Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

04 março 2015



A tristeza tem uma dimensão de silêncio tão vasta que engole as palavras na nascente, não chegam a nascer completas, rasgam-se a meio antes de me dizerem ao que vêm, o que lhes quero, como me querem. A tristeza não tem boca mas engole silenciosamente mundos inteiros, e tem o estômago cheio de mágoas e desesperanças várias que não aprendeu a digerir. A tristeza prende-nos inteiros sem correntes. Sem nos forçar, subtrai-nos movimentos calando a vontade; amordaça-nos por dentro dos sons sem sequer nos tapar a boca - apenas nos apaga de dentro dos olhos todos os significados e significâncias e submerge-nos, abandonados, na falta de tudo. Infinita falta embrulhada num escuro vazio denso, que quase parece poder escavar-se com as mãos, esgravatar-se a sobrevivência do grito com as unhas, mas que agarra a vontade antes que qualquer movimento consiga mexer-se, sobreviver-se.
Silêncio que asfixia sem matar. Sem mexer. Sem tocar. Sem morrer.

Boa Noite

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