Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

28 março 2013



Para te ver bastava fechar os olhos com força e eras outra vez tu, igual a ti própria. O abismo entre querer-te e ter-te afundava-me. A doce paz de te sonhar trazia consigo uma discórdia infinda, de mim para comigo.
 Não sabia onde estavas, com quem, de que maneira.

Pedro Paixão

É tão natural
que eu te possua
é tão natural que tu me tenhas,
que eu não me compreendo
um tempo houvesse
em que eu não te possuísse
ou possa haver um outro
em que eu não te tomaria.
Venhas como venhas,
é tão natural que a vida
em nossos corpos se conflua,
que eu já não me consinto
que de mim tu te abstenhas
ou que meu corpo te recuse
venhas quando venhas.
E de ser tão natural
que eu me extasie
ao contemplar-te,
e de ser tão natural
que eu te possua,
em mim já não há como extasiar-me
tanto a minha forma
se integrou na forma tua.

Affonso Romano



[sim, é tão natural que me tenhas, que eu te tenha, que parece não ter havido tempo antes disso - como se isso fosse a eternidade, como se o presente fosse a eternidade na memória teimosa. O tempo parece antes de ti não ter existido como o absurdo mais natural do mundo. antes de ti nada, e no entanto, a cada esquina do tempo que se dobra, há a sombra da tua ausência, há o vento que assobia o regresso do tempo absurdo, que nunca parece ter acontecido, de não me tomares e de eu não te ter. é o absurdo do antes tornar-se o meu futuro. absurdo. outra vez e sempre. o absurdo do tempo nunca ter existido antes de ti e voltar a não existir no futuro. como é que se tem um futuro num tempo que não existe? absurdo.]

27 março 2013

Boa Noite
(e que boa que ela poderia ser até de manhã, bem aninhada, a dormir assim)


‎" A única forma de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça,
aparar-lhe as unhas não serve de nada".
Saramago

[primeiro tenta-se domesticar o dragão, vamos-lhe aparando as unhas para arranhar menos, com o tempo percebemos que os dragões têm uma natureza diferente da nossa, por muito que lhes aparemos as unhas, serão sempre dragões - se os queremos liquidar só cortando-lhes a cabeça. Depois ficamos a pensar se o queremos matar mesmo, ou se isso nos mata também em vez de nos aparar as unhas.]

26 março 2013

Há dias em que me apetece fugir, 
outras em que me apetece deixar que o fim me apanhe...
 acho que não há muita diferença, se é que há alguma... 
ando a ficar muito cansada de tudo...
 preciso de férias de mim e dos dias.
Bom Dia!

Boa Noite

25 março 2013

... eu diria que é principalmente quando estamos zangados - essa é a diferença para quando se ama. 
Cuidar, tratar bem, pessoas que de alguma forma nos são próximas a alguma altura da vida (ou até não sendo próximas), e que nos deixam bem dispostas e alegres - amigos de copos e confusões- é fácil, 
mas só se cuida quando estamos zangados quando amamos. 
E isso é que é lindo (como diz o outro)...

24 março 2013


ODE AO AMOR. 

Ainda em desamor, tempo de amor será.
Seu tempo e contratempo.
Nascendo espesso como um arvoredo
E como tudo que nasce, morrendo
À medida que o tempo nos desgasta.
Amor, o que renasce.

Hilda Hilst 


[Nunca tinha pensado nisso, mas é verdade: o desamor é ainda amor - é a falta dele, havendo-o  em modo unilateral, havendo-o onde é sentido: do outro lado. Não havendo amor também desamor não há. É o lado em que não sentem. Nada, nada do amor que irradia - a sentir - apenas o calor de quem o tem e não consegue deixar de entragar. Não sentem de dentro, mas de fora porque alguém o sente de dentro.]



Boa Noite

23 março 2013



Não são os meus pontos fortes.
Nem a coragem nem a paciência.
Nem sei quais serão os meus pontos fortes.
Há dias em que achamos que não valemos nada.
Mesmo nada, para ninguém, nem para nós mesmos, que é o mais grave; 
tudo fica sem sentido.
Apetece fechar os olhos e não nos cansarmos mais a respirar.
Apetece escondermo-nos na nossa própria escuridão e deixarmos de sentir que existimos. 
Deixarmos de sentir.
Bom dia.

22 março 2013


Há frutos que é preciso
acariciar
com os dedos com
a língua 

e só depois
muito depois

se deixam morder.

Jorge de Sousa Braga


[tudo precisa amadurecer, até a vontade.
 A vontade de morder e de ser mordido.
 A vontade é o sal do fazer.]
...já estou farta de frio, de chuva, da roupa de inverno que já pesa. 
Quero o sol e o calor, e os óculos de sol, e as esplanadas cheias, e os phones nos ouvidos e um livro na mão que me tire do meio do mundo.
Quero calor, e flores, e acreditar que a vida precisa de tão pouco para ser boa!!!
Bom Dia!


Promete-me.
Promete-me que todas as promessas que me fizeres são como votos sagrados num altar erguido para nós: onde quer que seja, como quer que seja.
Promete-me: nunca vais deixar de dizer-me o que te vai dentro, nunca vou ser uma turista de ti, mas alguém da casa a quem não se esconde a desarrumação.
Promete-me que sempre que te zangares comigo vais mostrar-me o porquê, como o caminho para um lugar que eu não conheço – e sabes como sou desorientada – terás que, quase, me levar pela mão, ou arriscares a que perdendo-me, me percas.
Promete-me: sempre que faças algo que não gostas - ainda que o faças - mo dizes: para que saiba o que não te pedir (a não ser quando, danada contigo, merecidamente te quiser irritar).
Promete-me: diz-me que gostas de mim sempre que tiveres vontade... mesmo que estejas zangado comigo: principalmente -  nunca deixes de mo dizer - quando estiveres danado comigo.
Promete-me que discutes comigo quando alguma coisa não estiver bem: quem não discute não ferve, entrou no tanto faz fez, como fez faz – já nada interessa nesse marasmo podre em que se entra, e quase nunca se sai. Enquanto se discute ainda há vida a tentar viver.
Promete-me amar-me inteiro enquanto inteira me amares: quando deixares de amar, não finjas: diz-me. Diz-me como conseguires e sem crueldade, que o amor ficou órfão, mas livra-te de qualquer piedade.
Promete-me que nada do que fizeres é fruto de qualquer promessa, mas de espontânea vontade de não haver órfãos de nós entre nós.
Promete-me que entendes que não quero que prometas coisa alguma: apenas que entendas que é isto, que sem te prometer, terás de mim - e que gostaria de esperar de ti, sem promessas.
Prometes?

21 março 2013

"Uma pessoa é grande quando perdoa, quando compreende, 
quando se coloca no lugar do outro, 
quando age não de acordo com o que esperam dela, 
mas de acordo com o que espera de si mesma."
Martha Medeiros

Bom Dia!!
chhhuáác

18 março 2013