Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

29 dezembro 2014

eheheheh
...está boa, sim senhor...
e também se aplica no masculino.

Bom Dia



"Encontrei isto num livro: os rios arrastam com eles a imagem das cidades que atravessam. 
Amo-te, 
Mário."

Al Berto, "Os Jardins do Paraíso"

[tem piada saber que alguém ficou desde ontem a pensar nesta frase porque antes de lhe oferecer o livro pedi que lesse dois ou três paragrafos, e parou nesta frase... A dizer "esta frase tem qualquer coisa..." E eu perguntei-lhe de jacto "e o que achas que ela quer dizer?"
Porque me lembrei que me disse que faço poesia com o meu dia-a-dia nas minhas descrições rápidas impensadas, e que lhe ensinei a ler poesia, a sentir o além palavras que as palavras dizem sem dizer, que está na poesia.   Que é a poesia. Sentir mais que perceber. 
Oferecer um livro dum autor que gosto, cuja escrita transpira poesia, mesmo que prosa, e a pergunta, reguila quase em desafio, para ver se tinha aprendido realmente. E ri-me, e não respondeu. Hoje, há pouco, disse-me que a frase não lhe saiu da cabeça. E não descansou enquanto não respondi à minha própria pergunta, que recebeu de cara estampada de quase espanto... Acrescentando, fartei-me de pensar e tinha muitas hipóteses de interpretação naquele contexto, nenhuma era essa, mas bolas tens razão. Acabo sempre a dar-te razão. E eu ri-me. Pensei em todas as vezes que não quis ter razão e ma deram, ou a vida acabou por ma estampar na cara. E eu sabendo-o era como se nunca o esperasse, sabendo estar sempre à espera. 
A vida tem uma ironia fina a que sempre tiro o chapéu. E o sorriso.]

Boa Noite

28 dezembro 2014


... E eu agora vou ali remendar-me um bocadinho 
enquanto me coso a um café!!
... Que parece-me que já são horas...

Bom Dia
Meiga e viva, sim.
Magoo- me e cicatrizo. 
Assim espero.
Há coisas boas, a vida - quando se sente nas veias e a dar trabalho ao coração -, é uma delas.
Assim seja, e continue assim.
Com o dia a entrar-me pelas janelas agora e o dia a invadir-me a retina, quente e quase sorridente, vou fechar os olhos e esperar que amanhã seja pelo menos tão bom como hoje. Chorei e ri.
É bom poder ser eu até aos ossos e não ter medo disso.
Medo que cedam, que mos partam ou torçam.
É bom. Ser eu. Só.
Há coisas boas. Ainda. 

Boa noite

27 dezembro 2014

....hummmm tomar um café? 
Ao sol e com este frio, a cama fugirá de certeza...

Bom Dia



Se me tocassem agora
Não iriam além de aflorar a armadura
Nem mesmo tu
Que me tocaste despida de pele
Que me desfloraste a alma
Me desarmarias
Armaram-me armadilha
Ao desamor devir.
Desamaram-me demais
Desarmar-me agora só amar-me
Demais

[há sempre tempo para mais um cigarro que fala o silêncio e eu escrevo]


"Não procuro vantagem nem me interessa
tirar qualquer benefício
de te amar.
Apenas busco um ombro onde a cabeça
retome o exercício
de acreditar.

E não desejo outro ofício
em que me ocupar."

Torquato da Luz

[... "o exercício de acreditar"... Será um exercício, uma vocação, um defeito ou uma virtude?
Era bom que fosse um exercício, uma prática, que se pudesse desenvolver, ou até partilhar, mas como tantas coisas, parece-me que não se exercita, nao se procura, não se força, ou não funciona. Ou se acredita ou não, sem razão aparente ou fundamentada, é uma questão de fé. Fé no coração do ombro que a nossa cabeça quer. Sem razão aparente ou fundamentada.]

Boa Noite

26 dezembro 2014


"O Destino, esse nome que por vezes damos às coisas aleatórias, diz o que nos acontece, não nos diz como reagir. A nossa vida é tão fruto do destino como da vontade, cada um deles agindo de forma distinta sobre coisas diferentes, às vezes sobre as mesmas coisas, em momentos diferentes.

É também do destino e do acaso que falo de cada vez que digo que há coisas que não se procuram, só se encontram. E o amor é uma dessas, talvez a principal. Por mais que o procuremos em toda a parte, é ele que nos encontra, por vezes sem sabermos como, por uma série de coincidências impossível de provocar. Mas a sobrevivência das coisas, aleatórias ou predestinadas, não nasce do acaso, mas da capacidade de se adaptar ao mundo, à vida, à realidade, a nós. E isso não o torna, de uma forma ou de outra, menos mágico, menos belo, menos feliz, nem menos importante.

Maktub só se escreve no passado. Só no passado conseguimos encontrar os pontos que, unidos, nos trazem, por vezes sem saber como, ao lugar em que estamos. E sim, acredito, e é possível, que o que nos uniu seja o destino. Mas o que nos vai fazer ficar juntos é a vontade."

Pela mão do Menino

[alguém me dizia há uns dias que era o karma. O meu karma, esta coisa de passar assim pelas coisas, por andar há tempos com a vida a cair-me ao chão aos bocadinhos, a escorrer-me aos soluços pela pele, de dentro para fora, a evaporar-se entre um dia e outro. É karma, dizem-me, esta coisa de andar assim há tanto tempo, que o universo equilibra tudo e terei feito mal a alguém para andar a penar assim... e eu fiquei a pensar, juro que fiquei, aliás como fico quando normalmente me dizem algo que não entendo, que não me encaixa, ainda mais se vindo de alguém que considero, que oiço. E fiquei-me a pensar, a moer, e não entendo. Não entendo que se for suposto um equilíbrio, o meu karma seja este, partindo do pressuposto agradável - quase doce e prazeroso -, de que o mundo é justo e as energias se equilibram, o bem e o mal, o que eu duvido e cada vez mais, e quase sempre que olho à minha volta. A ideia encanta-me, porque pela amostra, o que estaria por vir seria muito bom, tenho uns créditos acumulados... bastantes, mesmo. Porque realmente posso ter feito sofrer alguém, sim, mas só tenho consciência de ter magoado uma pessoa, e não com esse propósito ou intenção, não faço nada para prejudicar ou magoar ninguém conscientemente, mas há vezes em que as nossas acções poderão magoar e não havendo alternativa melhor, têm de ser feitas sob pena de todos ficarmos pior. E tenho a certeza, e a plena consciência, de que essa pessoa agora está muito melhor, melhor duma maneira que não poderia estar comigo, porque eu não era a pessoa certa para aquela vida. Eu já não estava bem onde estava, não estava feliz, e não estando feliz não poderia fazer ninguém feliz. Insistir nisso só faria toda a gente mais infeliz durante mais tempo. Sofreu, talvez, mas eu também sofri para chegar ao ponto de saber que ali já não estava bem, já não era feliz, sentia-me vazia e fora de mim, calçada nuns sapatos que não me cabiam. Já tinha sofrido demasiada desilusão, já me tentara moldar demais, já tinha dado tudo o que tinha, e nunca nada parecia chegar, até que encolhi os ombros e deixei de tentar, abri os olhos e vi que já não estava ali, já não era eu, nem nada do que queria para mim. Sofri, sofri até chegar a esse ponto e sofri muito depois também, mas, ou talvez por isso mesmo, virei a vida - toda, mesmo toda, e em todos os quadrantes - do avesso, e hoje sei que não estou feliz, mas não estou amarrada a uma infelicidade que me sufoca e prende os sorrisos onde deviam nascer. Não estou feliz, mas estou livre para a poder encontrar em qualquer esquina, a qualquer momento desavisado, porque estou despojada daquelas grilhetas que prendem mesmo quando já nada nos faz sentir presos: os afectos, o gostar, o querer, o ansiar estar junto. Só isso prende alguém, o resto são armas de fazer reféns, opressoras de vida se o permitirmos. Mas temos escolha, por isso escolhemos, por isso escolhi. Houve sofrimentos de parte a parte, acho que se o karma é essa coisa do equilíbrio, nós os dois devemos estar quites, por isso... lá está, não entendo. Porque se entretanto mais alguém sofreu não foi culpa minha, não foi nada do que possa ter feito, porque não fiz nada, fui vivendo a minha vida sem ter de dar satisfações a ninguém - sem grilhetas nem justificações-, e sendo assim não se pode magoar ninguém. Nós só podemos ser magoados realmente por quem nos está perto, por isso esta coisa de magoar os outros por dentro, com a vida, os (des)afectos, as palavras e as atitudes, é comparada sempre a guerras corpo a corpo, para se apunhalar é preciso estar ao alcance da mão. É preciso estar perto para magoar por dentro da pele, onde se chora baixinho, berrando a todo o coração. Se alguém magoou alguém não fui eu, mas a mim magoaram-me bastante, e eu deixei porque me mantive perto, ao alcance da mão que magoa por dentro enquanto esvazia os sonhos e os bolsos do amor. Tive a minha culpa, que assumo, na minha mágoa, aliás só me culpo mesmo a mim e à minha estupidez por ter sido magoada tanto tempo, a mais ninguém... mas agora onde está o equilíbrio? quem mais, e mais gente, fez sofrer é quem melhor está. E ainda bem, não lhe quero mal, só não percebo porque raio este mecanismo, esta coisa do karma, só comigo, e com quem me está perto, é que acha que ainda tem de fazer penar mais e mais... para equilibrar o quê? o quê senhores??????.... 
....Karma, a sério, deslarga-me pahhh... estou farta, sim? irraaa!!... não há pachorra!! ou então, sei lá, na loucura,  muda de flanco e começa a dar coisas boas...  ]

"podes levar os dias que trouxeste

os pássaros soterraram agosto
e sem lugar um homem cega pela janela
o mar que jura ter tocado com o sangue

podia ter sido o amor se não tivesse vindo
tão directamente da sede
um duplo rosto de enganos e os braços
que saíram desertos
o eco da morte reverbera na pele
com que vejo a tua ausência encher as ruas
um choro de papel cai pela terra
e nunca foi tão tarde ser depois

daqui onde o grito surdo incendeia
a refutação da madrugada
donde o crânio esmaga o coração
um homem corta pela janela
a própria certeza de ter sido

não, é tarde demais para uma manhã
que foi a enterrar em tantas noites

as escadas morreram de sede
a terra caiu em nunca

podes levar os dias que trouxeste"


Pedro Sena-Lino

[... "Nunca foi tão tarde ser depois", tarde até para levares o que for, nada do que pudesses levar me parece teu, e tu nunca trouxeste nada. hoje - particularmente hoje, amanhã não sei - parece-me que nunca trouxeste nada, apenas vieste buscar tudo o que tinha, tudo o que tinha de melhor, tudo o que tinha meu de teu, talvez. Levaste tudo, não me restaste nada, não me trouxeste nada, apenas, qual sanguessuga, vieste à procura do que precisavas, do que querias, e nunca fui eu, mas a vida que me corria nas veias, o brilho que iluminava o olhar de quem ama. Era sempre a tua sobrevivência, o teu equilíbrio, as tuas faltas, as tuas sedes, as tuas fomes. O que levaste foi-se daqui e nem tu o guardas, esfumou-se. Já desapareceu no sorriso que agora sorris e trocas por dias-a-dias, nas mãos que dás, nos abraços que apertas, e trocas por amnésias de noite, ou insônias a toda hora, não sei. Não quero saber, hoje não quero saber nada. Só sei que podias levar os dias que trouxeste, se não os tivesses enterrado antes de nascerem, levaste dias que eu pensava que trazias, tiraste noites que eu pensava que me davas, esgotaste-me as perguntas sem resposta, e nunca me perguntaste nada, não trouxeste nada, não quiseste nada, deixaste ficar tudo, foi sempre tudo meu. Nada teu. ]

Boa Noite

25 dezembro 2014


A primeira lareira feita em minha casa este inverno. 
Algum dia tinha de ser. Foi hoje. 
Pés quentes e leituras, silêncio e chá. 
No silêncio cabe tudo, hoje até eu.

"gostos de filmes que são espelho. daqueles em que me vejo no ecrã. daqueles filmes que nos fazem pensar na nossa vida, em que passamos mais tempo dentro das personagens, do que apenas a olhar a história. no ultimo que vi, mr jarvis cocker sai-se com uma observação filosófica: 'a vida é igual para todos, o que nos distingue é a dose de imaginação que cada um põe nela'. tão simples. e é para isso que servem os filmes, quase uma forma de nos vermos nas palavras dos outros, na forma de viver de outros. e, se pensar um pouco, se calhar é assim que faço nos dias: ando sempre por perto dos espelhos em que gosto de me ver. é um bom conceito.
com o que vemos no reflexo das pessoas, definimo-nos, não pelo que queremos ser, mas pelo que somos de verdade. não pela intenção, mas pelo resultado dessa coisa tão delicada que se chama intimidade. são mais tristes as pessoas que não têm espelhos. ou que os evitam porque não se querem ver. ou pior, porque não gostam de se ver. porque custa confiar no vidro. é frágil. e às vezes os espelhos partem, e por mais que se cole, que se remende, fica lá sempre aquele risco, feito cicatriz, a cortar a imagem limpa. faz parte do jogo. aliás, é aqui que entendo que muito do que somos, devemos aos outros. porque há pessoas que me fazem mais - mais divertido, mais leve, mais homem. há pessoas que me tornam um ser melhor, apenas pela forma como me entendem, me percebem, pela forma como tornam fácil partilhar essa intimidade. são espelhos em que nos fazemos bonitos. deve ser por isso, que gosto tanto de te dizer: 'és tu, quem me faz mais inteiro..' 
mas, o que vibro mesmo, é ser o espelho das pessoas que gosto. saber que em mim sorriem, choram, descobrem, emocionam-se, excitam-se, amam. vivem. quase vício, é um privilégio sermos o reflexo de alguém. quase emoção, é ver alguém a ganhar expressão por nós, a ter aquele briho nos olhos quando nos vê, a soltar aquele sorriso tonto, feito berro, quando dizemos uma tolice. a escorrer uma lágrima por nossa causa, daquelas boas, quando se sabe que não se pode ser mais feliz, do que ali, naquele momento. mas curioso, nos espelhos "humanos" não vemos o nossa imagem reflexo. pelo contrário, vemos apenas o que a nossa presença provoca nos outros. é menos narcísico e muito mais doce. porque é isso amar: é projectar no outro todo o bem que lhe queremos. e sermos realizados assim. "em ti, faço-me feliz!" - deve ser a frase mais bonita, não de se dizer a alguém, mas de se sentir em alguém.."


[... E se nos rodearmos de pessoas que não são o nosso espelho? Onde não nos vemos? Onde não nos sentimos? Começaremos o tornar-nos espelhos do que nos rodeia? Dos que nos rodeiam? Para que a imagem que vemos reflectida se torne real? Ainda que não realmente nós? 
Penso que isto me aconteceu durante muito tempo, tentar ser o que me viam, ou queriam ver. Corresponder ao que deveria ser o meu espelho sem o ser, tornar-me uma imagem de mim que não me abarcava, pelo menos não o todo que sou, que posso ser. Ainda que quisesse ser como queriam que eu fosse, porque me faziam crer, ou eu pensava, que aquele reflexo era o melhor de mim, mas o melhor de mim tem partes que me queriam abafar, ou então, asfixiavam-no, mesmo sem querer. Não sei, sei que continuamos o processo para não desiludir, para não partir o (suposto) espelho, porque parece mais seguro sermos quem esperam que sejamos. E evitamos o olhar de desilusão de não sermos o que esperavam, o medo de sermos piores, de nos acharem piores, sem perceber que diferente do que esperam pode não ser pior, apenas diferente, mas verdadeiro porque mais inteiro, mais nós. E que aquele não é o nosso espelho, enganaram-se, enganámo-nos nós também se o pensámos ser. E um dia abrimos brechas, ficamos riscados, partidos, sentimo-nos aprisionados nesse espelho que não é nosso afinal, no entanto, a quem nos vê, parecemos intactos, mas por dentro, em nós, percebemos que é o espelho intacto em que nos têm que nos faz partir, prender, perder partes de nós que precisamos, abdicando da inteireza do ser. Normalmente é quando nos deparamos com um espelho que de facto nos vê, nos vê inteiros, e de repente podemos ser felizes assim: inteiros e nós, com espelhos à volta que nos vêem, que nos querem ver, e que nos fazem mais e melhor. 
Hoje, e desde que voltei a escrever, penso que me rodeio muito mais dos espelhos que me reflectem, e espero que vejam o mesmo em mim, que os faça verem-se a si mesmos no melhor que têm e são, e que é também por isso que os mantenho perto. Porque essa intimidade mo pede e mo permite. Porque me vêem como sou, como quero ser, e ficam. Os que ficam. ]

24 dezembro 2014

Fumar um cigarro à janela, a ver as antigas árvores novamente despidas. Despedem-se todos os anos das folhas que deixam de ser novas, e que todos os anos nascem novas embora diferentes, e sempre na mesma as perdem. E eu aqui, a fumar outro cigarro como há muitos anos atrás, na mesma janela mas com um copo de vinho a acompanhar o cigarro de refúgio na solidão apetecida. Acaba-se o cigarro com as árvores um pouco mais despidas e o copo um pouco mais vazio. Tudo o resto na mesma. Ou quase.

... Coisa mais doce...
Queria isto assim, um dia. Esta doçura cheia de ternura.

... Haja um bocadinho de sol para se tomar um café no meio das sombras.
Sombras onde me refugio das minhas.
Bom Natal a todos. 
Que o partilhem com quem gostam e querem, com saúde e boas gargalhadas.
Que aproveitem tudo à que têm direito.
E pronto, o meu espírito natalício não dá para mais que isto. Estou falida de palavras e sentimentos bons, espero que aqueles a que eu teria direito, e não chegaram cá, ou eu os perdi, ou pronto, desapareceram-me, tenham ido para alguém que os mereça e os aproveite.

Bom dia, Feliz Natal.

23 dezembro 2014


Uma pessoa tenta, tenta acreditar naquela coisa do pensa positivo, do bom atrai o bom, aquilo a que eu chamo treta de optimistas, o não querer ver a realidade e substitui-la por uma coisa mais bonitinha e menos amarga, e quando tenta fazer isso percebe que era melhor, muito melhor, a racionalidade dos pessimistas, em que se espera o pior, preparamo-nos para o pior, e talvez a vida não nos consiga arranjar pior que isso, e então lidamos com o que contamos, se tivermos um bocadinho de sorte, com melhor do que o que contávamos. São menos desilusões, menos baldes de realidade amarga pela goela abaixo. Mas eu caí nesse erro, de esperar o melhor, de achar que a vida me daria uma trégua, que me deixaria respirar e restabelecer, que me deixaria voltar a abrir um sorriso sentido antes de me pôr a chorar outra vez, antes de me fazer desabar de novo. E no meio de lágrimas, choradas e por chorar, vem-me à ideia uma frase, completamente fora de contexto, completamente fora do tema que as lágrimas choram, mas de longe a frase sussurra-me perto "se é para tentar tudo, tem de ser tudo, tenho de fazer tudo." É  então que percebo que a vida não é só cruel e péssima de timings, é abusadora e de mau carácter, trai e pisa quem já está no chão, lembra-nos o que queremos esquecer em alturas que só nos apetece fugir. Fugir do sítio para onde vou agora, tenho de ir, é minha obrigação. E só queria um peito onde encostar a cabeça, e uma cabeça para encostar ao meu peito, e esquecer-me que existe vida, cruel, amarga ou o que for, esquecer apenas. Como quem deixa de existir.


“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. (…) Nem sei como lhe explicar minha alma. Mas o que eu queria dizer é que a gente é muito preciosa, e que é somente até um certo ponto que a gente pode desistir de si própria e se dar aos outros e às circunstâncias. (…) Pretendia apenas lhe contar o meu novo carácter, ou falta de carácter. (…) Querida, quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma num boi? Assim fiquei eu… em que pese a dura comparação… Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também minha força. Espero que você nunca me veja assim resignada, porque é quase repugnante. (…) Uma amiga, um dia desses, encheu-se de coragem, como ela disse, e me perguntou: você era muito diferente, não era? Ela disse que me achava ardente e vibrante, e que quando me encontrou agora se disse: ou essa calma excessiva é uma atitude ou então ela mudou tanto que parece quase irreconhecível. Uma outra pessoa disse que eu me movo com lassidão de mulher de cinquenta anos. (…) o que pode acontecer com uma pessoa que fez pacto com todos, e que se esqueceu de que o nó vital de uma pessoa deve ser respeitado. Ouça: respeite a você mais do que aos outros, respeite suas exigências, respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que você imagina que é ruim em você - pelo amor de Deus, não queira fazer de você uma pessoa perfeita - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse o único meio de viver.”

Clarice Lispector | Carta a Tânia - Irmã de Clarice - 1947

[... O nó vital, aquele que não deslaça e enlaça o ser. Não se desfaz às circunstâncias, não se faz pelos outros nem nos outros, prende-nos ao que somos, não nos permite desistirmos de nós mesmos. Depois de nos encontrarmos, de olhos abertos nos vermos, nos sabermos, nada fica como dantes, e o nó aperta ainda mais o nós à consciência do que somos e do que queremos. Descobrimos o nó que nos faz nós. E mais nos prende quanto mais se aprende (de nós). ]

Boa noite

22 dezembro 2014



"A solidão não é forçosamente negativa, pelo contrário, até me parece um privilégio. Talvez a minha solidão seja excessiva, mas eu detestei sempre as coisas mundanas. Estar com as pessoas apenas para gastar as horas é-me insuportável."

Eugénio de Andrade, in Rosto Precário

[bem a propósito da solidão, como eu a vejo. Há dias em que não é bem assim, mas mesmo nessas alturas, a companhia que se deseja é sempre da pessoa que se deseja, que se quer perto, de quem ansiamos estar junto, e não encobri-la com uma companhia que apenas faz número e gasta as horas... a parte de gastar as horas é sempre assim: insuportável...]

Bom Dia

21 dezembro 2014

"-Hoje até fiz a barba..
- Ahh estou a ver, vai sair, é?
- Fiz para si, sua parva!"

(as memórias são tramadas e traiçoeiras, sem noção de tempo, de lugar ou de conveniência... Coisas boas, coisas boas que fazem sorrir com um travo amargo. )
.... Pois....
(Não sei quem é está moça, mas tem umas frases giras sim senhora eheheh)

Bom dia 
(...hoje está tanta luz porquê? Que falta de timing pahh...)