foi demasiado longe na sua solidão
e soube – teve de saber –
que dali não se regressa
afastou-se – afastei-me –
não por desprezo (claro está que o nosso orgulho é infernal)
mas porque uma pessoa é estrangeira
uma pessoa é de outra parte,
eles casam-se,
procriam,
veraneiam,
têm horários,
não se assustam com a tenebrosa
ambiguidade da linguagem
(Não é o mesmo dizer Boa noite que dizer Boa noite)
Alejandra Pizarnik
(Tradução de Miguel Filipe M.)
(Tradução de Miguel Filipe M.)
[há solidões de que não se regressa, mágoas que não se curam, desilusões de que não se recupera, perde-se a esperança e a crença. A distância aumenta ainda que não nos mexamos, que não saiamos do mesmo sitio. Há algo que sai de nós sem pedir licença, sem aviso, sem cerimónia - abandona-nos. Às vezes sai e bate a porta com estrondo, outras de mansinho. Nem sempre é fácil saber se realmente saiu, que já não nos habita - às vezes parece que sim, outras descobrimos que não, que ainda cá temos tudo despedaçado à espera de ser colado. Uma coisa sabe-se, dói, porque a distância que aumenta é a ferida que abre, que rasga, por onde nos esvaímos. E deixamos. Mas às vezes é a purga que cura. Às vezes, outras só nos esvaímos. Somos estrangeiros de outras longínquas fronteiras, a língua que falamos ninguém entende, o que sentimos sem fronteiras não é pátria de ninguém. Os outros passeiam, riem, falam, estanques, parece que vivem. Dentro das suas fronteiras seguras, confortáveis e estéreis, o que não sentem - onde todos estão - não é casa de ninguém.]
Boa noite
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