Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

14 fevereiro 2015

Há uns anos, já nem sei quantos, a esta hora estava a publicar um post para alguém, sem saber se o iria ver ou não. Viu, e respondeu-me, com o mundo de permeio, que o que viu o emocionou. Estávamos longe como acontecia de tempos a tempos, porque assim alguém (que não eu) escolhia, mas ainda assim eu a esta hora mais ou menos estava a publicar uma coisa a pensar nessa pessoa, como que para chegar a essa pessoa sem saber se chegaria. Só chegaria se o fosse procurar. Não fiz a pensar se iria ter retorno, se alguém o faria por mim, ou a querer que fizessem algo parecido por mim. Não, fiz pelo prazer de o fazer e pelo prazer de fazer feliz quem queremos ver bem, com um sorriso que enche a alma porque nasce na alma. Não pensamos se vão fazer alguma coisa por nós, para nós, parecido, ou não, pensamos - ou nem sequer pensamos, é uma coisa que não se chega a materializar em pensamentos - que só queremos que alguém goste, que fique bem, bem disposto, e que isso nos faz felizes. Muito. Que recebemos com o efeito no outro do que damos.
Hoje olho para trás e percebo que a única coisa que queria, era que o bem de alguém fosse o meu bem, a sua felicidade a minha felicidade. E não, não foi nada assim. Não houve eco, eu queria-o feliz e fazer feliz, e com isso sentir-me (e sentia) feliz, esperando - sim, talvez esperando - que do outro lado houvesse vontade do mesmo: ser feliz tentando fazer-me feliz, fazendo-me estar bem. Com pequenas coisas, com brincadeiras, com gestos, com atitudes, com o querer cuidar, mimar e ver bem, feliz, tratar bem. Amar. Não houve eco, não houve atitudes. Não houve nada, a não ser, afinal, perceber que não, que não conseguia, que não queria. Nada. Abandono, só. Sempre.
E agora estou aqui, e parece que nem o mundo está de permeio, porque não está ninguém do outro lado. E parece-me que, como eu pensei que estava, nunca esteve. Tanto, que só eu vou à procura duma coisa de há anos atrás, só eu fui ver, só eu me lembro disto, só eu.

5 comentários:

catzii disse...

Como eu te percebo tão bem...

Joao Joannes disse...

E, espero que, nao seja só eu a escrever a estas horas...
E, espero que... tenhas uma boa noite...

:)

Eva disse...

Catzii: isso infelizmente não é nada bom... Quem não percebe nada disto está muito, muito, melhor.

João: pois estas horas são cada vez mais normais à minha falta de sono... Mesmo que só queira fechar os olhos e dormir.

Anónimo disse...

Eu só ainda não percebi se tens a ferida cicatrizada mas insistes em passar o dedo na cicatriz e lembrar-te do "acidente" que a causou ou se isto é simplesmente um constante "esgatanhar" da crosta sem a deixares cicatrizar.

Beijos

Eva disse...

Não, cicatrizada não está. Eu só sou esquisita, para esquecer e arrumar tenho de recordar, mastigar e escrever. Senão fica-me aqui tudo às voltas. Assim vou aliviando, e arrumando. O problema é que foram muitos anos e muitas e boas recordações. É tanta coisa que não entendo, tanta coisa que ainda tenho de processar. Mas aos poucos vai-se resolvendo.