduos que tem extrema dificuldade de ficarem completamente sozinhos. Hoje, com o avanço tecnológico, as pessoas tem o costume de estarem 24h por dia conectadas e em momentos em que seria essencial a solidão para reflexão, rapidamente recorrem a um aparato tecnológico, uma mensagem a um amigo ou uma foto que consiga likes o suficiente com o objetivo de suprir essa carência e mal-estar. Estar realmente sozinho chega a ser uma raridade de poucos atualmente.
Essas pessoas que dificilmente tem um momento de reflexão solitário, diferente dos Nietzsches, parecem ser mais leves, despreocupadas e até mais felizes - talvez por mascararem suas angústias ou simplesmente por nunca terem se deparado com elas. Refletir sempre vai resultar em dor e descontentamento. Quem pensa, se dá conta de que muita coisa na vida não tem sentido nenhum e pensar mais e mais pode só aumentar a agonia. É por esse motivo que os Nietzsches que andam por aí muitas vezes são vistos como pessoas amarguradas e estranhas. Na verdade, encarar as verdades da vida torna esses indivíduos mais críticos, pois continuam numa busca incessante por respostas que podem nunca alcançar. Dessa forma, se isolam da maioria por se sentirem completamente incompreendidos e desencaixados num mundo onde parece que ninguém os acompanha."

© obvious

...pois, ter demasiadas perguntas não é nada cómodo, não. Mas suponho que até isso poucos entendem de tantas respostas que têm. E sim, acho que as pessoas têm de ter níveis de profundidade parecidos para falarem a mesma língua e se entenderem no mesmo comprimento de onda de vida. 

[e não, não me estou a comparar aos "Nietzsches" de que o texto fala, apenas sei - e dizem-mo muitas vezes... -  que tenho muitas perguntas, e que penso muito sobre coisas demais, ou penso demais sobre muitas coisas, e isso de facto, se não o soubermos compartimentar e dosear no tempo, cria algum distanciamento de maior parte das pessoas, que não têm tantas perguntas nem gosto pelas interrogações, pela busca da verdade mais próxima... sim, como alguém me apelidou, eu sou um ponto de interrogação ambulante, mas vou andando assim, contribuindo para as minhas respostas e para novas perguntas... porque às vezes as novas perguntas respondem a alguma coisa das perguntas antigas, mas é preciso querer ver.
Algumas perguntas, se não são respostas completas e inteiras, acabadas, são contributos importantes que nos apontam uma direcção... é um caminho incerto, não é uma resposta certa. Mas também podemos dizer muito das pessoas pelas perguntas que fazem. E tanto, tanto, pelo que nunca perguntam, ou ao que fecham os olhos sabendo.]

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