Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

05 abril 2015

Em conversa disseram-me:
-...ao fim de vinte anos juntos um gajo já nem paciência tem para comer a mulher.
E eu respondi:
- não exageres, para isso vocês arranjam sempre paciência...
- olha que nao, pelo que vejo e ouço, é mesmo assim, o que acontece é que tem de se esvaziar os tomates... Mas é uma coisa mecânica, sem aquela vontade, e isso não é "comer"... É só mesmo vontade de esvaziar os tomates...
E aquilo caiu-me cá dentro como um eco do que já tinha ouvido, aquela mesma expressão tão dura, tão crua, tão feia.. Ouvi-a pela segunda vez na vida e a dizer exactamente o mesmo, precisamente a mesma mensagem. Fiquei a pensar que realmente há quem veja certas coisas como uma compensação, um aproveitar quem está ali à mão, um alívio, um aliviar de vontade meramente física,  por, no fundo, condescender estar com alguém que já não lhe interessa. Mas enfim, não têm razão para dizer que não, e precisam de esvaziar os tomates. E é triste, muito triste. Tudo. No dia em que a pessoa com quem eu esteja não tiver vontade de me comer, eu agradeço que não condescenda continuar comigo. Quando já não gostar de mim, que mo diga, não condescenda ficar comigo por quaisquer outras razões, e entretanto ir esvaziando os tomates. Não, eu mereço mais que isso, valho muito além de condescender ser uma condescendência para alguém.
Sou mulher de ter muito mais medo de ficar com quem não me quer do que de ficar sozinha.
Sou esquisita, paciência, e isso podem condescender à vontade.

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