Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

04 fevereiro 2015


"(...) primeiro, quando somos mais novos temos a ilusão da busca da pessoa perfeita: aquela que se encaixa nos padrões idílicos que fomos construindo. já adultos, percebemos que essa coisa não existe, que perfeito mesmo é alguém que se encaixa em nós de uma forma inesperada. mas, em que de repente, tudo bate certo: a forma como ri, o toque do abraço, o cuidado nos dias, e o beijo - sempre no momento e intensidade certa. depois vamos querendo mais, alguém que nos faça maior, que nos desperte sensores desligados, que nos mostre mais do mundo, que nos faça querer ser mais completos. não pelo outro, mas por nós.
(...) porque há pessoas perfeitas, que nos despertam todos os sensores, mas em que simplesmente não acontece o clic: aquele milagre de querer o outro de uma forma louca, sem sequer perceber bem o porquê - e é delicioso não conseguir saber explicar o porquê. porque preciso do teu abraço? mais que o corpo, é sentir-te junto, colada, metade de mim.. não te sei explicar melhor. porque preciso do teu riso? porque só ele me sossega, só com ele respiro.. não te sei explicar. paixão é isso, essa coisa de não saber explicar de forma racional e inteligente. suspeita-se da causa, dos motivos, da origem, mas não há ciência que descubra a fórmula. e se calhar, a magia da coisa vem daí mesmo.
(...) é a paixão que dá a gasolina, a energia, a força. as noites passam, mas tem de vir o sol, esse calor que não se toca, para aquecer a sério. o amor prepara-nos, segura-nos. mas é a paixão que nos desperta, que nos faz avançar. por isso, preciso de manter este estado permanente de te querer a toda a hora, de suspirar pela mensagem minutos depois de desligar, de precisar do teu abraço todos os dias, até desta coisa física de te amar o corpo, estejas junto ou longe. ou, de apenas conseguir dizer-te adeus sossegado, depois de te soltar uma gargalhada. paixão pode não ser andar sempre nas nuvens, feliz, aos pulos, de peito cheio. porque não dá sempre - mas é sempre ter a certeza de querer esse estado. de correr para lá, de ansiar por chegar lá. é viver, todos os segundos, com aquele torpor de impaciência de chegar ao outro. isso sim, é estar apaixonado. explica-se? não.. ainda bem."

Momentos daqui

[Deve haver muitos tipos de paixão, muitos tipos de encaixe, ou de os sentir, ou de não os sentir, talvez não os sentir, sim, deve ser esse tipo em que é possível desapaixonarem-se tão fácil, tão rápido. De repente não se está apaixonado por ninguém. É como uma imitação barata, ou os artigos que se compram nas lojas dos chineses, funcionam muito bem meia dúzia de vezes, depois sem explicação aparente não funcionam de todo. Até duvidamos que alguma vez tenham funcionado de facto. E depois perguntamo-nos como sabemos nós distinguir as imitações baratas dos artigos genuínos? Mesmo que nunca mais entremos nessas lojas ? Mesmo que nunca lá tenhamos entrado?]

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