Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

08 fevereiro 2015


(Ou acaso... )

"Diz Mallarmé: "o acaso deve ser fixado". Dizer: "amo-te", explicitamente, ou seja, enunciar o amor é, por isso, crucial: porque fixa um acaso, que é o encontro dos dois, num caminho, uma continuação, uma persistência, um destino. É a declaração do amor que transforma o que é potencial, talvez efémero, no que é construído, ou mais ainda, no que é eterno."


[há quem faça de dizer "amo-te" um acaso, há quem o diga sem fazer caso, há quem faça disso um caso bicudo e há até quem não o faça. Parece-me certo que quem o sente realmente está predestinado a dizê-lo, a enunciá-lo, a fazer disso não um acaso, mas uma declaração natural, porque quando se sente o "amo-te", guardá-lo, calá-lo, rebenta-nos pelas costuras. É rebenta todas as costuras, sai, acaba por romper-nos a boca, ou os gestos, ou os dias.  Dizê-lo é não só natural, mas uma necessidade, uma consequência, e até o alívio de mostrar o que se guarda, uma partilha, um destino. Difícil é saber distinguir qual o caso quando se ouve: se foi um acaso, se foi dito sem fazer caso disso, ou se se trata do sério caso de ser sentido. E aí o acidente fixa-se no que nos é eterno.]

Sem comentários: