Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

07 março 2015


Esta é uma frase que eu adorava poder dizer. Que acho. Que acho que gosto de ti. Haveria uma esperança, uma esperança de poder estar errada, de poder não gostar. Pois não posso, não consigo dizê-la. 
Talvez o que nos define seja aquilo que sabemos e como sabemos, e o que não sabemos e vamos tentando saber, descobrir - ir achando, em tentativa erro. Talvez não sejam as atitudes, como todos dizem, que nos definem, mas sim o que sabemos e não sabemos, e o que fazemos da vida tricotando estas malhas. Ou as atitudes são afinal esse tricotar, se calhar. Eu sei poucas coisas, certezas então tenho poucas, perguntas tenho sempre  de sobra. Talvez as minhas perguntas e as minhas dúvidas me definam melhor do que o pouco que sei, ou acho saber. Mas do que sei, as dúvidas alheias não me abalam, se eu sei é porque sei como sei. As dúvidas que me põe não me fazem duvidar, principalmente sobre o que sinto (mas que é natural que noutras pessoas possa suscitar dúvidas, isso entendo). Talvez nem sempre saiba mostrar o que sinto, mas as dúvidas dos outros não me fazem questionar o que sinto. O que se sente é uma coisa que se passa por dentro de nós, é impermeável às dúvidas dos outros, embora tão permeável ao que eles nos mostram - porque é também fruto disso, ou ainda mais daquilo que lhes vemos mais do que mostram. 
Eu não acho que gosto, e não acho que sou teimosa, eu sei que gosto, se digo que gosto, e sei que sou muito teimosa. Não em tudo, mas em muita coisa se quero e gosto. Eu teimo se calhar tempo demais, mas agora de repente acho que dez dias é o mesmo que ontem, que é o mesmo que amanhã, ou já daqui a uma hora, porque há coisas que se acham que não importam. Acham. Mas eu teimo com esta ideia. Eu acho que há fomes que doem de vontade, sei que dói muito, porque a mim me dói todas as noites. Há fomes que são de pele, de qualquer pele, e há fomes que são de carinho e afecto e ternura e desejo de alguém - não alguém que engane a fome, alguém que seja a fome que não se cura, nem se engana. Eu acho que quando se tem uma fome dessas não há outra pele que nos alimente, que nos cure da vontade, que nos deixe descansar. Acho, mas estou com tanta, mas tanta vontade, de perceber essa coisa de enganar o estômago, de apaziguar a pele, de esvaziar a vontade, só para perceber se essa atitude diz de mim alguma coisa diferente, se isso diz alguma coisa. A alguém. Mesmo que eu continue a dizer o mesmo e que sou a mesma, que gosto e quero o mesmo, que o que interessa é quem temos por dentro, de quem gostamos - ou para alguns, de quem achamos que gostamos - e que o resto não tem importância  nenhuma. 
Afinal, no fim, talvez eu ache que não tem, e que não consigo achar que gosto de ti, na mesma, porque isso não muda - eu sei que gosto, mas a pele grita para que a esvazie de toque, de desejo, de tesão. Afinal é só uma atitude. Acho eu. Não tem de querer dizer nada. É enganar o estômago, ou alguém. Não achas?

6 comentários:

Anónimo disse...

Eu acho que devias experimentar enganar o estômago com outra pele. A perder não tens nada e nunca se sabe se não ficas a ganhar ;-)

Beijos e bom fim de semana!

Eva disse...

Pois, eu sei que também devia achar isso. ..

Anónimo disse...

Não interessa o que achas, interessa mais o que fazes.
Faz e pensa depois no assunto. Não penses antes.

Beijos e boa semana!

Eva disse...

resposta tipicamente masculina, e da parte masculina que eu não gosto mesmo - ou nestas matérias não gosto, talvez noutras seja bom deixar-nos ir atrás do impulso (mais do que do impulso deve-se ir atrás do que se sente, mas isso parece raramente impulsionar as pessoas, falta de sentir, diria eu...), nestas, realmente não gosto, nadinha mesmo, dessa teoria... faz e depois pensa... na merda que fizeste.

Boa semana!

Anónimo disse...

Não sei o que é isso, do "tipicamente masculina". Eu não vejo o homem do "tampa levantada da sanita", o homem do "mais forte", ou o homem padronizado. Vejo comportamentos humanos e respostas/necessidades comportamentais.
Se à partida estás a pensar que alguém faz e tem que pensar na merda que fez, então o teu padrão de comportamento humano que esperas é que está completamente errado. E isso não é resposta tipicamente feminina ou masculina. É resposta tipicamente errada.

Eva disse...

Oh meu menino o que eu disse da resposta tipicamente masculina é a parte de nestas matérias aconselharem "faz e depois pensa", porque pelo que tenho notado é o que fazem... O que dá muitas vezes para se fazer merda mas só se pensar depois...
Quanto ao homem do "tampa levantada" também não o vejo há muito tempo e é reclamação tipicamente feminina que nunca fiz,aliás nunca a entendi, porque se ele tem de a levantar, não vejo qual o problema de eu a baixar. É o trabalho inerente à utilização da mesma. Sim há respostas e perguntas típicas mas nada nos impede de sermos atípicos e não é ofenda nenhuma (nem o típico nem o atípico).