Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

05 dezembro 2014


"Eu a amava, em suma.
E era infeliz.
Mas como poderia ela algum dia entender essa minha infelicidade?
Há aqueles que se condenam ao cinzento da vida mais medíocre porque tiveram alguma dor, alguma desgraça; mas há também aqueles que o fazem porque tiveram mais sorte do que poderiam suportar..."

Ítalo Calvino

[Não consigo entender esta lógica, este princípio de vida que me parece mais um fim da vida, lento e em agonia. Cinzento por opção, paz podre por escolha cómoda, zona de conforto infeliz. Não entendo, ainda não entendo, e tenho esperança de nunca, mas nunca, vir a entender. Ainda menos quando o fazem por medo de serem felizes, de não saberem se conseguem, ou sabem, ser felizes. Pelo medo de poderem descobrir que afinal tudo era uma ilusão que um dia nos cai pela cabeça abaixo, feita desilusão que nos arrasta, como se escolher a agonia não fosse já essa certeza, essa desilusão já mais que amargada, medida, testada e assegurada. Essa miséria bem encaixilhada, não mais que uma miséria em que nos habituámos a viver, a lidar, onde já não esperamos perder nada, porque simplesmente já não esperamos nada. De nada. Onde a cobardia de fugir à possível dor da desilusão se torna na coragem mal maquilhada do sacrifício duma vida por viver, em nome de algo que não conhecemos nem pelo nome.

Adquiri dois livros deste senhor, um para oferecer (à espera de o ler na mesma, claro...), e outro para consumo pessoal. Aconselharam-me este senhor, que era bom e eu ia gostar... depois digo. Agora ainda ando aos saltos no Rayuela, que gosto, gosto muito. Anda-me a apetecer outra vez ler, ler muito. É sempre a mesma coisa... mergulhar na vida onde a há, se não na minha na que vivo através das histórias que alguém escreve e que vivemos pela mão de alguém mas na primeira pessoa. Aprende-se na mesma, sofre-se também, e pensa-se, pensa-se muito sobre aquela história e a nossa e as que não chegaram a ser nossas, mas de as pensarmos já o são, um pouco pelo menos. E pensamo-nos e conhecemo-nos, e às vezes somos felizes fora de nós, ainda que por dentro da nossa visão duma história que fazemos nossa pelo olhar, e que nos faz fechar o livro e os olhos tantas vezes para nos imaginarmos, nos pormos na história, sermos a história sem deixarmos de ser quem somos. E eu voltei a isso. Sem vida é que não sei viver. Cada um a arranja onde pode, é o que é!!...]

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