Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

02 março 2010

É o medo necessário para evitar ficar só, mas acompanhada. A pior companhia que nos podem oferecer é aquela que nos abandona à solidão. Antes o medo. E a esperança, ainda que ténue, ainda que intermitente, ainda que fraca, ainda que desesperante, mas é uma janela aberta para o mundo. Mundo de possibilidades. De nos magoarmos, mas de sentirmos. De adorarmos e sentirmos. De adorarmos e fugirmos à solidão. De adorarmos e sentirmo-nos adoradas, completas, de alguém. De alguém em nós e de nós em alguém... irremediavelmente.

01 março 2010

Há pessoas que dizem adoro-te como dizem gosto de ti, como dizem gosto de morangos, depois há pessoas que dizem que têm saudades sem se lembrar se as tiveram ou não. Há pessoas que não dizem nada e têm, têm muitas saudades caladas, depois há outras que de vez em quando, no meio do ruído surdo das conversas banais sussurram "gostava de estar aí", assim, sem nada o pedir, sem nada o antever. E esses sussurros roubados ao ruído instalam-se no nosso silêncio, na nossa alma como uma música que não se cala nunca, como um canto encantado que toma a nossa existência e torna-se senhor do brilho dos nossos olhos e do sorriso que nos surpreende as feições. São sempre as coisas mais raras que mais nos tocam, porque essas guardamo-las bem no fundo de nós, como que escondendo os nossos pequenos tesouros, protegendo-os para momentos, em que por vontade própria saltam da alma que os guarda... e me assaltam para sempre o espirito.

19 janeiro 2010

chorei sem ter chorado

O choro daquele ser que acabara de ser sem saber chegou-me cá dentro duma forma avassaladora...Berrava o desespero de acordar num lugar estranho, frio, longe de tudo o que conhecia, de quem conhecia, sem saber que era,sem saber que ele próprio existia já. Buscava incessantemente, num choro que me dilacerava a alma, a única coisa que conhecia... a mãe. Aqueles berros desesperados, de terror, de vontade da mãe, tocaram-me e apercebi-me da enorme inveja que tinha daquele bebé. Também eu gostava de poder berrar por quem me desse paz, por quem me fizesse sentir completa, sem saber que o sou já e inevitavelmente, não o sentindo... a minha vida é agora também uma vida que se sente desgarrada, onde tenho de respirar, de pedir, de chorar, de ansiar pelo calor e pela segurança, tal como ele. Quis pegar nele e levá-lo à mãe, fazendo por ele o que por mim não posso. Invejei-o pela paz que iria encontrar pouco depois no carinho do colo ternurento da mãe. Os seus berros de dor, de angústia, encontraram eco em mim, o meu choro juntou-se ao dele, sem lágrimas, sem soluços, sem berros, sem que ninguém ouvisse, chorei sem ter chorado.

17 janeiro 2010

Tempo

Há pessoas que têm tempo a mais, pessoas que têm tempo a menos. Há as que queriam mais tempo para si, outras que queriam mais tempo para os outros. Há os que acham que já viveram tempo demais, não pelo que viveram mas pelo que resta viver, e há os que acham que ainda viveram pouco, que queriam já ter vivido mais, tentando engolir o tempo sem o mastigar. Há quem mastigue tanto a vida que já viveu que se esquece de viver o tempo que tem. Agora. E eu, eu não tenho tempo para esperar que vejam que o tempo é para se viver, que quanto mais se espera menos se vive. Quero tudo para ontem, ou para já, agora. O tempo que se espera é tempo que se perde, que morre a cada segundo que nasce um novo, que temos de aproveitar o nosso tempo e fazer as unicas coisas que podemos controlar na nossa vida. E isso é estar com quem queremos, com quem gostamos, com quem nos dá prazer e nos faz sentir felizes, bem com o tempo que vivemos, que temos. Não há tempo para estar com quem não se quer, com quem não se gosta, quem não nos completa e faz fibrar, porque isso é uma especie de espera, de quem espera que um dia a vida lhe aconteça. E às vezes acontece. E depois? Depois quer tudo para ontem. Para já. Aqui. Porque quando se está com quem se gosta o tempo não se sente correr, o tempo deixa de ser pesado e imposto. Tudo fica suspenso. Penso eu... que olho pela janela e vejo a paisagem a correr no comboio do tempo, que não pára, em que não há apeadeiros, quando pára, sai-se e não se entra mais. Há que aproveitar a viagem e principalmente não sentir que se viaja, apenas que se vive. Sem tempo.

10 janeiro 2010

silêncios

No silêncio cabe tanta coisa. Cabe o que calamos e queremos dizer e cabe o que simplesmente não queremos dizer. Cabe tudo o que queríamos ouvir e tantas coisas que ouvimos. Há silêncios cheios de ruídos ensurdecedores e há silêncios puros. Há silêncios constrangedores e há silêncios partilhados sem constrangimentos. No silêncio tudo é verdade, tudo pode ser verdade até a mentira de pensar que no silêncio cabe o que não está lá. Que o silêncio não cala, apenas não há verdadeiramente o que dizer...

Ouvir-te o que quero dizer-te

Se eu pudesse dizer
Não sei que diria
Melhor
Seria ouvir-te
O que quero dizer
Ouvi-lo do teu corpo
Segredado ao meu
Nesse instinto selvagem
Roubado à razão
Que te emudece
E me ensurdece

Cama fria

A cama fria é que eu ressenti, o acordar durante a noite e ter frio, sem qualquer alteração que não o lado da cama vazio...estranho...tudo o resto não me causou estranheza, não me falta, não sinto que me falte (ainda) nada e apetece-me até dizer que agora me sobram coisas...tempo, e não digo que sobre por não saber o que lhe fazer, mas que me sobra para que possa fazer o que quero... Tempo para mim foi o que ganhei, e tranquilidade, muita tranquilidade... para agora me redescobrir e pensar o que fazer da minha vida neste 2010 que agora começa cheio de mudanças e de esperanças e de vontades... Sinto que algo em mim mudou, não sei se para melhor se para pior, mas sinto que algo de muito genuíno nasceu neste processo... a vontade de ser eu, de não me esconder, de querer, de querer viver e arriscar, de me lançar na vida sem medo de me magoar...que me magoem. E não que duvide que me possa, ou vá, magoar, só agora vejo que assumir que não quero ser magoada é assumir que não quero arriscar ser feliz.

06 janeiro 2010

10 coisas que os homens deviam saber sobre as mulheres

Depois de ler muitas respostas ao desafio lançado pelo Capitão Microondas no seu blog, resolvi também tentar resumir a façanha a 10 coisas que os homens deviam saber sobre as mulheres... e não foi fácil, nós somos complicadas. Muitas vezes não sabemos exactamente o que queremos, e apenas as mais elucidadas sabem bem o que não querem (o que é já um grande avanço)… mas temos verdades fundamentais: queremos sentir-nos amadas, desejadas, reconhecidas e seguras (dependendo do departamento, convém não exagerar nesta dose…). Para isto vocês têm de :
1- Saber dosear a conversa carinhosa com a sacaninha (dentro do bom gosto). Quando em presença de mais gente saber usar e perceber a cumplicidade que permite conversas sacaninhas que só os dois percebem…
2- Comer-nos bem e com vontade… como se não houvesse amanhã, e fazer-nos acreditar que só nós vos damos tesão, isto deve ser difícil… mas olhem… desunhem-se! É que irrita até mais não, sabermos que nunca vão ter a Angelina Jolie mas só por ela não querer… porque se quisesse… nem pensavam duas vezes.
3- Não se fazerem de machos energúmenos e fazerem de conta que não têm ciúmes nenhuns… mas obviamente não exagerar na dose do ciúme e entrar no abuso nada saudável.
4- Serem homens seguros de si, com auto-confiança visível mas sensível, daqueles que só a presença faz-nos sentir mais seguras, mais protegidas (mas não nos tratem como crianças…por favor!), que quando nos agarram “daquela maneira” que nos suspende o desejo por fios sabemos estar com um HOMEM.
5- As mulheres gostam (não sei se será bem o termo, mas…) tanto ou mais de apreciar gajas, por isso podem apreciar também e até comentar q.b., até para podermos perceber o que vos desperta o interesse. Não é aconselhável é comer gajas com os olhos ao nosso lado e fazer de conta que não viram nada, "hammm.. o quê amorzinho? Ahh.. não vi nada… gira ela? Não sei, não reparei"… isto tira-nos do sério é que fazem-nos de parvas e ainda por cima por causa duma gaja que passou… Devo dizer aliás que pode ser uma actividade interessante ter uma sessão de apreciação de gajas em conjunto… desde que no fim… nós possamos acabar a bater-vos sem dó nem piedade mal a porta de casa se feche atrás de nós… e fazer-vos pagar e assegurar-nos que vos vamos deixar num tal estado de exaustão, que não haveria forças nem vontade para mais ninguém… no processo convém convencerem-nos de que tesão, tesão só sentem connosco (remetendo para o ponto dois de extrema importância). O resto é apreciação de montras.
6- Fazerem-nos sentir seguras, e isto inclui apreciar as nossas qualidades e reconhecer os defeitos como normais e não impeditivos de nos adorarem. Fazerem-nos sentir que estão bem, que se divertem, que gostam de conversar connosco e que dão importância ao que dizemos, que querem a nossa opinião para decidirem até coisas da vossa vida, e ainda que não a sigam, consideram importante ouvirem-nos. Essencial mesmo é fazerem-nos sentir competentes na tarefa de nos fazer felizes enquanto par (não de vos fazer felizes… que é pouco, e no fim dá mau resultado pensar só em vocês).
7- Ser cavalheiros sem dar uma de macho que se sente ofendido quando, de vez em quando, queremos pagar o jantar ou o café. O cavalheirismo não caiu em desuso e não é ser totó, aliás carrega um homem de charme o ser verdadeiramente cavalheiro (não vale é publicidade enganosa, quando o “cavalheirismo” de repente desaparece como se tivesse prazo de validade).
8- Ajudar nas tarefas de casa e com os miúdos. Principalmente se tiverem jeito com os miúdos e paciência e aquela inocência que só se recupera quando se está com os putos. Não há nada melhor e torna-vos muito sexys… dá às vezes uma vontade irresistível de vos atirar contra a parede e…
9- Nunca, mas nunca, olhem para uma mulher que se arranjou para ir ter com vocês e digam: “Estás bonita” como quem diz “Hoje choveu.” É preferível não dizer nada. O ideal é mesmo não dizerem nada e o vosso olhar dizer tudo, e isso fazer-nos sorrir por dentro e por fora.
10- Surpreendam-nos. Pode ser um mail, uma sms, um telefonema, qualquer coisa que diga (ainda que não directamente) que estavam a pensar em nós, que ainda gostam de nós assim… desenfreadamente. Pode ser a mala feita de surpresa sexta ao fim da tarde quando chegamos a casa e levarem-nos par um fim de semana em qualquer lugar. Não façam disto rotina, isso corta o efeito todo. Se o fizerem bem derretem-nos, e garanto-vos que vão gostar do resultado…
Se conseguirem seguir estas dicas, ou pelo menos o espírito da coisa, o mais certo é nós andarmos tempos sem fim caídinhas por vocês, mas atenção, nunca, mas nunca nos tomem por garantidas e também nunca nos deixem pensar que vos temos na mão, senão perde a graça toda...

15 dezembro 2009

Tropeçar na vida

A vida é engraçada, de repente e sem aviso dá-nos aqueles momentos únicos que transformam toda a nossa vida, que de repente nos revelam um mundo tão completamente diferente do que conhecíamos até aqui... como se de repente alguém nos dissesse que o que víamos não é o que é, mas apenas uma pequena parte do que, de facto, está lá para ver e viver...à espera de ser visto e vivido... à espera que abramos os olhos. É como ser cego e de repente apercebermo-nos de que tudo aquilo que conhecemos, que adivinhamos, com todos os outros sentidos é, afinal, existe noutro formato, mais completo, mais rico, mais colorido, e que, na realidade, faz muito mais sentido... de repente percebemos as cores... sentimos a frescura do verde, o quente do amarelo, o desconcertante do laranja, a doçura do rosa, a clausura do preto e a liberdade do azul- Com isto antevemos um mundo de possibilidades, de todas as variações e combinações... E o pior é pensar que tudo isto, toda a realidade sempre existiu, sempre esteve lá e nós, nós nunca vimos, nunca quisemos abrir os olhos... e um dia... tropeça-se em alguém e abrimos os olhos mesmo a tempo de nos ver cair e estatelar no chão... Mas quando nos levantarmos olharemos em volta e veremos que o mundo, o admiravel mundo é agora colorido com pinceladas de intensidade, de beleza, de vida, de magia, de tudo...até de dor... duma forma muito mais completa...

11 dezembro 2009

A razão de ser

Este blog será talvez o primeiro passo duma nova vida, duma nova fase, que não será boa nem fácil, donde vão nascer muitos textos, que agora decidi, sob o escudo do anonimato, partilhar com quem quiser ou tiver paciência de me ler... todos os fins são recomeços, são novas oportunidades de lutar pela nossa felicidade... luta que nem sempre ganharemos, mas que também não perderemos sempre. Há que arriscar... há que ter ganas de trincar a maçã... e ver o que nos espera, o que a tentação de querer mais nos devolve... a beleza desta vida é mesmo essa... o amanhã é sempre uma surpresa... não há certezas de nada... às vezes nem do que verdadeiramente queremos, mas se tivermos certeza do que não queremos já é um passo...o resto vamos fazendo um dia após o outro, procurando fazer sempre diferente e fazendo deles o melhor que podemos, sentindo tudo o que há para sentir... porque afinal a vida resume-se apenas ao que sentimos e ao que fazemos sentir... fugir de sentir é sobreviver. E há que sentir tudo... paixão, amor, amizade alegria, êxtase, angústia, desespero, solidão, mágoa, dor... até tudo se esgotar e nos esgotar para renascermos mais fortes, melhores, com mais medos, com menos certezas... mas muito mais completos...
A razão de ser deste blog é esta mesmo: viver tudo, tudo com intensidade, e escrever, porque isso está em mim e faz parte de como eu sinto as coisas, como as descodifico, como as penso, como as assimilo e como me entendo até...

Quando a porta bater

Eva me chamaste
Fizeste das minhas costas o teu piano
Dos teus desenhos as minhas curvas
Da minha boca a tua maçã
Dos meus olhos o teu mar
Do meu mundo os teus braços
Decalquei na memória os sons
Gravei no pensamento as imagens
Impregnei-me de nós por todos os poros
Quando a porta bater levas-me contigo
Sem saber
Levas os dedos do meu piano
Levas as curvas do meu desenho
Levas a minha maçã na tua boca
Levas o meu mar nos teus olhos
Levas o calor dos nossos braços fechados
Quando a porta bater… só.