Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

05 fevereiro 2015

(© Christopher McKenney - apanhado aqui)

Dias tristes já de si, começamo-los ainda pior do que já nasceram por natureza. Conversas dificeis, que nos embargam a voz logo pelo frio da manhã, o futuro que nos enevoa o olhar e não há maneira de nos conseguirmos desembaciar, porque tanto de nós depende dos outros, tanto do que o futuro trará será o que outros no presente nos vão deixando e deixarão. Não há maneira de perceberem que fazem o futuro - o nosso - todos os dias, e que nos estão a enegrecê-lo a cada dia, que a ninguém fazem bem, nem a eles mesmos, nem a nós que herdaremos os dias ainda mais complicados que estes, como hoje, se é que isso é possível. E hoje além de tudo isto a sensação amarga de não poder fazer nada senão preocupar-nos, senão esperar que o sofrimento não seja demais, esperar, sempre esperar. E, no caminho, as lágrimas que espreitam sempre acabam por escorrer para dentro, caem por dentro, escorrem-nos pela alma como garras mudas. Ainda não consigo chorar, terei desaprendido? Estarei assim tão dura, endureci tanto assim? será por isso que hoje comecei o dia a dizer verdades duras? porque estou fria debaixo da carapaça que o frio fez em camadas, a cada dia, dos ultimos tempos, do último ano, talve? onde ando eu que não me encontro, onde deixei a miuda que a minha mãe dizia que sempre arranjava maneira de dar a volta por cima, que nunca parecia ter medo de nada, e que tinha nos olhos uma vivacidade que brilhava, que fazia rir? Onde estava ela de manhã quando a fez ouvir tantas coisas cruas sabendo nada adiantar? Onde anda essa miúda, quem a matou? Como é que eu a consegui matar? O que restou de mim? Uma carapaça que não sabe chorar e só sabe atirar verdades duras logo pela manhã de dias dificeis?
E ainda sem noticias... como querem que o dia me entre na alma?... Acho que lhe perdi a porta... no labirinto dos dias que ficaram, e ficam, a cada momento por viver, trocados por dias que não deveriam ter de ser vividos. 

...e por fora tentar estar como se nada fosse... Tudo a funcionar. Cores de normalidade como se a escuridão não nos submergisse. 

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