É com agrado que constato a melhoria de qualidade dos espelhos em algumas casas portuguesas. De facto, denota-se nessa grande plataforma social, emoldurada em tons de azul o melhor, o mais bem aproveitado uso das distâncias nas fotos. Ou da distância entre a máquina que captura o momento e o objecto do momento (neste caso a própria pessoa que se identifica na dita plataforma através da referida fotografia), ou, em igualmente lúcida alternativa, da distância temporal entre o momento actual e o momento que há anos ficou registado. Em ambos os usos da distância ficam os objectos beneficiados, ainda que mais das vezes não favorecidos nos impiedosos registos fotográficos.
Apraz-me conferir que não faço estes usos das distâncias (nem sempre com bons resultados...).
Não me apraz perceber que poderá haver um "ainda" latente na frase anterior...
E ao escrever isto dou por mim a pensar que espero francamente que os espelhos de minha casa, onde me vejo e avalio longe dos olhos alheios, continuem a reflectir sem mentiras o que vêem e que isso não mude, ainda que a imagem reflectida se vá alterando. E que sempre me veja de perto, não me esconda em distâncias que me disfarcem os defeitos. Mas isto já nada tem a ver com fotografias públicas e sim com o aceitar da fotografia que nos tiramos em frente ao espelho, não tanto com o gostar ou não da estética do que vemos, mas de o aceitar pacificamente enquanto conjunto de defeitos e virtudes, que nos fazem, que somos, e que não foge nas distâncias. Ou se calhar até tem.
Sem comentários:
Enviar um comentário