Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

07 junho 2014

"Sleep solves everyrhing" consigo ler. E talvez seja um pouco, pelo menos da-nos tempo, ou melhor deixa-nos fugir um bocadinho do problema, se não sonharmos com ele. Agora o problema é dormir, mesmo. Outra vez. E fumar menos. É comer mais. Tratar-me, porque ninguém trata de mim. E eu precisava mesmo, de alguém que tomasse com gosto essa tarefa de me ajudar a cuidar de mim. Porque estou exausta, sem vontade de nada nem para nada... Desolada, desconsolada, frustrada, incompleta da alma ao osso. 
Concluo que as pessoas são estranhas e que eu, talvez a mais estranha,  não tenho emenda ou solução ou futuro. É triste. E não dormir sem saber o que me agita, o que me inquieta, ainda mais, porque tudo está resolvido, tudo está no lugar, inclusivamente o que não tem, nem nunca teve, lugar...

05 junho 2014

"and as far as everything else is concerned, I say no." - Grande Albert Camus

04 junho 2014

"Falo como homem e como poeta, falo das emoções que nos fazem crescer e nos dão a esperança para transformarmos as dúvidas em certezas, as fragilidades em forças, as incertezas na mais criativa e fascinante descoberta de nós próprios. Falo do amor como se só existisse essa luz que iluminasse todos os outros caminhos. No fundo, é essa luz que todos procuram, que todos perseguem, que todos sonham e que faz com que haja “coragem” para separar o essencial da vida de uma “loja de conveniências”. A maior parte das relações são “lojas de conveniências”, onde permanecem as razões de cada um: as objectivas e as subjectivas. Não quero resvalar para a explicação científica da Lua, quero fixar-me no olhar poético do homem que continua a ver o amor e a Lua como territórios de romantismo e de encontro, como “estados nascentes”, que fazem andar o mundo, ou seja, a vida de cada um, as vidas dos que têm o privilégio de se reencontrarem com o despojamento necessário para uma entrega sem condições. O preço de ficar refém de uma relação onde “já gastámos as palavras” e o amor é incalculável, comparado com a felicidade de partilhar esse amor com alguém que nos renova e nos faz renascer, que nos devolve a esperança e o sonho. Não tenho dúvidas em comparar o “preço”, quando se fica refém de alguém por razões de funcionalidade. A morte precoce da paixão e do amor são certidões de óbito que certificam uma vida insuportável, um faz de conta diário, as obrigações conjugais sem emoção, a tristeza, o desencanto, a amargura e um mundo a preto e branco. O “preço” de ficar nas relações gastas é para a vida, o “preço” de mudar em nome do amor dura apenas algum tempo, é apenas o tempo de ajustar a nova luz a um horizonte onde tudo parece escrito pelo “criador” para nos receber com o arco-íris. Não há maior dor do que viver numa tristeza sem horizonte de alegria, do que viver rendido a essa fatalidade onde todos se regozijam com as aparências, mas ninguém se preocupa com os sentimentos de cada um. Vivemos um tempo de hipocrisia onde se premeiam os condomínios fiscais, onde se critica os que têm coragem de mudar de vida, apontando o caminho aos que ficam na sua “loja de conveniências”. Coragem têm os que são capazes de dizer NÃO, mesmo que a maioria diga o contrário só para se iludirem colectivamente; coragem têm os que são capazes de dizer NÃO, em nome do amor e da cumplicidade da pele e do sémen. 
Perder o olhar romântico, que alimenta a eternidade quando encontramos no outro a parte que nos falta, é recusar a dignidade que a adolescência nos ensinou. Quem se recusa a ser feliz, empresta-se à morte antes de morrer."

António Vilhena
ahahahahhha
eu cá não me importava de acontecer, não... desde que fosse eu a escolher a quem...
Há que dar umas gargalhadas, já que o que se vê nos deprime,
 e arranjar com que nos rirmos com vontade... 
Bom Dia!

31 maio 2014

O chá perfeito para a Eva Lost.in...
Ao meu lado um lugar vazio - ironias diria eu, se dissesse alguma coisa acerca, mas calo-, a seguir falam em tom do outro lado do atlântico, naquela língua de mel em que tudo parece mais doce, mais suave. O rapaz é novo, não é feio, não gosto das sapatilhas e odeio o toque de telemóvel, mas gosto das mãos. Gosto muito das mãos. E ponho-me a pensar nesta minha fixação por mãos (penso nas tuas sem pensar que penso, lembro sem recordar em consciência) porque será? Porque é o que nos toca a pele? Porque são elas que trabalham? Porque elas às vezes falam? Porque escondem vontades e afectos? porque retraem carinhos, ou porque os mostram escancarados, com pudor ou não? Carinhos cheios de ternura, ou vontades cheias de tesão de nos quererem agarrar por dentro, como se por fora, às vezes - e tantas, tantas vezes - fosse pouco. E as mãos procuram, exploram, agarram, percorrem levemente em vagas de arrepios, beijam-nos às vezes com toques que vão além do tempo e da pele. 
As mãos, darmos as mãos, dares-me a mão, receberes-me toda. 
As mãos são o segundo olhar.
"-Fuja de mim - disse um dia a Julião. - em nome de Deus abandone esta casa: é a sua presença aqui que mata o meu filho. Deus castiga-me - acrescentou em voz baixa - é justo; adoro a sua justiça; o meu crime é horrível e eu vivia sem remorsos! Foi o primeiro sinal de que adeus me abandonou: devo ser duplamente castigada.
Julião ficou profundamente comovido. Não podia ver nisto nem hipocrisia, nem exagero. "Ela julga que amando-me mata o filho, e contudo a desgraçada ama-me mais do que á ele. Não posso duvidar de que é este remorso que a mata; eis o que é grandeza de sentimentos. Mas como inspirei eu um tal amor, eu, tão pobre, tão ignorante, algumas vezes tão grosseiro nas minhas maneiras?"

Stendhal, in Vermelho e Negro

Será que se pode apanhar um comboio para outra vida? Será que os comboios que se perdem se podem apanhar depois noutra estação mais à frente? Será que nos levam a outro lado, ou só tornam toda a viagem diferente? Mas a vida é a viagem, não o destino. A vida são os comboios que se apanham e os que se perdem, os que se vêem passar, enquanto parados na estação, pensamos esperar pelo nosso, por aquele que nos leva onde queremos com a viagem que esperamos. Lembro-me daquela frase do Kundera na sua Insustentável leveza do ser, que dizia mais ou menos isto: "cada momento tem o peso da eternidade". Suponho que é assim cada momento que passa, cada momento que se vive, fica carimbado para a eternidade, não se repete, não se muda, o que daí resulta são consequências, também elas momentos eternos. Ficam para sempre, ainda que mais à frente apanhemos um comboio de regresso ao que pensamos nosso início. A viagem já a temos, já é eternamente parte do nosso ser. Nunca, verdadeiramente, se volta ao início. Nem a mesma viagem se repete, ainda que o percurso seja o mesmo, viveremos a viagem sempre de maneira diferente, porque já temos mais viagens dentro, mesmo que nos levem ao mesmo lugar. E estamos sempre a tempo de a cada momento fazermos da nossa eternidade o que queremos, desde que dependa de nós, de uma escolha nossa, para que ela mais à frente não nos pese, mas nos pareça curta. Depois há momentos em que só queremos fugir da eternidade que certos momentos - que outros escolhem - nos deixam, e então fugimos. Alguns de comboio. A eternidade apanha-nos mais à frente, ou até na viagem, como se vê. A eternidade nunca perde o comboio, chega sempre a cada momento.

Ó Mulher! Como é fraca e como és forte!
Como sabes ser doce e desgraçada!
Como sabes fingir quando em teu peito
A tua alma se estorce amargurada!

Quantas morrem saudosas duma imagem
Adorada que amaram doidamente!
Quantas e quantas almas endoidecem
Enquanto a boca ri alegremente!

Quanta paixão e amor às vezes têm
Sem nunca o confessarem a ninguém
Doces almas de dor e sofrimento!

Paixão que faria a felicidade
Dum rei; amor de sonho e de saudade,
Que se esvai e que foge num lamento!

Florbela Espanca

[é isto.]

30 maio 2014

A vasculhar o passado para entender, para ver, para resumir, para me resumir. Não cheguei nem a meio, desisti, voltei ao inicio do inicio... tantas voltas, tantas vezes o mesmo sítio, o mesmo fim, o mesmo inicio, e sempre o não entender o repetir da repetição. Tem de tudo todo este tempo, da brincadeira ao fora de brincadeiras, da ternura à tesão, da paixão ao Amor. E sempre a incompreensão. Como não parecem entender nada com tudo à frente?, e com tudo o que já trazem detrás? Insistem-se os erros para se forçarem conclusões, quando a única coisa que sempre se concluiu é que há coisas que não se forçam. O esforço só reforça o erro. 
Estou cansada,  a cabeça dói, o estômago chateia e não quer comer, e eu aqui, perdida não sei onde não sei de quê. Penso que isto é tudo um erro, que não sendo meu sou quem mais o sinto e ressinto e amargo, mais sofro e mais me dói. Não entendo. Nem a mim já entendo. Nem à vida. Nem a nada. Nada faz sentido. 
Lembro-me duma sms que recebi uma vez às seis da manhã que dizia que sem mim nada fazia sentido. Que não valia a pena. Já se sabia que sem mim não era capaz, nada fazia sentido.
Já não é sentido? 
Já não faz sentido nada sem mim fazer sentido?
Não há sentido nenhum em seguir sem fazer sentido.
Não há sentido nenhum em seguir se não for realmente sentido.
Só o realmente sentido faz sentido. E não erra.

29 maio 2014


"Uma declaração de Amor não depende apenas do que se diz, mas também do corpo. Dois corpos podem aproximar-se lentamente um do outro sem se comprometerem tanto como se comprometem as palavras. Se a coisa funcionar, acaba em sexo. Se não funcionar, acaba em silêncio. Acaba bem ou menos bem. São as palavras as únicas que podem acabar mal.
De qualquer forma duma coisa tenho a certeza: é muito mais fácil dizer que se Ama depois do sexo. É por isso que, em caso de paixão, a primeira palavra deve ser um toque."

Do Bagaço.

[as palavras podem acabar mal, sim, mas há silêncios - sem qualquer toque ou paixão - que acabam pior. Acabam-nos. Trancam-nos lá dentro, sem portas ou janelas.]

Sou a que a amo pior. Todos a amam melhor do que eu. Quis e gosto que seja tão querida de todos, que haja felicidade distribuída nisso. Toda a gente só quer ser amada e ter alguém a quem dar amor. Digo isto, e lembro-me do meu irmão e da paixão recíproca que tão bem lhes vejo e entendo. Tenho pena de não saber fazer melhor, amar melhor. Tenho pena de não ser como ela gostaria que eu fosse- mas não sou, e nao me posso fazer quem não  sou, nao sei fazer isso. Nem quero, se o fizesse nao seria de mim que gostaria. Só posso ser eu. Prefiro que me goste só o que puder, o que conseguir, mas que esse bocadinho por pequeno que possa ser, seja genuíno e realmente meu, de mim. Tenho pena que não me ame como vejo que pode e sabe amar. Tenho pena, mas entendo, entendo sempre quem não me consegue amar. Há mais razões para isso do que o seu contrário, e eu tenho de entender e aceitar. E aceito, aqui, agora, sempre. E oiço a sua respiração de sono feliz, onde também não entro, enquanto choro sem sentir as lágrimas que me caem. A culpa de não ser amada é minha, há razões de sobra, e eu entendo. Poucas há para, também aqui, também ela, em havendo escolha, eu nao seja a melhor escolha. Eu faria o mesmo, mas mesmo assim, incrivelmente, e ainda que de olhos inchados de vazio, gosto de mim assim, porque não sou doutra maneira nem posso ser, e alguém tinha de gostar. E eu gosto, só tenho pena que não haja mais a gostar. Mas entendo.

A língua sobre a pele o arrepio
Os teus dedos nas escadas do meu corpo

As lâminas do amor o fogo a espuma
A transbordar de ti na tua fuga

A palavra mordida entre os lençóis
As cinzas de outro lume à cabeceira

Da mesma esquina sempre o mesmo olhar:
Nada do que era teu vou devolver.

Alice Vieira
in Dois corpos tombando na água

[nada do que era teu eu devolvo, nunca foi meu. nunca te deste. o que me dei me hei-de devolver, guardar, e dar a quem me devolva. me devolva a mim.]
"Apetecia-me trinchá-la, 
mastigá-la, 
saboreá-la, 
sentir tudo nas minhas papilas gustativas até ao mais ínfimo pormenor
 e depois repetir."  

[às vezes pergunto-me o que querem realmente dizer estas coisas - ou para quê-, e depois penso o que querem dizer outras tão diferentes, depois acho que nada quer dizer nada. as conversas intermináveis, as brincadeiras sem fim, as mensagens trocadas por horas sem se dar pelo tempo passar, mesmo longe, e depois o longe mesmo, a distância sem medida e o desprezo desmedido. Então penso que não percebo nada, não sei nada.]

28 maio 2014

...ora digam lá se isto é coisa que nos ponham à frente assim logo pela manhã??
Francamente!!
E pronto, olhem...Bom dia!! 

..era isto. em versão masculina, por favor.
Agradecida.

27 maio 2014


[..."se sei o que não tive, não sei o que perdi"...]

Há quem nunca chegue a chegar.
Nunca regressa, nunca parte, nunca está. 
Nunca chega a nada, e nem ao nada chega a chegar. 
É o meio caminho de destino nenhum.
E no entanto tudo é devagar, não se sabe para onde, para quem ou para quê. Devagar - como se a vida tivesse vagar para tão devagar-  divaga-se na vida ao sabor do não saber. Não saber nada, que depois passa a não saber a nada.

[esta foto foi tirada e guardada quando lia o Rentes de Carvalho - A amante Holandesa. Não sei se já aqui tinha sido publicada ou não, ou este excerto, mas fica aqui, mais uma vez, ou não... Mas que importa quantas vezes? importa sempre o conteúdo, o que diz, ou não diz... e a mesma coisa pode dizer-nos, a cada vez, coisas diferentes - que importa quantas vezes, que importa? ]

26 maio 2014

“A felicidade aparece para aqueles que choram. 
Para aqueles que se machucam. 
Para aqueles que buscam e tentam sempre. 
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.”

Clarice Lispector

[se a felicidade aparece para os que choram e se magoam e tentam sempre, eu vou ser muito feliz, porque não consigo mais chorar lágrimas que já esgotei, não me posso magoar mais de toda eu ser uma ferida aberta, e a única coisa que me falta realmente tentar é ser feliz, porque realmente acho que tudo o que tentei, pensando que o fazia, foi tentar ser cada vez mais infeliz, mais ignorada, mais e mais desrespeitada. Não percebo porquê, mas só me pedem que chore e me magoe, não que entenda. ]
"-Gosto de ti o suficiente para já não conseguir passar um dia sem te dizer o que quer que seja. Quando às vezes te calas, procuro por algo que me faça lembrar o teu rosto: os teus olhos, os teus lábios, o teu nariz. Quando me faltas, procuro-te. Porque gostar é mesmo isso. E, para mal dos meus pecados, eu gosto de ti."


Gostar é isto e muito mais. É tudo o que (te) falta.



25 maio 2014

Nash, o matemático do revolucionário equilíbrio de Nash. Acabei de ver o filme. O homem que se venceu a si próprio e me deixou a pensar que a mente nos rege e nos comanda, mas quando sabemos como ela nos manda e rege, conseguimos mandá-la e regê-la. Esquizofrénico, por amor, principalmente - parece-me - por amor dela que nunca desistiu dele, conseguiu seguir uma vida de dieta mental, como dizia ele no filme, em que apenas alimentava da mente o que sabia ser certo, e escolhia, conscientemente, ignorar o resto. Ou seja teve toda uma vida de alucinações, de personagens paralelas inexistentes, que ele, ao sabê-las inexistentes, simplesmente ignorava e seguia a sua vida. E conseguiu ter uma vida assim. Conseguiu ser reconhecido ao fim de muitos anos e receber um Nobel. É possível vencermo-nos. Se quisermos, se houver amor que nos faça querer.

Aqui fica a cena do discurso do Nobel...

"...fiz a maior descoberta da minha carreira, a maior descoberta da minha vida: apenas nas misteriosas equações do Amor é que razões lógicas poderão ser encontradas. Só estou aqui por causa de ti: tu és a razão de eu ser, tu és todas as minhas razões."

E esta apenas como bónus porque é uma delicia de tentativa de definição lógica de Amor a um matemático que logicamente apenas funciona com lógica (e está escarrapachada ali em baixo, logo a seguir ao vídeo).
Doce, acho que é a palavra, ou então sou eu que estou assim, não sei...
(...)
Nash: Alicia, does our relationship warrant long-term commitment? I need some kind of proof, some kind of verifiable, empirical data.
Alicia: I'm sorry, just give me a moment to redefine my girlish notions of romance............................ How big is the universe?
Nash: Infinite.
Alicia: How do you know?
Nash: I know because all the data indicates it's infinite.
Alicia: But it hasn't been proven yet.
Nash: No.
Alicia: You haven't seen it.
Nash: No.
Alicia: How do you know for sure?
Nash: I don't, I just believe it.
Alicia: It's the same with love I guess.
(...)

E é, é assim mesmo. Tudo o que é infinito não se prova, acredita-se ou não. É uma questão de fé, suponho. O Universo e o Amor.

Boa Noite

24 maio 2014


" "O quê! Será amor", dizia para consigo. "Estarei apaixonada? Eu, mulher casada? Mas nunca senti por meu marido esta sombria loucura que faz com que não possa deixar de pensar em Julião. No fundo, é apenas uma criança cheia de respeito por mim. Esta loucura será passageira. Que se importa meu marido com os sentimentos que eu possa ter por este rapaz?(...) Nada lhe tiro para dar a Julião."
(...)
Tudo era imprevisto para ela. Contudo, depois de alguns instantes pensou: "basta, portanto, a presença de Julião para apagar todas as suas culpas?" Ficou apavorada; foi nesse momento que lhe retirou a mão.
Os beijos cheios de paixão, diferentes de todos os que recebera, fizeram-na esquecer, de repente, que ele amava, talvez, outra mulher. Pouco depois aos seus olhos já não era culpado. O cessar da dor pungente, vinda da suspeita, a presença de uma felicidade que ela nem sequer nunca sonhara deram-lhe exaltações de amor e de alegria louca. (...) Julião não pensava já na sua negra ambição, nem nos seus projectos tão difíceis de executar. Pela primeira vez na vida era arrastado pelo poder da beleza. Perdido num sonho vago e doce, tão estranho ao seu carácter, apertando devagarinho aquela mão que lhe agradava como uma beleza perfeita, escutava o movimento das folhas da tília, agitadas pela leve brisa da noite, e os cães do moleiro do Doubs, que ladravam ao longe. Mas esta emoção era um prazer e não uma paixão. "

Stendhal, in Vermelho e Negro

Há dois tipos de grandes autores, os que se destacam pela forma como escrevem, ou porque o fazem duma forma diferente e diferenciada, ou porque o tornam na verdadeira arte, dizendo qualquer coisa duma forma sublime, que nos faz parar, pensar, repetir, reler e por fim guardar sorrindo, mesmo que num sorriso triste tantas vezes. Depois temos os outros, os que não têm uma escrita que consideraria excepcional, mas que têm um conhecimento excepcional da psicologia humana, dos sentimentos e emoções mais recônditos, pessoas que criam personagens verdadeiramente reais, complexos, humanos.
Este livro que ando a ler encaixa neste segundo tipo. 
Neste pequeno trecho cabem aqui pormenores imensos do que é paradoxal e irracional, os dilemas internos e os esquemas mentais que tornam tudo inexplicável e expectável no ser humano, no que se sente, ou não se sente, a impotência, a consciência da irracionalidade, o absurdo do que se sabe sentir, e as pequenas diferenças imensas entre, por exemplo, a paixão e o prazer.

22 maio 2014




"O que custa é o dizer não. Semanas, se calhar meses, de um estado do qual não temos propriamente consciência. Apenas sentimos que não estamos bem, que não é aquilo que queremos.
Quando estamos habituados a só chorar no escuro do cinema, só nos permitimos chorar quando a porta se fecha atrás de nós, atrás de ti, quando a separação é irremediável.
Mas é quando dizemos não, quando treinamos a aprendizagem do não, quando dizemos que sa foda esta merda toda, que os verdadeiros milagres acontecem. Quando é o universo a fechar-nos uma porta, só temos de procurar uma outra e abri-la. Quando somos nós a fechá-la, o universo abre-nos automaticamente outra. No fundo, a mostrar-nos que apenas temos de aprender a fechar a porta.
(...)
As feridas por lamber. O medo de me dar. O pânico de te receber. A gestão de sentimentos tão contraditórios como a perda e o ganho. A exposição pública – se à esposa de César não basta ser, imaginem à viúva; as preocupaçõezinhas com as convenções sociais do ainda agora se separou e é vê-lo aí com quem primeiro aparece, que isto dos garanhões, na verdade, é para muito poucos. É tão difícil lidar com a culpa, sobretudo quando não a temos, na verdade as coisas são como são. "

Do velho "que sa foda" pela mão do Pedro... há tempos que não dizia este "que sa foda!!"...
...que sa foda!!... um dia também me devolverei o sorriso por alguém.

"Escolhe os teus rituais, torna rituais os teus hábitos, apercebe-te do que fazes quando o fazes. O tempo é a única coisa de que não vais ter mais. Aproveita-o, não por mudares de vida nem fazeres coisas diferentes todos os dias, mas por sentires, a fundo, cada coisa que fazes, e ao sentires as entenderes, e as escolheres, e as fazeres plenamente, e seres feliz por isso.

Não voltar a olhar o pôr-do-sol como se fosse apenas mais um, não voltar a tomar café sem o saborear e sem pensar na felicidade desse gesto simples, não voltar a fumar um cigarro sem que nos dê prazer. Não dizer “bons sonhos” como se fosse uma frase feita, muito menos dizer “amo-te” só por não ter mais nada para dizer. Não voltar nunca a beijar quem amas como se isso fosse um hábito. Como se um beijo não fosse extraordinariamente importante, como se cada beijo não merecesse, impreterivelmente, ser vivido, ser sentido, ser recebido, ser dado."

Do Menino. Lê-lo é um ritual. Como o último cigarro do dia, já a seguir.

"Há momentos e situações em que o olhar comunica mais que as palavras, isso também é intimidade. Creio que sou capaz de dizer muitas coisas sem falar, é o outro que também tem de compreender e de saber interpretar. Quando se estabelece essa relação de intimidade e de amizade, não é necessário falar. (...) Frequentemente é melhor não o fazer porque as palavras estão muito gastas."

António Lobo Antunes

[Digo muitas coisas sem falar, mas são exactamente o mesmo que digo quando falo. E há coisas que por muito que diga, falando ou não, que não se gastam... infelizmente.]

19 maio 2014

...basically: fall in love.
 truly, madly, deeply, the only right way...

( estou tão, mas tão, farta dos produtos falsificados, enganadores e mentirosos. estou cansada de putos e de ante-projectos de Homens falhadissimos, a sério. Fartaaaaa!!)

18 maio 2014

De cada vez que tentaste, eu tentei, a cada vez, o seu oposto. A cada vez perguntava-te para quê, se já sabias todas as respostas de todas as vezes anteriores. De todo o tempo anterior, de toda a vida já vivida e mastigada. Por cada vez que tentaste, eu tentei o seu oposto; também já devia saber, de cada uma de todas essas vezes, as respostas que nunca mudaram. A conclusão sempre igual. E tentámos sempre coisas diferentes. Nunca tentaste o mesmo que eu. Eu já devia saber que se tu tentavas sempre o mesmo, eu nunca mais devia tentar. Nada. Tentar sozinha é repetir-me, e falhar-me consecutivamente, nas tuas tentativas do meu oposto. 
E o resultado é sempre o mesmo. 
Eu sempre lutei pelo que tu desprezas, a cada vez, lutando pelo seu contrário.
Eu nunca fui hipótese, fui apenas a alternativa de cada vez que as tuas tentativas falharam.
Tu foste sempre a minha única hipótese - sem alternativa.
E este resultado, esta conclusão, sempre a mesma. E eu a dizer-te que percebas que não vale a pena tentar mais, não é lavagem ao cérebro, é que todas as conclusões já se conhecem... e nisto pareço esquecer-me que a minha conclusão também não muda. Não passo de alternativa foleira às tuas sérias tentativas falhadas. 
Eu sempre tentei tudo onde tu não tentaste nada, mas voltaste sempre para te recuperares de ti, para te refazeres da vida, para retemperares as forças esgotadas pelas tuas escolhas mal escolhidas, para te gostarem e tu te gostares, para te limpares da vida que te inquina a alma, para viver longe da sombra da sobrevivência, como dizias, a que sempre escolhes voltar.
Mas é sempre a mim que regressas para nunca chegares.
A tua conclusão é sempre a mesma. A minha também.
Para ficar é preciso gostar.

15 maio 2014

"- Se ele não sabe o que quer, não sabe nada. Se não sabe nada, não gosta. Se não gostar não quero.
O resto vem por si.

- Não podias ter dito melhor... mas estás um pouco empancada para quem tem uma visão tão clara...

- Às vezes os olhos demoram a adaptar-se à escuridão, ou a demasiada luz, há um período que não vêem, mesmo que saibam (ou achem saber) o que têm à frente... Talvez seja para dar tempo a todos.

- Tu és como o helicóptero e inteligente...nada receies...

- Sabes, a inteligência, como a capacidade de Amar (com "A" maiúsculo), não são qualidades, são só os melhores defeitos. Normalmente fazem-te a vida mais difícil. A lucidez é tramada."

14 maio 2014


Bastava que dissesses a palavra exacta,
que tens aprisionada na garganta,
Bastava que pendurasses
na porta do teu quarto um lenço branco.
Bastava que enfeitasses o chapéu
com as flores que o fim da tarde
põe sedentas da luz dos teus cabelos.

Bastava que me olhasses uma vez ainda.


Torquato da Luz

13 maio 2014

- Abriu-se uma caixinha que eu agora não consigo fechar...
-...então o melhor é não tentar fechar. Vamos morar para lá...

O impossível carinho

Escuta, eu não quero contar-te o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias de tua infância!

Manuel Bandeira

[coisa mai'linda... se eu pudesse, se eu pudesse mesmo que pouco, ainda fazia tanta coisa...]

12 maio 2014


"- Tens medo de fazer amor comigo?
- Tenho - respondeu ele.
- Por eu ser preta?
- Tu não és preta.
- Aqui, sou.
- Não, não é por seres preta que tenho medo.
- Tens medo que eu esteja doente...
- Sei prevenir-me.
- É porquê, então?
- Tenho medo de não regressar. Não regressar de ti."


Mia Couto, in Venenos de Deus, Remédios do Diabo

[há sítios de onde não se regressa, como alguém dizia...
...quando são pessoas que são o nosso sítio - o melhor, e mais nosso, sítio - acho que é o mesmo, ou pior...
...belo excerto de fim de tarde, eu é que tenho de mudar definitivamente de sítio, regressando, ou não. ]

10 maio 2014


... E hoje foram estes. Eu sei que vi os dois e automaticamente houve um que me fez sorrir. Sei qual prefiro. Usar a mesma colher. Por qualquer coisa e em qualquer sítio. Mas não tenho nada contra pequenos almoços na cama...

09 maio 2014

Vi um vestido giro, a minha mãe sugeriu que experimentasse. Experimentei. Disse que era muito giro, e então:
- Leva-o, é giro.
- Oh não levo nada. Não tenho com quem o vestir!!... Ou melhor, não tenho com quem o despir!!
A mulher escangalhou-se a rir, disse que não me faltava nada para ser doida, e comprou-me o vestido. Aparentemente parece que tem esperança que eu arranje com quem o despir... A loucura corre na família... eheheh 
... O que havia de me calhar a esta hora...

07 maio 2014


Amo-o como se pode amar a vida, suponho, com tudo de bom e de mau, de desespero e de doce, num jogo de luz e de sombras de que me escondo e a que me exponho. Amo-o a instantes, e a toda a hora. Amo-o quando em segundos os seus olhos me dizem das saudades que sentiu, do que ainda não parece ter desaparecido de dentro de si, do que guarda de mim. Amo-o na maneira como o seu olhar dissipa a névoa da dúvida em mim, até se enevoar de novo longe dos seus olhos. Amo-o quando fala com o rapaz do bar que o reconhece com genuína simpatia no sorriso rasgado, que me rasga do mundo e me faz mergulhar em si, no seu gesto brincalhão e palavra pronta para quem não conhece, mas que o dá a conhecer a quem quiser ver. Nesses pequenos instantes vê-se a imensidão de si que amo, como na conversa com o empregado de mesa dum jantar não combinado, em que a vontade era de encostar-me o olhar e o resto, e ele a querer conversa, e o sorriso que lhe dirigia a fazer-me querê-lo com urgência. Amo-o quando ao longe o vejo lidar com as pessoas, os seus trejeitos, como se mexe, como fala, como se ri ou sorri, como sei de longe se lhe estão a dar tanga e se está a devolvê-la ao remetente. Amo-o quando se encosta a mim, e entre nós não cabe o espaço das palavras que se dizem ao ouvido, quando já os corpos conversam mudos, com a sua cara colada à minha, num roçar onde cabem todos os beijos proibidos. Amo-o quando chama mágicas às minhas mãos, e por a sua pele as querer ao ponto de dizer temê-las, ainda que minta. Amo-o quando a mão que me põe na cintura me faz tê-lo todo, dar-me toda, basta fechar os olhos, e aquele toque toca-me por inteiro, leva-me inteira. Amo-o quando a conversa resvala para coisas que o fragilizam, e parece um bebé meio perdido a quem dão a traquinice por ponto de fuga. Amo-o quando percebo que disse alguma coisa que o tocou e revela aquele certo sorriso que me toca. Amo-o quando me chama pelo nome, porque todo o chamamento é uma vontade de presença, amo-o ainda mais quando repete o meu nome vezes seguidas quando a minha presença já é conjugada no presente. Amo-o até quando não gosto de si, quando me assaltam coisas que fez, que me fez, ou que deixou de fazer, sabendo o quanto me magoam e perseguem. Até aí, debaixo disso tudo, ri-se triunfante o Amor que sinto e lhe quero entregar a instantes e a toda hora. Amo-o por esse Amor que fez nascer, esse Amor que faz pouco de mim, e faz-me o muito que posso ser. Amo-o como se podem amar momentos encaixilhados que nos fazem sorrir cá dentro a cada passagem, momentos cristalizados, bem guardados até quando não os vemos, quando não sabemos do seu paradeiro, e no meio da correria do dia a dia, nos surpreendem no meio duma frase dita ou ouvida, e que fazem quem somos sempre e a toda hora, até quando não sabemos o que somos. Amo-o quando me chama egocêntrica, entre sorrisos cúmplices, por dizer que estar consigo, não é estar com outra pessoa, é estar comigo, com uma parte de mim debaixo doutra pele, por isso só consigo ser inteira consigo, tem uma parte minha que me falta, ou um qualquer componente activo necessário à minha reacção fundamental de viver bem, preciso desse reagente químico-afectivo que traz consigo como segredo bem guardado, para acordar o que trago em mim, vivendo, sentindo vida em mim. Amo-o como as mães amam os filhos quando partem e quando regressam, nunca as tendo deixado enquanto sentiam o coração apertado pela ausência de quem é parte de si. Amo-o quando me afundo no seu pescoço, no seu calor, no seu cheiro como as crias quando se sentem protegidas e sem saberem do mundo que as espera lá fora, na inocência do que é vital. Amo-o quando mergulho nesse buraco negro com o seu nome inscrito e o seu sorriso gravado, como se ama a queda livre num olhar sem chão, e a vida que a vida pode ter, e de que não me consigo despedir. Amo-o quando me diz que cheiro a Amor, porque sempre me cheirou que fosse dos que sabem o aroma do Amor, ao que sabe o Amor, ao que soa o Amor, como um conjunto de sentidos que se sentem sem sentido, a não ser o de amar.

Amo-o como acho que se pode amar um homem. Amo-o sem nunca lho ter dito, dizendo-o de todas as formas silenciosas que penso que o amor deve ser dito, e re-dito em instantes e a toda a hora, enquanto espero que um dia lho possa dizer com todas as letras sem que isso o faça sentir o fogo das suas represas de dentro. Quando o puder ouvir sem medo de nada senão de que o Amor se cale, porque é preciso esse medo para amar, é preciso esse medo para ser Amor.

Amo-o a instantes e a toda hora.

Amo-o todos os dias como se só houvesse amanhãs consigo.

[escrito há tempos, lido há tempos, tempos passaram sem qualquer resposta, comentário, não era preciso, atitudes era o que era preciso, e a atitude quando chegou foi apenas uma despedida, um aceno de adeus, porque não se sabe fazer mais nada além de despedidas e desistências. Um dia vou voltar a amar assim e vou dizê-lo de todas as maneiras e vou escrevê-lo, e não vou ter vazio por resposta, vou ter Amor por resposta, em atitudes e palavras e mimo e tudo o que eu entrego a quem amo. Um dia... entretanto faltam-me amanhãs...]

20/4/2012, republicado, mas escrito muito tempo antes, horas depois de o ver descer a rua sem olhar para trás, como nunca olha, nem olhou.


[no fundo era disto que falavam os meus ovos mexidos, só se ama assim quando conseguimos entrar no mapa interior de alguém, e é assim que ninguém me conhece, ninguém me ama, ninguém me ama conhecendo-me por dentro do avesso que me fez e faz.
no fundo era isto. e só.
...um dia a vida acontece (-me).]

Enquanto fazia uns ovos mexidos e uma torradita de jantar, batia os ovos e pensava que de todas as pessoas que me passaram na vida e de quem gostei quase nenhuma se interessou realmente por mim. E quando digo interesse por mim, é interesse na minha pessoa, em quem sou, como sou e como me fiz quem sou, as estruturas que me suportam o eu. Interessam-se sobre o que gosto de fazer, o que penso sobre algumas coisas, do que gosto, mas não sobre mim, sobre o passado, sobre a vida que tive, o que vivi, o que tive a mais o que tive a menos, o que nunca tive, o que me torce a alma até escorrerem lágrimas. Eu sempre me interessei pelas pessoas, pela maneira como pensavam, mas principalmente o porquê de pensarem assim, as origens das coisas, os porquês. Engraçado que as pessoas gostam sempre de falar de si, e se se souber ouvir, e fazer algumas das perguntas certas, as pessoas falam, explicam-se, revelam-se, traçam o mapa de si mesmas. E quando gosto de alguém, gosto de lhe conhecer o mapa, de saber os porquês e os comos, gosto de encontrar o fio que une a vida da pessoa, as suas atitudes, o seu modo de pensar e viver, e claro de sentir. Do outro lado, esse interesse raramente o noto, penso que só uma pessoa me conheceu melhor e quis mais saber de onde e como cheguei ao que sou, foi a única que acho que realmente gostou de mim, verdadeiramente, genuinamente, ainda que não da maneira certa - ou da maneira certa para mim-, e a culpa foi minha, provavelmente toda a vida andei a tentar esconder-me duma parte de mim, abafá-la, asfixiá-la, domá-la. Não consegui, como agora entendo, que nunca se consegue porque nós vimos sempre, e sempre viremos ao cimo de nós mesmos, seja como for, venha o que vier - mais tarde, ou mais cedo, há que aceitar. A paixão que me corre nas veias, a vontade que me brilha o olhar, a vontade de amar sem chão e sem razão, rompeu os dias que queria certos e racionais, arrumados para uma vida, que depressa se mostrou não ser vida para mim, não ser a minha vida. Não era eu. Eu tenho de escrever, de transbordar em palavras, tenho de escavar em mim e nos outros, tenho de entender, e tenho de me dar mesmo quando tudo me diz para não o fazer. Tenho de chegar ao fim do caminho, tenho de percorrer o caminho, porque o tenho nos pés antes de o fazer. E foi o que fiz quando acordei em mim e numa vida onde os meus pés não mexiam, calçados onde não cabiam. Descalcei-me, e pé no chão pisei as pedras que no meio do meu caminho me apareceram, não desviei caminho, não tomei atalhos, não pensei se haveria lugar melhor ou caminho menos doloroso. Aquele era o meu caminho, era o caminho dos meus pés, eles sabiam e não paravam. Não pararam. Chegaram onde tinham de chegar. E nunca em todo o caminho, o de agora ou outros de antes, alguém o entendeu ou quis entender. Nunca ninguém se interessou pela vontade dos meus pés, o porquê, onde e como começaram a andar, do que fugiram toda a vida, ou do que toda a vida tiveram medo, do que os fazia correr caminhos de alma mesmo amarrados. Nunca ninguém, à excepção da pessoa com quem casei, me quis saber por dentro desde o inicio do meu tempo, e essa pessoa não me entendeu, nem poderia, não mostrei o que queria esquecer que tinha,  que queria domar sabendo que não era amestrável, eu sabia que não o entenderia, eram caminhos que ele não saberia pisar comigo, não lhe moravam nos pés. Mas nada o impediu de tudo o que de mim sabia o usar contra mim quando os caminhos se desencontraram, quando quis aprofundar as feridas que sabia e conhecia o lugar. Mas ao menos ele fez por conhecê-las. Não tenho rancores nem ódios, quero estar bem, só isso, como sempre quis e por isso sempre passei por cima de tanta coisa, até ao ponto de, de tanto amontoar coisas e tentar passar por cima, elas tornaram-se tamanha montanha que a luz deixou de passar, e eu deixei de subir a montanha para chegar ao lado onde tudo isso ficava para trás. O casamento acabou. Uma parte de mim renasceu, os meus pés mexeram-se e descalçaram-se. 
Eu, quanto mais gosto da pessoa, quanto mais genuinamente gosto dela, mais a quero desvendar, e quanto mais desvendo mais compreendo e mais compreendo o que gosto e não gosto, mas aceito porque posso entender e porque gosto. Neste momento ninguém no mundo sabe como estou, se estou, o que passo, o que penso, ou como, ou o porquê de tudo isso. Os porquês, sempre os porquês. Nunca ninguém mais quis descobrir a resposta ao meu. É preciso gostar, gostar genuinamente para querer saber o porquê e amar além de todos os porquês - os meus e os dele.

[ainda bem que o prato não era elaborado senão o testamento não sei que comprimento teria...]
"Se tiveres mesmo de optar entre alguém para foder e alguém para falar*,

para uma noite, escolhe alguém para foder;
para uma semana, escolhe alguém para falar;
para uma vida, escolhe as duas coisas ou nada.

Uma vida é um tempo demasiado longo para soluções de compromisso.

* a capacidade de foder por prazer e de falar por prazer são duas das mais importantes características humanas, e por isso excepcionalmente relevantes na escolha de um parceiro"

Do Menino (adoro as coisas que o Menino escreve, que fazer?)

Palavras sábias do Menino, concordo plena e profundamente (sendo que, na maneira como vejo as coisas, quanto mais para a frente no tempo e nos anos o falar vai tendo um peso relativo cada vez maior)...
...então, mas e quando se começa a encarar a vida como uma noite de cada vez? 

[hoje é dia de pilhagens, porque o livro acabou e andei a fazer o luto do livro bloggando... tenham paciência...]

06 maio 2014



"As mulheres têm a mania de dizer, num estranho tom acusatório, que os homens não conseguem manter um compromisso de Amor, que abandonam uma mulher por outra com uma facilidade enorme porque não sabem Amar. Nada disso é verdade. A verdade é que o Amor não pode ser um compromisso.

Nenhum homem aceita um Amor que não seja o maior de todos, o que vai sendo cada vez mais difícil de conseguir com a idade. Depois de um Amor grande, nenhum consegue interessar-se por um Amor médio. Nem é má vontade, é apenas uma impossibilidade.
As relações curtas são legítimas e necessárias, mas não são Amor. São remendos à solidão.
O problema de muitos homens é que as mulheres aceitam remendos como se fossem Amor. Por um lado porque não gostam da definição de remendo, por outro por serem mais inteligentes. É que assim existe uma grande probabilidade de Amarem menos do que são Amadas. Numa relação desequilibrada, é sempre fodido Amar mais do que se é Amado.
Um homem pensa sempre que se o seu Amor terminar não conseguirá ter outro, pelo menos tão cedo. É que os Amores grandes não andam por aí pela rua à mão de semear. Já os remendos, felizmente, sim. Quando não se Ama ninguém, os remendos são uma questão de sobrevivência.
Eu vivo um Amor grande nos tempos que correm, o maior de todos. Ando a aproveitar para viver o mais possível. A sobrevivência é só para quem sabe."


Do Bagaço.


E eu não sei: não sei sobreviver, dói-me muito essa vivência da sobrevivência.
E eu gostava que este texto fosse todo mentira, e que depois de um Amor grande um Amor médio não fosse uma impossibilidade, mesmo que esse Amor médio fosse só do meu lado, e fosse mais amada do que amasse, como diz o Bagaço que as mulheres preferem. Eu não, eu acho que a felicidade está em Amar e poder entregar esse Amor a quem amamos, ser mais amadas do que Amar é aceitar não ficar com a melhor parte. Com a parte que nos dá tudo. Isto, mesmo sabendo que neste momento o que preciso é de ser amada, consertada, mimada. 
Preciso, mas precisar não é Amar. Precisar é sobreviver, e eu não quero - a sobrevivência dói-me.
Amar é amar o outro, consertá-lo, mimá-lo e com isso ficarmos consertados, mimados e sentirmo-nos amados pela vida. 
Não quero remendos, nem ser o remendo de ninguém.
A sobrevivência não é para quem sabe, é, talvez, para quem não sabe (querer?) mais.
"Seriam também as gotas de água no rosto de Olvido e a sua mão esquerda deslizando pelo corrimão da escada a caminho do quarto, o estalido do chão de madeira, a alcatifa onde ela prendeu o salto do sapato, o enorme espelho à direita onde a viu olhar-se de esguelha ao passar, as gravuras nas paredes do corredor, a luz tênue e amarelada que entrava pela janela quando, diante da grande cama do quarto, depois de se livraram dos casacos molhados, ele lhe levantou devagarinho o vestido até às ancas enquanto ela, na penumbra, o olhava nos olhos com uma intensidade fixa e impassível, apenas com metade do rosto iluminado, bela como um sonho. Nesse momento, Faulques sentiu uma alegria no coração - um gozo simultaneamente tranquilo e selvagem - por não o terem matado em nenhuma das vezes em que isso teria sido possível; porque, nesse caso, não estaria ali nessa noite, despindo as ancas de Olvido, e nunca a teria visto retroceder, reclinando-se na cama, sobre a colcha intacta, sem deixar de o olhar por entre o cabelo solto e molhado de neve que se lhe derramava sobre a cara, com a saia subida até à cintura, abrindo devagar as pernas com uma mistura deliberada de submissão e desafio impudico, enquanto ele, ainda impecavelmente vestido, se ajoelhava diante dela e aproximava a boca, intumescida pelo frio da noite, da escura convergência daquelas coxas longas e perfeitas, em cujo centro pulsava cálida, suavíssima, deliciosamente húmida ao contacto dos seus lábios e da sua língua, a carne esplêndida da mulher que amava."

Pérez-Reverte, in O Pintor de Batalhas

Das descrições mais bonitas que tenho lido: a memória de todos pormenores que guardou; o agradecimento por estar vivo para poder viver o momento que dava sentido, sem qualquer dúvida, a não ter morrido ainda, como se só por isso tudo tivesse valido a pena; o próprio gesto de devagarinho lhe levantar o vestido, e aquelas últimas palavras: "a carne esplêndida da mulher que amava". Lindo. Quero um dia chegar a casa assim, um dia quero ter isto com alguém. Se existir. É lindo.

[...é triste quando acabamos um livro que nos traz presos. Acabou, e fica aqui (de novo) a passagem, para mim, mais bonita dum livro que faz pensar, que nos obriga a reflectir no lado mais maligno do ser humano, talvez do lado menos humano. Ia a escrever mais obscuro, mas como o próprio livro parece explicar, esse lado não é obscuro, nem escondido, é transparente quando a situação é a certa para isso. No fundo é a guerra que mostra a Humanidade mais crua do ser humano, ou a falta dela; mesmo que todos, à partida, também possam amar assim. Como se ama nesta passagem transcrita. E matar de forma simétrica. Simetrias: beleza e horror, as componentes dum equilíbrio caótico e indecifrável. A humanidade, o Amor, a guerra.
E agora, dormir como?  Como fechar os olhos?]

05 maio 2014

"Dentro de cinco minutos, acrescentou de  súbito baixando o tom de voz - inclinara-se um pouco na direcção dele, com os cotovelos sobre a mesa e os dedos entrelaçados, olhando-o com desenvoltura -, quero que vamos até ao hotel, que faças amor comigo e que me chames de puta. Capisci?
(...) necessito com a máxima urgência que me abraces com uma violência razoável mas contundente e deixes em branco o conta quilômetros do meu cérebro. Ou que o partas. Tenho prazer em comunicar-te que és muito bonito, Faulques. E estou nesse ponto exacto em que uma francesa passaria a tratar-te por tu, uma suíça tentaria averiguar quantos cartões de crédito trazes na carteira e uma norte americana perguntaria se tens preservativo. De modo que- olhou para o relógio - vamos para o hotel, se não vês inconveniente.
(...) levantou-se para se aproximar da janela e, olhando para a fachada desguarnecida e escura de San Frediano in Cestello pronunciou as únicas dez palavras seguidas que Faulques ouviu naquela noite: já não há mulheres como a que eu queria ser."
Perez Reverte, in O Pintor de Batalhas

Sinto o mesmo, não há mulheres como a que eu queria ser, a não ser em livros ou filmes, fruto da imaginação de alguém, e também da minha. Um pouco como esta que aqui se lê - foi o que pensei quando li a frase que associa o seu estado de espírito a francesas, suíças e americanas... fez-me sorrir pela inteligência malandra, e pela maneira como directamente se diz indirectamente que se quer alguém com vontade, muita vontade sem vergonha de a ter. Li isto e pensei que gostava de ser um pouco esta mulher (ainda antes de ler a única frase completa que numa noite de amor ela proferiu), com presença de espírito, uma pitada de humor inteligente bem encaixada, sem falsos pruridos, vergonhas hipócritas ou acanhamentos toscos, sem filtros e sem medo. Com a dose certa de segurança, independência e doçura ao mesmo tempo. Doçura, ternura e meiguice, sem ter medo de ser, ou parecer, fraqueza.
Há alturas em que chego a pensar que, por dentro, não estou muito longe, mas falta-me um contraponto para me fazer tudo o que posso ser, para fazê-lo respirar e sentir-se. Para ser, afinal. E então percebo que estou longe. A mulher que queria ser não precisa de contraponto para saber que é - o que é-, sabe e ponto final. Falta-me também isso.

04 maio 2014

Lembro-me duma madrugada como esta, aqui neste mesmo sítio, com o dia também a raiar. Tu com álcool no sangue, eu com Amor a correr-me nas veias. Lembro-me disso como me lembro de tantas coisas. E eu agora aqui e tu aí, nisso. E eu a saber e tu a saberes que eu sei. E isso não muda nada, não te muda nada, nem te importa nada. Não há razão para dizer que não e tem de se tentar tudo. E um dia vais-te arrepender e perceber que tinhas todas as razões para dizer que não e que já tudo tinha sido tentado. Menos eu.

29 abril 2014

....Para ti bens simples e um beijo.
Não tenho outras coisas para dar.


22 abril 2014


- Preciso de ti. E agora, o que é que eu faço? 
- Querer-me sem ser preciso. 

[...surgem-me diálogos destes na cabeça, sem aviso, normalmente ao acordar. Estas duas frases perseguiram-me o dia todo. Largo-as aqui para que me larguem.]
...hummmm não faço ideia....
o que ando a pensar é que livro vou começar logo à noite... 
se a Anna Karenina, se os Irmãos Karamazov, se um do Paul Auster que não me lembro o nome, se o processo do Kafka (não me apetece este na verdade, em processo Kafkiano ando eu há tempo demais...), se o Cemitério de Pianos do José Luís Peixoto, se o Vermelho e Negro de Stendhal (este tem uma muito boa probabilidade de ser o escolhido...)
... há coisas em que ter tanto por onde escolher baralha, e outras em que não importa quando ou quantos, sabemos exactamente aquilo que queremos.
Com os livros ando sempre uns tempos indecisa... logo à noite se verá.
(se alguém se quiser chegar à frente com uma sugestão, sou toda ouvidos...)

Atrasada para a reunião, claro!
Do outro lado da mesa, aquele sorriso demasiado polido, ainda que levemente sedutor, mãos bonitas com gestos que não condizem, ou nada dizem. Uma cara interessante... se ao menos não falasse para desiludir, se ao menos não se notasse a falta de ganas, de fibra, se ao menos o aperto de mão não fosse uma coisa quase não assumida... se ao menos os homens quando são interessantes por fora não desiludissem por dentro...
Sempre fugi de homens fisicamente interessantes - para não levar tampas, obviamente-, e porque sempre achei que eram parvos, pedantes e convencidos... not my style, a não ser para ver, claro!! E cada vez estou mais convicta: homens fisicamente interessantes não têm de se destacar em mais nada, e então, como dizia alguém, basta encostarem-se ao balcão e esperar... é pouco.
Enfim, mas dão uma boa paisagem, mais do que poderão dizer de mim, é um facto...
Bom Dia!
"Espreito. Continua a dormir. Não resisto à tentação do vício antigo e, guloso da sua beleza, levanto a roupa, fico-me a admirá-la num arroubo que soma os desejos da vida inteira. Mas cubro-a ao ver que treme num arrepio e passo o braço sob o seu pescoço, dou-lhe o meu calor.
Com uma ternura que nunca antes conheci beijo-lhe ao de leve os cabelos e a fronte, a face. Saciado de corpo e alma, afagado pela memória da noite, prendo a sua mão na minha e volto a adormecer.
(...)
Isso é o que ontem nos uniu. O que provavelmente nos separa, e a torna a ela distante e a mim melancólico, é a fantasia. A sua franqueza não quer enfeites, não conhece esperas nem precisa de sonhos. Nela só o corpo dá, só o corpo recebe e partilha. Sensibilidade e alma ficam de fora, assistem, mas não participam, são o escudo que um dia poderá opôr às recordações.
Eu, ao contrário, logo me perco a imaginar e sonho com mais, mais alto, mais intenso, cavo desatinadamente o desengano. Falo comigo próprio, mas é ao Gato que oiço e compreendo melhor as suas confidências, o desespero de não conseguir explicar o seu amor.
(...)
- Vê se não esqueces nada.
Mas ela não me escuta, e sem se importar com a chuva espera na rua, começa aos pulos de criança quando o carro dobra a esquina.
O homem sai, mas mal o vejo, Laura a abraçá-lo num frenesim de beijos e afagos. Só agora que se encaminham para mim, ela sem o largar, é que distingo não ser ele o jovem loiro de olhos azuis da minha fantasia, mas homem da mesma idade, cabelo grisalho e boa aparência, vestido com uma elegância de italiano."

J. Rentes de Carvalho, in A Amante Holandesa

[Acabou. Fico a pensar neste final do livro e no que ele me faz perceber, concretizar e resumir: as coisas nunca acabam por aquilo em que achamos que são impossíveis. É sempre alguma coisa que não esperamos que nos derruba. Talvez por isso, por não esperarmos, é que sucumbimos. 
No caso dele, na cabeça dele, a impossibilidade seria a idade, as diferenças, e afinal o amor dela vivia precisamente a possibilidade dessa impossibilidade aos olhos dele.
E eu tenho percebido isto, é o que não esperamos que nos derruba, porque o resto julgamos entender e acomodar no nosso olhar sobre a vida, mesmo que não concordemos e ainda que não gostemos. O que não esperamos atinge-nos no estômago fatalmente, sucumbimos e aterramos, não temos reacção. Era tudo o que não esperávamos. É a possibilidade real duma impossibilidade que não nos ocorreu.
A impossibilidade nunca está onde a esperamos.
Acabou o livro. Muito bom. Tenho de escolher a próxima vítima.
E agora tenho mesmo de ir fumar outro cigarro. E amanhã não sei como vai ser para levantar e rumar ao trabalho. Vou tentar pensar em todas as possibilidades que agora me assomam impossíveis. Não quero que me derrubem. Outra vez.]
Boa Noite, outra vez.

18 abril 2014

"Que fiz eu para merecer este destino murcho, esta vida tépida, monótona, previsível? Sem fogo de paixão, sem drama, os meus dias arrastam-se na expectativa medíocre de que talvez amanhã aconteça alguma coisa. Amanhã. Sempre amanhã. E ao mesmo tempo agrilhoado à certeza de que nada acontecerá, porque me envolvo em seguranças, ponho travões, não dou passo que não seja calculado.
Isolo-me e, contrariamente, anseio por companhia, mas companhia ideal, livre de imperfeições e desacertos.
Mantenho-me fiel - fiel a quê ou a quem? À mulher? À minha cobardia? - enquanto me arrasto pelos deboches sem limite nem lei que só a imaginação pode conceber.
Dou-me à veleidade de sonhar vida nova. De, como já disse, querer refazer o meu mundo, abrir outros horizontes, enquanto de facto me sinto morrer aos poucos. Não tanto do corpo, mas da alma, com a impressão de que esta vai perdendo o que eu julguei impossível de perder e se aproxima de um temeroso vazio.

(...)

Mantenho os olhos abertos e escuto-o, mas às imagens que ele evoca sobrepõem-se em mim outras, numa fantasia em que se misturam a inveja, ilusões, desejos recalcados. Como é que um pobre-diabo pode ter vivido um amor assim? Porquê ele? Que força manda que o destino duns seja mesquinho e o doutros uma sorte grande?"

J. Rentes de Carvalho, in A Amante Holandesa

[... Sim porquê? E por que é que quem vê de fora normalmente vê tudo ao contrário? O pobre-diabo a ter inveja do senhor, que afinal inveja a sorte grande que o outro viveu... E este trecho da sorte grande lembra-me também outras coisas, e penso o que sentirão se algum dia falarem com um pobre-diabo que tenha tido a coragem de reclamar o prémio... Que será que sentirão?
E agora talvez seja bom ir jantar...]
"- Para sempre?
- Para sempre.
E olhámos-nos sorrindo, sem saber bem de quê, talvez por sentirmos no íntimo que juras assim eram solenes de mais e que, ao fazê-las, apenas imitávamos um ritual."

J. Rentes de Carvalho, in A Amante Holandesa

[livro começado hoje, a seguir ao almoço numa esplanada com um café a acompanhar, e não o consigo largar, muito, muito bom...]
" Recordar é fácil para quem tem memória, esquecer é difícil para quem tem coração."
Gabriel Garcia Marquez (1927-2014)

[deixou-nos coisas boas, é daqueles que vai, mas ficará sempre, pelo menos em quem o lê com o coração. 
E esta frase diz-me tanto, tanto de tanta coisa que não parece, mas está lá. Nesta frase estão quase escondidas as respostas que dou (ou melhor, dava) a tantas perguntas que me faço (ainda). E a resposta, que gosto tanto, não me agrada. E isto parece confuso, mas não é. Parece contraditório, mas não é. É muito claro para mim.]

Boa Noite

16 abril 2014

...e agora fiquei a pensar, se não as tivesse apagado eu, agora perdia as mensagens todas, todas desde a altura, há uns dois meses, em que a caminho de casa, ganhei coragem e apaguei tudo... e agora ponho-me a pensar o que me custou que desta vez ficasse apagado, e  foram poucas as que me deixam pena de ter apagado - coisa estranha só por si, ou talvez não de tão estranho andares... Lembro-me de uma em que dizia que os tempos longe eu aguentava tentando agarrar-me à ideia que se realmente gostasses, haverias de vir ter comigo, que de alguma maneira arranjarias maneira. E perguntei-te que pensavas tu, do teu lado, e respondes: "amo-te", que pensavas isso, que me amavas, que no meio de tudo só pensavas isso, sentias isso. Nesse mesmo dia houve outra que não me esqueço, que se gostarias de ser o homem da vida de alguém, era de mim, e que querias que eu fosse a mulher da tua vida.
E agora as mensagens apagadas, ainda na minha memória as que apagadas não se foram de mim. Das mensagens nem rasto, e dessas tuas palavras e de tanta coisa, também não.... nem rasto. 
Onde anda tudo isso? Onde andas? 

15 abril 2014


Alguns dos principais acontecimentos do dia 15 de abril: nasce Leonardo Da Vinci, o paquete Titanic submerge completamente às 2:20 da manhã, Fidel Castro visita os EUA, inauguração oficial da Casa da Música, Papa Bento XVI faz a primeira viagem aos Estados Unidos e três pessoas morrem e mais de 100 ficaram feridas na sequência de duas explosões ocorridas durante a Maratona de Boston.



[...parece que ninguém deu conta de ter sido o dia em que há cinco anos atrás me apertaram o pescoço, encostaram à parede e roubaram o beijo que me mudou a vida, e que me mudou para eu ser quem eu sempre fui, e me tinha esquecido, ou tinha querido esquecer e enterrar debaixo do quotidiano, onde os sonhos não respiram, e a poesia morre asfixiada. Salvei-me, recuperei-me, para agora me enterrar inteira.
Na verdade estou a ser injusta, não me roubaram, porque acho que aquele beijo sempre foi de quem o levou e me levou. Só levou o que já era dele. Ele só veio resgatá-lo. Pena que não se tenha resgatado a si próprio...  ]

Boa Noite

13 abril 2014


...Menos um dia.
... Mais um anoitecer.
Olá, lua.
Tu és sempre a mesma, também.

Olá.


...Banho de lua.
Luar quase nú.
Alma quase despida.

Boa Noite

12 abril 2014


Amei Demais

Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais,
como as tais coisas nas quais nunca pensei.

Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.

Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei

à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei
antes de ti, eram perfeitos. Mas banais.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

[.. a minha companhia: um cigarro fumegante e uma vela ruidosa, debaixo do silêncio do luar ( e que luar, caramba). A lua enorme e espreitar por entre ramos... A natureza devolve-me sempre um pouco de mim, como se chegasse às raízes mais fundas para as tentar acordar... e eu só quero adormecer. Um adormecer de mim, do que trago, que seria acordar de ti, do estado adormecido em que me embalaste, onde me aninhei, em que me inebriei, e  tanto me enganei. 
Amei demais. 
Não sei gostar assim assim, por isto ou aquilo, por esta ou aquela razão, porque dá jeito e até nos damos bem. Eu só sei gostar assim: demais. Ou nada, que às vezes é quase nada, mas para mim é o mesmo - não sendo tudo, com tudo, é banal, é nada, por muito bom que seja. Depois de se verem certas coisas, sentirem certas coisas, viverem certas coisas, o resto é banal sobrevivência, ainda que boa. Mas uma sobrevivência só minha, só para mim, porque só eu as vi, as senti, as vivi. Sempre só eu. E continuo. ]

11 abril 2014

- "Sevilha jantar e passear pela zona velha, sentar numa esplanada a ouvir guitarra cigana, os cheiros, as cores, as laranjeiras, os espectáculos de rua das escolas de dança, é lindíssimo." - caramba isto é a sua cara... e é a minha cara. é por isso que me apaixonava se já não estivesse, percebe?

- e consigo consigo ter isso.
às vezes parece que consigo entrar dentro de si sabia?

- não consegue, já conseguiu, está cá dentro, acho que isso que sente é só o reconhecer-se...

- e sentir a sua sensibilidade, uma energia tipo electricidade
igual à minha.

[Novembro de 2013, incrível, surreal se calhar... incompreensível de certeza. conversas nossas, coisas lindas. ainda bem que escritas para reler quando se quer...]

...afinal é noite de baú, de músicas e conversas, tudo do baú...
Boa Noite

10 abril 2014



"(...)
Well I know I make you cry
And I know sometimes you wanna die
But do you really feel alive without me?
If so, be free
If not, leave him for me
Before one of us has accidental babies
For we are in love

Do you come
Together ever with him?
And is he dark enough?
Enough to see your light?
And do you brush your teeth before you kiss?
Do you miss my smell?
And is he bold enough to take you on?
Do you feel like you belong?
And does he drive you wild?
Or just mildly free?
What about me?
What about me?"

[..noite de músicas...]



... este homem é brutal...
"A coisa estranha e terrível que estava a tornar-se-lhe clara sobre aquele mundo do futuro, ao imaginá-lo agora, é que nele ela não existiria. Limitar-se-ia a andar por lá, e a abrir a boca e a falar, e a fazer isto e aquilo. Não estaria realmente lá. "

Alice Munro, in Fugas

08 abril 2014


"Não te apaixones por uma mulher que lê, por uma mulher que tem sentimentos, por uma mulher que escreve...
Não te apaixones por uma mulher culta, maga, delirante, louca. Não te apaixones por uma mulher que pensa, que sabe o que sabe e também sabe voar, uma mulher que confia em si mesma.
Não te apaixones por uma mulher que ri ou chora, que sabe transformar a carne em espírito; e muito menos te apaixones por uma mulher que ama poesia (estas são as mais perigosas), ou que fica meia hora contemplando uma pintura e não é capaz de viver sem música .
Não te apaixones por uma mulher que está interessada em política, que é rebelde e sente um enorme horror pelas injustiças. Não te apaixones por uma mulher que não gosta de assistir televisão. Nem de uma mulher que é bonita, mas, que não se importa com as características de seu rosto e de seu corpo.
Não te apaixones por uma mulher intensa, brincalhona, lúcida e irreverente. Não queiras te apaixonar por uma mulher assim. Porque quando te apaixonares por uma mulher como esta, se ela vai ficar contigo ou não, se ela te ama ou não, de uma mulher assim, jamais conseguirás ficar livre..."

Martha Rivera-Garrido

[...não te apaixones por uma mulher... ao menos este conselho eu ainda consigo seguir!! 
Mas fico a pensar que não há mulheres reais assim, tão completas, tão mistura fatal, global e globalizante. Acho que haverá uma mistura fatal para cada ser, e não tem de ser isto tudo, pode até não ser nada, é só uma sensação de plenitude e de se estar bem com alguém, como se bastasse um sorriso que nos dirige para acender uma luz do lado de dentro de nós, que depois se mostra e brilha no nosso olhar para fora... não é preciso tanto predicado... basta que nos faça sentir o melhor que podemos ser. Ser a ponte para o nosso melhor.]

Bom Dia!
Boa Noite

06 abril 2014

E depois, não se sabe bem porquê, acorda-se com uma frase na cabeça:
"consigo tem de ser tudo ou nada."
E lembramos-nos do exacto momento em que numa conversa em frente à lareira o ouvimos pela primeira vez. Depois foi muito repetido, mas lembro-me daquele primeiro momento em que o ouvi como estreia. E hoje acordei a ouvi-lo de novo, quase como estreia à luz desta coisa que vivo, que podia ser o tudo, mas parece que é quase nada. Ninguém entende. Afinal comigo pode ser de qualquer maneira e tudo o resto foi paleio, mentira, fabulação sei lá. Sentido é que não foi, nem é. E isso eu sinto muito. Sinto muito tudo o que este nada é. 

...sempre fui do género de confiar desconfiando;
quando me mentem e me tentam fazer de parva, passo ao modo de desconfiar sempre, 
mesmo que vá tentando confiar. 
Mas quanto mais mentiras, quanto mais se acumula em desconfiança, mais difícil.
...acho que é fácil de perceber, não?

05 abril 2014

[foto da página do Facebook "Paradoxos"]

...se conseguires,
Bom Dia
...
vem meu amor, vem para mim
me abraça devagar
me beija
e me faz esquecer
...
bem que se quis
depois de tudo ainda ser feliz
...

[adoro]

Boa Noite