Eva me chamaste
Fizeste das minhas costas o teu piano
Dos teus desenhos as minhas curvas
Da minha boca a tua maçã
Dos meus olhos o teu mar
Do meu mundo os teus braços
(...)
Fizeste das minhas costas o teu piano
Dos teus desenhos as minhas curvas
Da minha boca a tua maçã
Dos meus olhos o teu mar
Do meu mundo os teus braços
(...)
25 agosto 2014
Quando é que os casais começam a ser só companheiros e deixam de ser namorados? É com os filhos? Ou os filhos aparecem porque as pessoas deixaram de ser namorados e precisam de alguma coisa que os junte? Ponho-me a olhar para as pessoas e não consigo descobrir. Sei que quando quis engravidar ainda namorava, mas agora que penso nisso, não era apaixonada...
"- O problema é que estou farta do meu marido, senhor Budiño.
- Talvez esteja deprimida esta noite, senhora Ransom.
- Chame-me Mary, Ramon.
- Como é que sabe que me chamo assim?
- Está no folheto da agência.
- Você está deprimida esta noite, Mary. Isso acontece a muitas pessoas com o triste Carnaval. Deprimem-se.
- Não estou deprimida. Estou enfastiada do meu marido. Nada mais, é muito simples.
- Só esta noite ou sempre?
- É sempre, mas especialmente esta noite.
- E porque não se separa?
- Digamos que por preguiça.
- É um bom motivo.
- É, não é? Fez-me rir, Ramon, e eu não me rio facilmente.
- No entanto, fica muito bem quando se ri.
- O seu escritório fica muito longe?
- Chegámos, senhora."
Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume
[... E eu que sou tão, mas tão preguiçosa, não tenho destas preguiças. E destas facilidades, desta rapidez de arranjar um entretém. No entanto ao menos é capaz de ser mais sincera a resposta, é escusado complicar ou vestir a verdade de outras roupagens. Prefiro a sinceridade, mesmo que estúpida.]
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Livros
pois se calhar era uma ideia...
aliás, ideia que se calhar já alguns tiveram... vestem e despem cá com uma bolina...
... mas há vestidos que experimentam mais tempo e com mais vontade, e outros que nem chegam realmente a vestir põem assim à frente do nariz, acham muito giro, dizem que é lindo, mas não sei se chegam realmente a vestir com propriedade, vontade e convicção.
Seja como for o que não querem, despem e deixam no chão.
Vou pensar em começar a adoptar a mesma filosofia... é que chego à conclusão que quando tenho vontade de vestir e visto, normalmente é para levar, é para ficar, é porque quero.
Tenho de variar mais, vestir e despir, e deixar no chão. E eu que ainda não arranjei quem me despisse os vestidos novos que ainda não vesti.... tss tsss que tristeza.... aliás dei por mim a pensar há dias há quanto tempo ninguém me toca, a pele e a alma. Nenhuma das duas.
"Quando encontrar alguém
e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e,
neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso,
se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento,
perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa,
se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração,
agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.
Por isso,
preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR."
Carlos Drummond de Andrade
[de repente todas estas coisas perdem sentido, sei-as verdadeiras, mas inacreditáveis. Já não acredito, embora saiba que existem. Só não existem para mim, e com, sorte, não existem mais em mim, nem existirão. Empenha-se a alma, dá-se tudo, e nunca resta nada, a não ser mágoa e tanta coisa para desembrulhar... às vezes penso que mais valia não ter sabido, não ter descoberto nada, não saber agora que isto existe e é possível; depois penso que é o meu caminho, e nos caminhos da vida não há desvios, tudo é caminho. Mas estou cansada de caminhar, os pés doem-me a lembrar-me os caminhos que decidi percorrer doesse a quem doesse, e a única a quem doeu e dói, é a mim, está certo, a opção foi minha. Assim seja, não me queixo, mas analiso. Analiso-me, e aos outros, e desiludo-me muito. Demais, e não me entendo. Se calhar estas coisas acontecem mas nunca a par. Eu senti, mas fui a única. Se calhar ainda estou para comprovar que isto por de ser correspondido, recíproco, bom, afinal!!...]
23 agosto 2014
Pretty much so...
Sou uma malcriada... é o que é!!
...ou isso, ou dou o tratamento conforme o comportamento...
...uma das duas deve ser...
E hoje, hoje, agora desde há pouco, estou naquela ultima frase...
Há dias assim!!
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Tonta...
"Este é o momento, estou certo. Nos dias em que estive alegre, sempre me enganei, sempre acreditei no que não sou, na vida cor de rosa, etc. Nas noites em que me senti tão mal como que para chorar aos gritos, não chorei aos gritos, mas silenciosamente, tapado com a almofada. Mas aí também se exagera. Não se pode ser lúcido com o peito inchado de angústia ou desespero."
Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume
[grande verdade, a angústia e o desespero não deixa a lucidez ver nítido. Absorve todos os sentidos, todos os sentires e abafa toda a razão, apaga todos os raciocínios bem intencionados de ordem. Talvez a sabedoria seja deixar passar a angústia e o desespero, reconhecer a sua ausência consciente, para deixar a lucidez analisar e decidir.
E depois, o que se decide com lucidez não se duvidar, mesmo quando o desespero e a angústia nos faz faltar o chão e o ar, porque aí, decide o desespero o contrário da lucidez. E anda-se assim tempos sem fim.
E isto faz-me reformular: o que mais nos mostra o que realmente queremos? O que decidimos lucidamente, ou o que o desespero, no seu turbilhão, nos mostra? Se a lucidez assenta na razão e na calma de conseguir pesar e pensar, o desespero alimenta-se e encarna o medo extremo. O que é mais verdadeiro, maior? Não sei, não sei mesmo, porque o medo, o medo extremo do desespero, como todos os medos, serve para nos proteger; para ser tão intenso é porque protege alicerces fundamentais. Mas o medo, se nos protege do mal também nos protege de todo o possível bem que não chegamos a permitir possível. A lucidez raciocina demais e sente de menos. Algures no meio, onde se encontre uma lucidez sensível estará o melhor para nós.
Eu ainda estou no pós-desespero que queima. ]
Eu ainda estou no pós-desespero que queima. ]
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Livros
... Mesmo!!
É tão bom sentir-me livre apesar de tudo, dever sentir-me livre. Nada me prende, ninguém me tem presa, ninguém me quer presa a si, e isso dá vontade de ser realmente livre, ninguém nos querer prender daquela maneira boa, que é estar presa de livre vontade, e com muita vontade... Vontade só de um lado não conta e percebemos que a ligação não existe, nunca existiu, ainda que a sintamos, não queremos sentir, queremos ser livres dela, porque só a nós prendia, só a nós tocava... E uma ligação tem sempre dois pontos que se unem, se não tem, não é ligação, é vontade ou outra coisa qualquer, e o álcool pode ajudar....
Boa noite.....
22 agosto 2014
"- Por isso as grandes obras de arte se construíram sempre em redor do pecado.
- O que, no fundo, significa construí-las em redor de Deus.
- Naturslmente, porque sem Deus o pecado não existe. E construíram-se em redor do pecado, porque o pecado está proibido e tem castigo, e isso é o estético: o conflito entre a proibição e a culpa. Melhor dizendo, a arte é a faísca que resulta de friccionar a proibição com o castigo."
Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume
[...que melhor começo para a Eva, do que uma conversa não pecaminosa sobre o pecado??... ]
Boa noite
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Livros
21 agosto 2014
Já me disseram que eu tinha a alma grande, mas eu não sei o que é isso de alma grande, o que é isso do tamanho das almas... Sei que há almas que no seu tamanho são felizes; outras que se acham grandes porque são felizes, mesmo que a qualquer custo e de qualquer maneira; outras não percebem essa coisa dos tamanhos, ou para que serve, só queriam mesmo era que alguns momentos tivessem a sua alma toda, pequena ou grande. E que fossem muitos. Tantos quantos se puderem roubar aos dias e outros tantos às noites acordadas.
A única coisa para que a alma serve é para sentir a vida, a minha acho que se aposentou.
A única coisa para que a alma serve é para sentir a vida, a minha acho que se aposentou.
(eu também digo poucas coisas, calo-as e guardo-as, tantas; só os olhos
me dizem que não consigo calar... mas parece que nada disso basta,
parece que nunca nada basta ou serve...talvez fechá-los seja bastante.... ou deixar de ter o que guardar.)
... é o senhor desta frase o senhor que se segue...
só se pode esperar muito...
"Os cuidados de Matilde fizeram com que aquela gruta selvagem fosse ornamentada com mármores ricamente esculpidos em Itália.
A senhora de Rênal foi fiel à sua promessa. Não procurou de forma alguma atentar contra sua vida; mas três dias depois da morte de Julião, morreu beijando os filhos."
Stendhal, in Vermelho e negro
[acabou. E estas duas frases resumem bem estas duas personagens, e o amor para elas.]
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"O entusiasmo e a felicidade de Julião provavam-lhe como ele lhe perdoava. Nunca estivera tão louco de amor.
(...) que o crime que cometo é horrível, e mal te vejo, mesmo depois de teres disparado dois tiros sobre mim... - e, neste momento, Julião, contra sua vontade, cobriu-a de beijos.
(...) ... Mal te vejo, todos os deveres desaparecem, sinto apenas amor por ti, ou antes, a palavra amor é fraca demais. Sinto por ti o que devia sentir unicamente por Deus: uma mistura de respeito, de amor, de obediência... Na verdade, não sei o que me inspiras...
(...) Explica-me isto, bem claramente, antes que eu te deixe, quero ver claro no meu coração; porque daqui a dois meses deixar-nos-emos... A propósito: separar-nos-emos? - disse-lhe sorrindo."
Stendhal, in Vermelho e negro
[... Tão pouca razão e nenhum raciocínio... Por isso o amor desgraça tudo, e é ao mesmo tempo a única graça de tudo, em tudo. Desgracemo-nos então, ou viveremos para sempre desgraçados. ]
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É bom quando sentimos as pessoas voltar a nós, pessoas de quem gostamos e de quem nos custou afastar, por uma ou outra razão, mas com razão suficiente para isso. Quando se gosta, a distância só se impõe se for obrigatória ou resultar de se estar magoado. Aí acontece naturalmente, e é uma consequência amarga, mas a que não se pode fugir se formos verdadeiros connosco, com o que queremos das relações, e com os outros. Sempre que me distanciei foi por me sentir magoada, e é bom sentir que essas pessoas agora voltam a mim, que me procuram, que se preocupam. E isso é bom de sentir, e doce, e apaga as mágoas. E na fase da vida que estou, é bom sentir isso, sinto-me menos só e um bocadinho valorizada, afinal voltaram por alguma coisa, eu era-lhes e sou, alguma coisa. E isso, no meio disto tudo, é bom.
Bom dia!
"Teria sido sensível a uma ternura ingênua e quase tímida, enquanto que a alma altiva de Matilde necessitava sempre de ter a ideia dum público e dos outros.
No meio de todas as suas angústias, de todos os receios pela vida daquele amante, ao qual não queria sobreviver, ela tinha uma necessidade secreta de causar admiração no público com o excesso do seu amor e a sublimidade dos seus empreendimentos. Julião sentia-se de mau humor por não se comover com todo aquele heroísmo.
(...)
"É estranho", dizia para consigo Julião, um dia, quando Matilde saía da prisão, "que uma tão grande paixão de que sou objecto me deixe de tal forma insensível! E há dois meses adorava-a! (...) Sou portanto um egoísta?" E fazia a si próprio, a este respeito, as mais humilhantes censuras. A ambição tinha morrido no seu coração, uma outra paixão saíra das cinzas; ele chamava-lhe remorso, por ter tentado assassinar a senhora de Rênal. De facto estava perdidamente apaixonado por ela. Sentia uma felicidade estranha quando, deixado absolutamente só e sem receio de ser interrompido, podia entregar-se completamente à recordação dos dias felizes que passara em Verriéres e outras vezes em Vergy. Os menores incidentes desses tempos, tão depressa decorridos, tinham para ele uma frescura e um encanto irresistíveis. Nunca pensava nos seus êxitos em Paris; aborreciam-no."
Stendhal, in Vermelho e negro
Impressionante, vem tudo nos bons livros (até aquela curiosidade minha daquele prazo inexplicável dos dois meses, pelos vistos é universal e eu não sabia!!... Santa ignorância!), aquilo que se faz com um propósito, com um futuro, com um fito, deixa de existir quando estamos perante algo que nos obriga a fazer o balanço da vida, a recordar o que nos tocou e valeu viver. A vida que sentimos ao longo da vida. O que vivemos sem um propósito, o que vivemos sem razão alguma que não fosse apenas vive: quando vivemos o agora - sem futuro, ou sem pensar nele. Tudo se relativiza, e só sobrevive o essencial, o que nos fez sentir felizes e vivos, o resto enevoa-se e esquece-se. Quando o propósito ou a razão se dissipam, tudo isso desaparece com eles, fica o que se viveu por gosto e vontade de viver.
O que fica foi o que nos tocou, o resto foi tempo que passou e que não tocámos, passou só.
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20 agosto 2014
Durante a noite acordei várias vezes a pensar em amoras, não porque as queira comer, ou me apeteçam, mas porque devia estar a sonhar com alguma coisa. Alguma coisa que tinha a ver com chamares-me doce de amoras... e eu rir-me e perguntar porquê, e dizeres-me que era o mais parecido com amor. E eu gostava dessas coisas doces, tontas e nossas, ou que eu achava que eram nossas...
Acho que durante a noite descobri que se nunca me amaste, se calhar me "amoraste", outro verbo doce "made by you", mas este não faço ideia do que queira na realidade dizer, em que se poderia traduzir.
Aliás, como uma vez me tentaste explicar a diferença entre amoras e mirtilhos, porque para mim são parecidos, eu acho mesmo é que me confundi no sonho, na verdade tu mirtilhaste-me, e bem!!
Mas pronto é tudo fruta, fica tudo em familia.
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