Eva me chamaste

Fizeste das minhas costas o teu piano

Dos teus desenhos as minhas curvas

Da minha boca a tua maçã

Dos meus olhos o teu mar

Do meu mundo os teus braços


(...)

13 setembro 2014



" Não faz nem um mês eu disse aqui que a melhor desculpa de uma mulher que está sozinha é que não tem homem no mercado. É muito boa. Mas tem uma que disputa à faca o primeiro lugar: estou sozinha porque os homens têm medo de mulheres independentes.
Uma ova.
E posso afirmar: a cada minuto que você reclama, tem outra mulher também independente e bem sucedida – mas muito mais esperta do que você – sendo bem sucedida na dança do acasalamento. E você aí, sozinha no bar com as suas amigas independentes, com suas bolsas caras, indo dormir sozinhas, reclamando da morte da bezerra e dos homens. Aqueles ingratos.
Não sei de onde tiraram essa ideia de que a vida só mudou para as mulheres. Não é possível que a gente acredite mesmo que fomos criadas para ganhar o mundo, estudar, disputar vagas de trabalho, fazer o imposto de renda, encarar hora extra, sair sozinha com as amigas, e que ninguém contou nada aos homens. Enquanto isso, os pobres empacaram no tempo e, portanto, hoje temos que conviver com trogloditas que ainda esperam casar com a dona Baratinha.
Tenho um irmão 11 meses mais novo do que eu. Crescemos na mesma casa, com os mesmos pais. Nós dois vimos minha mãe trabalhar a vida inteira, chegar em casa muitas vezes depois de todo mundo, dividir as contas da família no papel, fazer uma comida mais ou menos, viajar sozinha no Carnaval porque meu pai sempre detestou os dois.
Saídos da mesma fôrma, eu ganhei o mundo. Meu irmão casou antes dos 20 anos. Não estou contando nenhuma história que não seja a mesma de quase todo mundo que eu conheço. Esse discurso de que os homens não estão preparados para essa nova mulher seria revolucionário na época da minha avó, que se separou aos 50 anos, decidiu aprender a dirigir, fez vestibular para educação física e foi procurar emprego – porque, até então, o único duro da vida da dona Dorah tinha sido criar quatro filhos. Talvez tenha ficado mal falada na cidade. Mas era a minha avó, no tempo da minha avó.
Essa ladainha em 2014 não dá.
Quando é que a gente vai cansar de se fazer de vítima e parar de encarar os homens como incapazes? Se a gente se adaptou aos novos tempos, eles também. Ainda precisamos de ajustes aqui e ali, mas está tudo bem.
Eu não convivo com homens despreparados para essa nova mulher que sou eu, você e quase todo mundo. Tenho amigos homens, e eles querem, sim, mulheres parceiras e não dependentes. Choram no meu ombro por causa de pé na bunda. Reclamam de mulher que não vale nada. Ficam perdidos sem saber como agradar essa fulana que, na verdade, não sabe o que quer porque cresceu acreditando que pode querer tudo. E pode. Só deveria parar de encher o saco.
Fizemos as nossas escolhas, eles fizeram as deles. Nenhuma mulher é igual. Assim como qualquer cara pode vir com mil variações do que a gente aprendeu a conhecer por macho. Tem todo tipo por aí. Mas com todos os requisitos que a tal nova mulher – que de nova não tem nada – quer, não sobra um na face da terra que baste.
Inteligente. Óbvio. Antenado. Com certeza. Remediado. Tem remédio? Fodão. O tempo todo. Bem humorado. É o mínimo. Frágil. Nem pensar. Imaturo. Socorro. Machista. Deus me livre. Glúten free. Pra quê? Fiel. Possível. Rico. Com a graça de deus. Comprometido. Por que não?
Esqueça.
Eu agradeço por nunca ter tido um único namorado que não me quisesse da forma como eu fui criada. Ganho o meu dinheiro, bebo uísque, gosto de futebol, dirijo super bem, cuido do meu imposto de renda sozinha. Sei pregar botão, ainda que torto, não sei nem por onde começa a receita de suflê de cenoura, só vou ao supermercado pra comprar vinho e no dia em que tive que aprender a diferença de alvejante e água sanitária, dei um Google.
Compro bolsas caras, saio sozinha com as minhas amigas e nunca fui cobrada por ter que trabalhar domingo ou terça à noite. Neste momento em que escrevo e tomo vinho tem um cara lá na cozinha preparando o jantar. Um cara que me escolheu do jeito que eu sou, que vibra com as minhas vitórias e me salvou de jantar miojo ou cerveja pelo resto da vida.
Meus pais nunca perguntaram quando eu iria casar ou quando lhes daria netos. Mas sempre torceram que eu encontrasse um companheiro para dividir a vida. Eles se orgulham muito do caminho que eu quis seguir e nunca me fizeram pensar que escolher ser bem sucedida significaria ser mal amada. Conheço uma penca de gente que tem os dois porque isso aqui não é uma competição. Todo mundo quer a mesma coisa. Eu, você, o Arthur, o Marco, o Fernando, o Rodrigo, o João, a Cris, a Camila.
Todo mundo quer um chinelo velho pro seu pé cansado. Quer sossegar o rabo num relacionamento feliz e cheio de cumplicidade, de parceria, de mãos dadas no cinema, de silêncios que signifiquem enfim sós.
Chega desse discurso de ser mal compreendida pelo mundo e pelo homens. Tem muita gente avulsa por aí. Dos dois lados, por inúmeras razões. Se você acredita mesmo que ninguém te quer porque é independente e porque os homens não sabem lidar com isso, só quero lhe dizer uma coisa: você está sozinha porque é chata.
Vou jantar, porque depois tem uma pia de louça me esperando. Justo."
Mariliz Pereira - roubado daqui

[eu sei que sou chata, não acho que esteja sozinha por ser independente, eu estou sozinha porque sou um bocadinho chata é verdade... não gosto de gajos que dizem/ escrevem "lol", ya, ou dizem 5 palavrões em cada 10 palavras (e olhem que eu também digo os meus, mas caramba...), ou que me dizem "eu preciso mesmo de arranjar uma namorada" ... hein??? WTF?? precisa? é para preencher cargo e não estar e aparecer sozinho?.... para mim não serve prefiro sozinha mesmo... sou chata é isso. sou chata e tenho essa noção de que não há homem no mercado, como diz a outra os homens são como os lugares de estacionamento, os bons estão ocupados e os livres que restam são para deficientes ou pessoas de mobilidade reduzida... que heiu-de fazer? e depois além disso souo chata e tenho a mania que para estar com alguém tenho de gostar da criatura, e mais dificil ainda ele tem de gostar de mim... para aquela coisa: "Todo mundo quer um chinelo velho pro seu pé cansado. Quer sossegar o rabo num relacionamento feliz e cheio de cumplicidade, de parceria, de mãos dadas no cinema, de silêncios que signifiquem enfim sós." - quero o "enfim sós" e almejar por isso durante o dia, e não fazer frete quando acontece... sou chata e esquisita, pronto.]
Hoje foi dia de ronha. De acordar, ficar na cama, acender a luz e ler um bocado, de fechar a luz e voltar a dormir. Assim sem horas nem pressas nem programas. Coisa boa, coisa muito boa. 
Agora estou aqui neste sítio em que me lembro de ter tido dos últimos momentos em que me senti quase namorada, de namoro bom, de cumplicidade brincada mesmo às nove da manhã, hora em que nesse dia vim aqui apanhar uma coisa para levar, e depois me disseram que tiveram vontade que entrasse e ficasse a namorar e a devorar essa coisa boa que se sente quando se está bem: o tempo. Agora o tempo parece não ter medida, mas também não tem pressa. Agora não há pressa de nada porque não queremos chegar a lado nenhum. Nem vontade de ter um lugar a que chegar. 
Vou tomar um café e ler mais um bocado na esplanada, afinal dizem-me rata de biblioteca, mas se calhar sou mais livro de esplanada, isso sim. E faço-o muito naturalmente (só não sei o quê... )
"Não era possível que desejasse mesmo a morte dela depois de a ter amado tão desesperadamente. Agora que ela sabia o que era o amor, recordava mil sinais de adoração que ele tinha por ela. Para ele, como na expressão francesa, ela comandava a chuva e o bom tempo. Era impossível que já não a amasse. Será que se deixa de amar um pessoa só porque se foi tratado de forma cruel?
(...)
A princípio pensava que tinha apenas de dar tempo ao tempo e que, mais cedo ou mais tarde, Walter lhe perdoaria. Confiara demais no poder que sobre ele exercia para acreditar que pudesse ter acabado para sempre. Nem todas as águas conseguiriam extinguir o fogo do amor. Ele seria fraco se a amasse e ela sentia que ele deveria amá-la. Mas agora já não tinha tanta certeza."

Somerset Maugham, in Véu Pintado

[...pois realmente acho que não há água que apague o fogo do amor, mas o que dá essa temperatura invencível ao amor é a consciência dele e a sua reciprocidade. É amar, saber que se ama realmente e muito (se é que pode haver isso de amar pouco, como se amar fosse relativo, quando afinal é um verbo tão absoluto... Mas a consciência desse absoluto é talvez isso que tento dizer aqui: a consciência dá até outra dimensão a essa ausência de relatividade, de mais ou menos, de talvez, de alternativa) e sentirmo-nos amados. E aqui digo sentirmo-nos e não sermos. Porque a realidade não é absoluta mas relativa a cada um. Se me sinto amada, na minha realidade sou amada. E se amo também o amor é pleno e forte e nenhuma água apaga esse fogo, como toda a escuridão do mundo não apaga a luz duma pequena vela (já aprendi esta...). Quando não há reciprocidade, ou quando ela não é a nossa realidade por não ser sentida, não há o poder que o amor exerce nas pessoas, e que tanta gente confunde como o poder de uma pessoa sobre a outra. Não, não é a pessoa, não é o outro, é o amor que se sente, é o que o outro nos faz sentir que nos deixa reféns, e que nos prende e tem poder sobre nós. Porque sim, o amor é egoísta, existe apenas para nos fazer sentir bem e plenos e felizes. A única particularidade do amor é fazer-nos sentir bem e plenos e felizes, através do outro, dele se sentir bem, pleno e feliz. É uma coisa egoísta que  nunca se consegue sozinho, e que  passa pelo bem estar de outro, como uma espécie de corpo condutor da nossa felicidade. Eu acho isto e penso isto assim, mas acho que ninguém entende isto. Ou muito poucos. Acham que alguém amá-los lhes dá poder sobre eles, e se não amam acho que chegam a "endeusar-se". Se amam, normalmente não percebem como são correspondidos, porque tornam o outro uma espécie de deus torto, de carne e osso, e defeitos vários, mas a quem dedicamos todas as preces não religiosas, como as atenções, os sorrisos, os beijos pequeninos e grandes, os carinhos, e as coisas que fazem a vida valer a pena. ]

"(...)
Sai dos teus sentidos, vai
até ao limite da saudade;
sê o meu corpo.

E por trás de cada coisa, arde em chamas
e que as sombras que se alastram
sejam a minha roupa.

Permite que tudo te atinja: a beleza e o terror.
Apenas tens de ir:
nada do que sintas será demasiado longe.
Não te deixes nunca separar de mim."
(...)

Rainier Maria Rilke

12 setembro 2014


"Parece estranho que alguém possa ter medo de ser feliz, que queira mudar sua vida em busca do novo, queira sucesso e alegria, mas só consiga fracasso e frustração nessa busca. Inconscientemente temos outro "eu" que não quer esse nosso sucesso. E assim, nós mesmos nos boicotamos sem saber.

São condicionamentos nossos que nos acompanham pela vida, fruto de nossa educação, do medo de fazermos algo que não é o que esperam de nós. E esses condicionamentos podem ser uma pesada herança emocional que carregamos e que nos impede de gozar a vida plenamente.

Ao buscarmos felicidade e satisfação de nossos desejos, entramos em um conflito sem nem mesmo imaginarmos que ele exista, muito menos o porquê. E criamos um verdadeiro monólogo interno que questiona nossas mudanças... "E se eu gostar? E se eu for feliz? E se der certo? Que medo!"

Em nossa zona de conforto, sentimo-nos seguros. Está tudo certo. Nossas vidas estão tranquilas, em ordem, estamos sem problemas. Mudanças trazem consigo riscos. E isso tudo nos causa angústia e ansiedade.

E se não conseguirmos vencer esse embate inconsciente, no sentido de satisfazer nossos desejos, podemos fazer com que esse medo nos paralise.

Viver é correr riscos, assumir responsabilidades e ter consciência de que não temos o controle sobre nossa vida - o que é a grande angústia do ser humano.

Todos nós temos nas mãos todas as condições para aproveitar a vida ao máximo, mas talvez prefiramos não fazê-lo, por uma espécie de medo de ser feliz. Freud já falava sobre isso, em 1916, em um artigo intitulado "Os que fracassam ao triunfar". Uma parte de nós quer mudar, quer satisfazer desejos, quer ser feliz; outra quer manter-se segura como está.

O que precisamos é descobrir esse conflito interno para modificar nossas atitudes. Somos seres com a tendência a repetir, confirmar e concretizar todas as crenças que adquirimos em família, sem questionarmos se fazer exatamente o que nossos pais e avós também fizeram é o que queremos para nós.

Vamos buscando os mesmos modelos de vida, buscando os mesmos tipos de relacionamentos por acharmos que são os certos para nós. E caímos em nossas próprias armadilhas. Não fazemos o que realmente desejamos por sentirmos culpa ou medo de certo tipo de rejeição.

Quanto antes tivermos consciência disso, maiores as possibilidades de mudar nosso rumo, assumindo o que queremos para nós, indo em busca do que nosso "eu" realmente quer para si.

Vivemos num mundo em que se dá valor a determinados "modelos" de felicidade que vemos ao nosso redor e, muitas vezes, desejamos uma tal felicidade que não é a que temos e que não está em nós.

Buscamos ser interessantes, ricos, bonitos e inteligentes como outros - um modelo que enxergamos - e esquecemos quem realmente somos e todas as nossas possibilidades.

Portanto, repensar nossas próprias posturas pode nos ajudar a interromper esse verdadeiro ciclo de autossabotagem, pois felicidade é ter coragem de viver sem medo e sem culpa."


...eis um bom exemplo do porquê de eu gostar de provérbios...
pelos vistos até os espanhóis.
Há coisas que não há maneira de nos tirarem, 
por pequenas que sejam face a outras tantas grandiosidades.
Gosto desta ideia.

...até onde posso.
Boa Noite

11 setembro 2014

[na verdade, as pontes não são para unir as margens e o tempo viu-me partir num dia de sol, pela berma fora, descalço, sem procurar mais espaço neste lugar. parti, destinado à ideia de estar só, metamorfoseei-me da invenção do amor. respirei fundo até ao fundo de mim e cuspi fogo. escrevi uma curta crónica sobre o meu corpo e apaguei-a depois. talvez por medo, talvez por estar em branco como as insónias que me dizem o que não quero ler. torna-se tudo tão nítido de noite. as sombras, o vento, o choro. não quero que a memória me traia, mas penso que me demorei nos gestos e agora já não sou daqui. sou um outro animal desconhecido e conto o agora através dos dedos dos pés, à espera que a luz se apague de vez. não quero reconhecer a escravidão dos dias, já não trato o tempo por tu. era preciso uma ilha. trinta de junho. era preciso não saber nadar. respirei fundo e cuspi uma onda de mar. o silêncio está a meio da vida e pouco resta do meu nome. deixei a porta aberta. no fim do azul a chuva cairá.]

Eu devo ser mesmo uma gaja todo-o-terreno, com saltos de quinze cms a subir a montes de entulho das obras... devo ser isso e meia maluca, mas isso não é novidade, e o certo é que nunca os saltos me impediram de fazer nada. Nem andar no meio do mato, nem no meio de calhaus. Em última instância descalça-se se se puder. E vai daí olhei para aquilo e disse, bom, não vou ficar aqui e não ver  que tenho para ver, né? e pronto, calças de ganga e saltos de 15 cms passearam pelo entulho e transpuseram o obstáculo. Missão cumprida. Gosto disso nas mulheres - gosto disso em mim, porque tenho coisas em mim de que gosto, certo é que mais ninguém as aprecia, mas paciência, nem tudo em mim é mau, e isso eu sei, por muito que às vezes não o valorize - de saberem andar de saltos onde não seria suposto, e de saberem andar de sabrinas em qualquer lado. E não é o que se veste, é o espírito que se incorpora, porque o que está por fora tem de combinar com o que se traz vestido por dentro, de alguma maneira tem de estar afinado, ou soará a falso. Gosto da simplicidade de um fim de semana que combina com calças de ganga e t-shirt, com umas sabrinas, óculos de sol e cabelo revolto; e - pode até ser no mesmo dia- gosto de vestidos de jantar justos e femininos, principalmente se nao for para sermos nós a despi-los... Até gosto daqueles vestidos de executiva, que dão a algumas mulheres aquele ar meio distante e inalcançável, mas algo apetecível, e eu gosto de ver embora eu nunca tenha esse ar. Até tenho especial apreço pelas mulheres, senhoras de saltos bem usados, que sabem descer do salto e retomá-lo com elegância, e isso é raro de ver, muito raro. De saberem sentar-se numa tasca ou num restaurante premiado com estrelas michelin. De saberem dizer não com inteligência e graça, e de saberem encostar alguém à parede com toda a vontade de sim e sem falsos pudores.
Eu tenho muito poucas destas qualidades que gosto, mas sei reconhecê-las quando as vejo.
Gosto de gente que sente e sabe sentir, e estar.
Porque saber estar é também saber respeitar os outros, essencialmente isso, tal como se atentarmos bem ao principio básico que fundamenta as regras de educação - respeito e consideração pelos outros, e isso tem a ver com como se sente os outros e nós em relação aos outros.

Bom Dia
...hoje estou assim, mesmo que não se veja.
Acho que nem os totós me faltam...

Boa Noite
Quando se gosta, gosta-se, mesmo que haja muita coisa de que não se gosta no outro. Nunca há alternativa quando se gosta. Tenta-se tudo sempre. Como já disse e escrevi várias vezes, gostar do que alguém tem, das suas qualidades e como nos faz sentir, não é gostar dessa pessoa. Mas pode-se gostar estupidamente de quem não tenha o que gostamos, o que queríamos, o que nos faz sentir confortáveis, simplesmente gostamos, sem razão alguma. Estupidamente, mesmo sem conseguir fechar os olhos ao que não gostamos. Aliás, só assim se gosta verdadeiramente: com os olhos abertos para o pior do outro e ainda assim o amor ser maior que isso. A este gostar não há alternativa, não se consegue escolher desistir, a não ser - e só para algumas pessoas, não todas - quando percebemos a certeza de que esse alguém não gosta de nós, de que não somos amados, e que o amor vive de reciprocidade e aquece-se do que sentimos através do outro acerca de nós, do mundo, da vida, e dele mesmo. 
E eu quero amar e ser amada. Ainda que ame menos do que o amei. Quero sentir-me amada e fazer alguém sentir-se amado, devolvendo-lhe o melhor de mim que me dá, que me dá o amor que é dos dois. Só assim. Não quero quem não me queira. Duvido que se possa ser feliz sem se sentir amado, ainda que ame. Aliás, olho para algumas pessoas e tenho essa certeza, não são felizes como gostariam, como poderiam ser, porque amam mas não são amados por quem amam. Eu não quero isso para mim. O amor assim só sobrevive e forçado, não vive nem respira profundamente. Sem "nós" não há amor, há amar alguém até que alguém nos ame. 

10 setembro 2014

    Han han... Já nem peço um gajo tão bonzinho (e tonto, vá) basta um que ache que não é assim tão mau e que as coisas boas são mesmo boas... (Pois tem de ser mesmo muito tonto, pronto, 'tá bem. Seja)
sim... há coisas que não têm solução...
não têm conserto, é andar para a frente...
...há tanta fila que anda, um dia a minha também há-de andar!!
E alguém ver brilho em mim, e calor, e essas coisas e ajudar à festa, ter vontade de melhorar a luz, o calor, por-me uma gargalhada no riso, a mão na minha, deixar-me encostar e descansar, dar-me mimo e deixar-me dar todo o que trago em atraso... e já é tanto...
Estou tão desconsolada hoje... nem sei porquê, será do tempo, ou do pouco que entendo das pessoas, da vida, e pior, da minha vida... 
queria trocá-la por outra.

Bom Dia


"pegas-me na mão, abres a porta, ligas a música e o candeeiro do chão. suspiro-te ao ouvido que estás linda nesses saltos, aperto-te a cintura com um braço e com o outro prendo-te o pescoço. o beijo demora mais, a respiração fica mais intensa, o teu corpo cola-se ao meu. a roupa cai e deixa nua a tua pele. deito-te na cama e percorro cada bocado de ti com a minha mão. lentamente. o teu peito, os teus braços esguios, o teu pulso do tamanho da minha mão, a palma da tua mão na minha. lentamente. o teu pé, de curva inclinada perfeita, as tuas pernas longas, a tua coxa próxima, quente. quase louco o magnetismo que o teu corpo solta quando lhe toco. depois beijo-te, aperto-te, rodo-te, puxo-te. toco-te. amo-te. em vagas de ritmo. às vezes mais lento, outras vezes mais demorado. paro no teu olhar sempre que tenho a ideia mais louca. solto um riso, gozo com a tua cara de espanto maroto, e fico-me ali, a ver-te no prazer do que te faço. dizes que é o meu sorriso safado, de boca mordida no gemido baixo, que te excita o desejo.

entre cada vaga de ritmo louco, de safadice doce, o teu olhar cruza o meu. e não vejo só prazer. e não vejo só amor. vejo mais, vejo aquilo que não se explica, a intensidade do que não se sabe onde nasce, apenas sabe que se vive ali. naquela fusão de dois corpos que se entregam, que se deleitam no prazer, que se amam, não pela carne, não pelo desejo, mas pela alma. como quando no meio do ritmo mais louco, paramos. quietos. imóveis. o silêncio da música, apenas o meu respirar ainda ofegante na tua cara. e as palavras que saem lá do fundo, sem filtros, nuas, como nós. e a lágrima de emoção que escorre, que cai lentamente enquanto te abraço, enquanto te aperto, enquanto te amo mais uma vez. e ficamos ali, horas, entre risos safados, prazer sôfrego, e paixão lânguida. dizes que é o meu sorriso doce, de brilho nos olhos, que te emociona o desejo."


Momentos daqui

...mas só dali, porque destes não moram cá.

Boa Noite

09 setembro 2014

... menina B... o que eu não faço por ti!!!
Só para te alegrar o dia e dar-te desejos de ser uma maçaneta... hummm.. 
quem é amiga quem é?
...pois!!... nem precisas responder 'tá?
... tu vê bem, vê bem... o sorriso do moço!!
ihihihiih

... de certa maneira é.
Pode salvar-nos ou destruir-nos; pode criar-nos dependência ou alergia...
dependência que seja por nos fazer sentir e bem e gostarmos de repetir sempre, e a toda a hora;
 a alergia que se detecte depressa, que se identifique o composto que não suportamos e afastemo-nos para não nos darem ataques de alergia crónica com o tempo...
Há que escolher bem as nossas drogas....
depurar os efeitos primários e não descurar os secundários...

Bom Dia



"O que os amantes fazem é gostar um do outro.

Se gosto do teu corpo, quero-te; se gosto dos teus olhos, olho-os; se prezo a tua opinião, peço-ta; se valorizo os teus conselhos, conto-te a minha vida para que mos possas dar; se me agrada a tua companhia, escolho-a; se quero ter coisas em comum contigo, procuro-as; se te quero bem, cuido-te; se quero os teus beijos, dou-tos; se me interessas por dentro, ouço-te; se te quero foder, digo-to; se te quero menos cansada, ajudo-te; se me quero menos ocupado, e mais livre para ti, explico-to; se gosto de te ouvir rir, rio contigo; se gosto de te sentir perto, abro-te a porta e chego-me a ti, chego-te a mim.

São estas as coisas que fazem os amantes; e são estas as coisas de que se alimenta o amor – não é só de viagens nem de jantares, de corpos magros, de prendas caras ou de vontades feitas.

O que os amantes fazem são estas coisas parvas do dia a dia, e é preferirem-se um ao outro para estas coisas."


Mas este não dá para resistir... coisas parvas, estas coisas parvas de se preferirem um ao outro para rir, para fazer rir, para se encostarem um ao outro, para conversarem, para pensarem em conjunto de tudo o que é a vida e do que devia ser e do que não queremos que seja, para se cuidarem por dentro e por fora - e às vezes cuidar por dentro é agarrar por fora. Querer por dentro é colar por fora. É uma coisa parva de encostar a pele do avesso, de dentro para fora, numa gargalhada, num abraço ou num beijo que às vezes só se sonha.

É preferirem-se, sempre. Escolherem-se todos os dias para as coisas parvas, e para as outras também. Escolherem escolherem-se. 
Escolherem-se.

Sou terrívelmente parva, o que me faz lembrar do título dum livro que transcrevi muito aqui no tasco: O Amor é para os parvos.

Boa Noite
"- Isso quer dizer que você não quer que ela se divorcie de si?
- Bem, tenho de pensar nos meus filhos, não tenho? E naturalmente não quero vê-la infeliz. Sempre nos demos muito bem. Ela tem sido uma esposa fantástica, sabe?
- Então porque é que me disse que ela não significava nada para si?
- Eu nunca disse isso. Disse que não estava apaixonado por ela. Há anos que não dormimos juntos, a não ser de vez em quando, como por exemplo no dia de Natal ou na vespera de ela partir para Inglaterra ou no dia que regressa. Ela não é mulher que se interesse por esse tipo de coisas. Mas fomos sempre grandes amigos e não me importo nada de lhe dizer que dependo dela mais do que alguém possa imaginar.
(...)
- Mas disse que nunca me abandonaria.
- Mas, meu Deus, eu não a vou abandonar. Metemo-nos num grande sarilho e eu vou fazer tudo o que for humanamente possível para a livrar dele.
- Excepto a única coisa óbvia e natural.
(...)
- Precisava de me ter dito que não queria mais nada nesse mundo além de mim?
Os cantos da boca dele descaíram com impaciência.
- Oh, minha querida, não deve tomar à letra as coisas que um homem diz quando está apaixonado por si.
- Então não foi sincero?
- Fui, no momento."

Somerset Maugham, in Véu Pintado

[Onde é que está escrito que a paixão torna as pessoas mentirosas... ou pronto sinceras, muito sinceras, mas a curto prazo, curtíssimo (conheço um caso de cinco horas, em cinco horas passou de doidinho por uma coisa, para doidinho pela oposta...), onde é que isso está escrito que não li esse livro, essa bíblia? Aliás eu acho que oferecia era uma enciclopédia, ou melhor umas dezenas de poemas, para ver se percebem o que é a paixão e estar apaixonado, é que estar apaixonado é estar ao rubro dos sentimentos duma forma genuína e verdadeira, não há lugar para mentiras, menos ainda para mentiras acerca dessa paixão... acho que confunde-se muito paixão com tesão, mas pronto isto é só uma opinião, sincera e de longa duração, mas posso estar errada...]

08 setembro 2014

"- Sabe as mulheres têm muitas vezes a impressão de que os homens estão muito mais apaixonados por elas do que na realidade estão.
(...)
- Não sabe porque casei consigo?
- Porque queria estar casada antes da sua irmã Doris.
Era verdade, mas ela sentiu algum regozijo quando viu que ele sabia. Por mais estranho que parecesse, ele espicaçava-lhe a compaixão mesmo naquele momento de medo e raiva. Ele esboçou um sorriso ténue.
- Nunca tive ilusões a seu respeito - disse. - Sabia que era pateta, frívola, uma cabecinha oca. Mas amava-a. sabia que os seus objectivos e ideais eram triviais, lugares comuns. Mas amava-a. Sabia que não era lá grande coisa, mas amava-a. É engraçado quando penso no esforço que fazia para achar graça às mesmas coisas e na ansiedade com que lhe escondia que não era ignorante, banal, maledicente e estúpido. Sabia como a inteligência lhe metia medo e fazia tudo o que podia para que pensasse que eu era tão idiota como o resto dos homens que conhecia. sabia que só tinha casado comigo por conveniência. Mas amava-a tanto que não me importava. Tanto quanto sei, a maior parte das pessoas, quando estão apaixonadas por alguém e esse amor não é correspondido, sentem-se ofendidas e ficam cada vez mais zangadas e amargas. mas eu não era assim. Nunca esperei que me amasse, não via razão para que o fizesse, nunca me considerei muito amável. Bastava-me poder amá-la e entrava em êxtase quando, de vez em quando, pensava que lhe agradava ou quando captava nos seus olhos um lampejo  de sorridente afeição. Tentava não a importunar com o meu amor, mas, como sabia que não podia evitá-lo, estava sempre atento ao primeiro sinal de impaciência ante o meu afecto. O que a maior parte dos maridos espera ter como um direito eu estava preparado para receber como um favor.
Kitty, acostumada uma vida inteira à lisonja, nunca até aí tinha ouvido ninguém dizer-lhe tais coisas e no seu coração explodiu uma ira cega que rechaçou o medo, uma ira que parecia sufocá-la, fazendo-lhe as veias das têmporas inchar e latejar. A vaidade ferida pode tornar uma mulher mais vingativa do que uma leoa a quem roubaram as crias."

Somerset Maugham, in Véu Pintado

[Isto é tudo o que eu não quero: ter a certeza que não sou amada e resignar-me a isso, a amar alguém que não consegue perceber o que eu sinto por dentro, ainda que  possa sentir com menos ou mais intensidade, tem de ser um comprimento de onda partilhado ou não vale a pena. Por muito que dar seja tão mais gratificante do que receber, receber por favor recuso-me, chega a ser ofensivo emocionalmente. Talvez seja o dito orgulho, o não poder exigir o que só existe sem exigência, ou sequer, razão. Mas também não ser amado não é culpa de quem não ama, porque não nasce da vontade, por isso aquele ressentimento de quem sabe que não é amado parece-me uma coisa mesquinha, amarga e ressabiada, como se nos achássemos tão grande coisa que a estupidez de não nos amar é do outro. A culpa de não nos ver como nós queremos que nos veja, ou como nos vemos, é do outro. E isso sim é estúpido. E eu tento a todo o custo não ser esse tipo de estúpida, mas tenho toda uma palete de estupidezes para me desforrar... e à grande!]
"Pode ser que, tal como as personagens históricas, eu seja orgulhoso de mais para lutar."

Somerset Maugham, in Véu Pintado

[... Há muito de mim nesta frase e eu não sabia, nunca pensei nisto assim, mas há coisas em que sou definitivamente assim, e de facto talvez seja orgulho. Encaro a possibilidade de certas disputas como uma posição de inferioridade, ou pelo menos uma posição relativa onde só deveria haver posições absolutas, como no amor. Nunca disputei um homem com ninguém, nunca "lutei" com ninguém para ganhar o afecto de outro. Se acho que é preciso disputar afecto é porque o andamos a procurar onde não o há. Posso lutar por quem gosto, posso fazer este mundo e o outro completamente desprovida de orgulhos, mas apenas enquanto achar que o outro gosta de mim este mundo e o outro. Se não for assim talvez seja orgulho o nem ir a jogo. Retiro-me. Nunca poderei ganhar o que quero. Porque o que quero não se ganha. Ou há ou não há. Ou se ama ou não se ama, e ponto final.
Esta frase é excelente mesmo, bolas.]
"Walter, ao contrário do que era seu hábito quando jantavam fora, não lhe enviou um pequeno sorriso de vez em quando. Nunca olhou para ela. Quando se dirigiam para o carro, ela tinha reparado que ele mantinha o olhar desviado, fazendo o mesmo quando, com a delicadeza habitual, lhe deu a mao para á ajudar a sair.
(...)
Claro que ele sabia; disso não tinha a mínima dúvida, e estava furioso com ela. Mas porque é wue não tinha dito nada? Seria na verdade porque, embora zangado e ferido, a amava tanto que temia que ela o deixasse? O pensamento provocava-lhe sempre um leve, mas terno, sentimento de desprezo: afinal era marido dela, era quem lhe dava tecto e a sustentava; desde que não interferisse na vida dela é à deixasse fazer o que quisesse tratá-lo-ia com toda a cordialidade.
(...)
E havia ainda outra coisa: os homens eram muito vaidosos e, desde que ninguém soubesse o que se tinha passado, podia ser que Walter se desse por satisfeito em ignorá-lo. Depois pensou se não haveria a mínima possibilidade de Charlie estar errado ao sugerir que Walter sabia bem de que lado soprava o vento. Charlie era a personalidade mais popular da colônia e em breve seria secretário colonial. Poderia ser muito útil á Walter: em contrapartida, poderia prejudicá-lo muito se Walter o enfrentasse. O coração dela exultava ao pensar na força do seu amor; como se sentia indefesa nos seus braços vírus. Os homens eram tão estranhos: nunca lhe teria passado pela cabeça que Walter fosse capaz de tal baixeza, mas nunca se sabia, talvez a sua seriedade não passasse de uma mascara para encobrir uma natureza mesquinha e cavilosa."

Somerset Maugham, in Véu Pintado

[... Quantas máscaras usam as pessoas? Quanto tempo para percebermos as máscaras, e haverá máscaras que nos impeçam de ver a nós mesmos? E porquê? Não nos conhecemos e temos medo de nos ver ao espelho sem máscaras, temos medo de nos ver e à nossa verdade? Sabemos qual debaixo de todas as máscaras é a nossa verdade? Mas se temos medo revela-se que desconfiamos que não iremos gostar do que poderíamos ver... Estranho.]
...dormir seria uma variação... das boas, vá... mas não se está mal, aqui com a cidade pela janela e um mundo morto por dentro. Um cigarro na mão, e a luz que se fechou para não ferir a escuridão que se sente mais do que se vê. A ponta do cigarro acesa, laranja, que vive a espaços mais viva, e eu invejo-a, de viver mais viva a espaços. Mas no fim tudo é cinza. Às vezes acho que também eu já sou só cinza.
...bom conselho.

Boa Noite

06 setembro 2014



"Toda a gente me dizia que já não existia, mas eu decidi procurar, fazer um avistamento de algo que fosse realmente uma questão de fé, que me mudasse para sempre. Foi essa impossibilidade que me excitou. Quase tudo o que nos dizem que não conseguiremos alcançar, que não conseguiremos ter, que não existe, afinal só o próprio medo nega.
(...)
(...)perdermos o desejo de pureza é a maior perda de todas; perdemos a existência da própria alma humana. É essa busca que nos torna humanos. Só o medo nos impede de viver vidas apaixonadas.
(...)
Esse é o primeiro grande passo, fundamental, para que uma pessoa acorde na sua própria vida: tirar-lhe totalmente a esperança. É uma pessoa acordar diante do abismo. E, como diz Nietzsche, quando se olha para dentro do abismo, o abismo olha para dentro de nós. E nessa contemplação damo-nos conta da dimensão universal da miséria e do sofrimento em que estamos metidos. E talvez isso nos dê a vontade, a energia, a força e o entusiasmo para querermos dar o salto em direcção ao desconhecido, em direcção a algo que não é comprável, não existe nas lojas, não dá para ver pela Internet e é uma descoberta própria de cada um. A esperança tem de ser a primeira coisa a morrer na nossa vida.
(...)
Queria um indivíduo que sai de outro mundo e, de repente, é confrontado com uma estranheza tal que não consegue resistir. O facto de ser mais velho, de não ser lusófono, de ser verdadeiramente estrangeiro permite-lhe contrastar, exaltar-se, sofrer tremendamente com coisas que diríamos normais. E não são nada – muitas das coisas que estamos a viver tornaram-se normais, mas não são nada naturais. Quando uma pessoa acorda de uma coisa assim, já não há espaço, nem tempo para mais palhaçadas. Não há amanhã."

...sacado desta entrevista com alguém que eu não conhecia... mas o título, por ser algo que penso há muito e volta e meia me remói os pensamentos, fez-me ir ler. E a entrevista vale a pena ser lida.

[Tenho pena de não me lembrar melhor dos livros que leio, realmente a minha memória de galinha dá nisto, já li aquele livro do Conrad, sei que gostei, que gostei muito, que é um livro forte e duro, mas só tenho uma ideia vaga da história e tive de ri rever quem era aquele personagem (para estas revisões este blog é coisa boa, é é...)]
"Quando nos vénus,
juro a marte."
Leminski

Boa Noite

05 setembro 2014


... Chegaram! Foi rápido.
     :))

...com dias como este!!.... 
passam a correr de tanto trabalho que lhe fazemos caber... 
...à segunda vez que nos tentamos coçar já alguém nos está a chamar... 
é que não dá para pensar em mais nada, é uma maravilha, a sério!!...
Quero mais dias destes, gosto. Nestes dias, e com o que fiz hoje, até gosto mais do que faço. 
Queria muito ganhar um ou dois contratos destes, até o pessoal deixava de resmungar de ser uma gaja a mandar neles... acho eu, há quem tenha sempre do que se queixar.... bahhh
a ver vamos, era bom.
O pior agora é o caminho para casa... 
o final do dia faz sempre pesar nos ombros a vida que nos anoitece...

04 setembro 2014

...'bora!!
para isso está toda a gente sempre pronta, né?
mas porque é que é preciso ir embora para ser feliz?
não dá para ser feliz em qualquer lado?...
...tipo aqui, ali ou acolá: em qualquer lado, o que interessa é estarmos bem, né?
Então embora para quê?
Não podemos ficar aqui, juntinhos?
calados?
enroscados? a ver o mundo pela janela?
sem lhe ligarmos nada porque o mundo onde estamos é muito melhor?
Não podemos?

[não, não podemos, claro que não. eu sei e quem eu sei não quer, e então eu também não quero, 
até porque agora tenho de me ir embora para casa, lá está... pois, bahhhhh]

Que coisa mais doce.... alguém se atreve a definir melhor o amor do que estas crianças?? 

Vejam aqui que vale a pena, eu não resisti a estas:



... e acho que esta última é muito difícil de superar como descrição, 
as outras revelam comportamentos quando se ama: o querer agradar, a cumplicidade de ajudar em tudo, tudo é tarefa partilhada até as pessoais quando deixam de poder ser pessoais...
Eu não saberia descrever ou sequer dizer melhor do que o Billy o que é o amor, e gostava que um dia alguém lesse estas frases doces e só me visse a mim ali. 
Essa é se calhar a minha definição. 
Ver o outro em tudo o que se gosta. Tudo o que faz o sorriso nascer por dentro.

(...)
"Porque és Tu. A minha queda-livre.
E não te sei parar em mim.
Segura-me. Amparo-te.
Controla-me a loucura. Sossego-te os medos.
Pede licença para ficar. 
Não podes ser tanto.
Vou perder-me em ti. Vou querer ficar. 
Não vou querer sair. 
Nem daqui a mil anos."
(...)

Do miúdo que gosta de me chamar grande...
:)
... e olha miúdo a melhor maneira de te encontrares é perderes-te em alguém que encontre em ti o homem que podes ser. sem medos.





Os poucos gestos a que me agarrei, eram afinal gestos de mãos vazias, que não me davam a mão.
Palavras escritas, li tantas que ainda guardo e que me rasgaram a alma em farrapos.
Ficaram para sempre.

Hoje acho que percebi alguns dos sonhos que me andam a devassar o sono, que me fazem acordar quatro, cinco vezes, por noite: fiz um trato comigo e não me levanto, e se me levanto não pode ser para escrever porque não quero acordar ainda mais o cérebro que já faz greve de sono pela natureza dos últimos meses. Esta noite acordei uma das vezes por volta das cinco e meia, em choro convulsivo, acordei e não conseguia parar, uma coisa estranha, como que entranhada na alma, e mesmo acordada não conseguia afastar-me do sonho, daquela sensação. Daquele desespero. Procurei acalmar, abrir os olhos, ver as horas, sentir-me real, descolar-me do sonho e parar de soluçar. Mas a sensação ficou por muito tempo. Tentei dormir novamente e passado um bocado venci-me, adormecendo. De manhã ainda tinha o sonho na pele da memória, o banho não o lavou nem o afundou ralo abaixo, e a caminho, com música calma na viagem, tentei perceber a sensação. Tenho a mania que os sonhos não são nada o que a história do sonho nos conta, a história - se calhar como na vida real, afinal - não interessa nada, é só um meio, um veículo que nos leva, só interessa o que nos faz sentir. Só isso é verdadeiro no sonho: o que sentimos. Serve só para nos fazer sentir, para nos fazer sentir daquilo que fugimos de sentir no dia a dia, ou que tentamos travar, racionalizar, e com que não sabemos lidar, no fundo. E enquanto dormimos o subconsciente trabalha-nos isso. Aí a nossa vontade está adormecida e não somos donos do que sentimos. É o que eu acho, e sempre que tento perceber o que raio me quero dizer e não me quero ouvir, começo a tentar perceber os sonhos que me agitam, que me ficam, que me assaltam de dentro para fora. E então percebi que tenho sonhado várias vezes com perdas, com mortes, com choros que não tive, com abraços que não dei, com mortes que ainda não morreram em mim. E hoje, hoje percebi que alguns desses sonhos - e o de hoje claramente-, não era aquela morte que chorava, era outra; não era o saber que estávamos no natal, altura de família e carinho e calor, não era o saber que eram os últimos dias da pessoa a quem agora reconheço mais que dantes, a quem agora tenho pena de ter abraçado menos, de quem agora agora vejo mais protecção e carinho do que via dantes, mesmo que veja os exactos mesmos defeitos, vejo mais claramente algumas qualidades, e algumas que sei que me faltam e que não as aprendi a tempo. Não era essa morte que eu chorava na certeza de ir acontecer, e de responder a alguém que me perguntava, porque não parava eu de chorar, "porque não sei quantas vezes mais o vou ver..." E esta frase ficou-me, penso até que foi a última antes de acordar, porque o choro convulsivo acordou-me. E essa frase, de carro, com uma música de fundo calma, disse-me tudo. Chorava uma morte sobre a qual sou também impotente, que também me impuseram e decretaram, e choro o que durante o dia não pude chorar, não uma morte que morreu para mim, mas uma morte que matam em mim. Para mim. Mas que é uma morte, uma perda, um vazio. Um luto com que luto. E os sonhos cruzam-se, e repetem-se, e falam de tudo o que não dizemos enquanto não quisermos ouvir. Mas se os ouvirmos aprendemos a ouvir-nos nos silêncios que nos impomos, com que nos enganamos, ou tentamos. 
Tenho muitas mortes para chorar, muitos lutos para fazer, muitas recordações com que viver ainda. Os sonhos massacram-me, mas talvez me vão ajudando a desfazer alguns nós. Assim eu perceba como o nó está dado e será uma questão de paciência e sabedoria para me desfazer dele, ou guardá-lo como lembrança do que lá estava quando nos apertou nele.

03 setembro 2014


All are tales of human failing
All are tales of love at heart
                           
             Every Story is a Love Story


do Musical "Aida"

[era bom que na vida também assim fosse, tudo fosse do coração. verdadeiro. até os grandes falhanços. não há nada como as coisas cruas, genuínas verdadeiras. só se pode ser genuinamente infeliz depois de se ter sido terrivelmente feliz, de ter sentido a felicidade crua, verdadeira, um pouco selvagem até. Só o que é natural é selvagem. ]

"nos dias que correm, cada vez mais imediatos, partilhados e padronizados, a tendência é para o afunilamento de padrões. uns são nerds dos computadores, outros são intelectuais das letras, outros fito-desportisto-atletas. há ainda os viajantes profissionais, os preguiçosos intencionais, os mil fashionistas, os swagger's emprestados e os novos ginlovers. para mim, não passam de uma cambada de ovelhas que seguem todas o mesmo caminho, todas com a mesma lã, a mesma cor, o mesmo gosto. cansam-me. porque o que gosto mesmo são dos outros, dos que mantêm o que são, seja qual for a moda. daqueles que tem um toque que é a sua marca. não é só o que são, como são, ou como vivem, mas aquele toque especial que lhes dá uma piada única, ou um estilo próprio, ou até mesmo aquela irritação boa, quase de estimação. porque as pessoas verdadeiramente interessantes tem um toque que se adivinha, que se percebe, que se antecipa. um toque que não se vê, que não se consegue descrever, mas que se sente..
gosto daquelas pessoas que tem sempre o seu estilo, estejam na festa mais deslumbrante, ou apenas caídos, ali na relva de um jardim. as que dançam a música, não por quem canta, mas pelo que canta. que sabem conversar horas, de todos os assuntos, mas sem nunca se levarem muito a sério. que são bonitas, não pelo que exibem, mas pelo que guardam em si. e, gosto ainda mais das que sabem reconhecer - e apreciar - esse toque nos outros. porque não há nada que me deixe mais feliz, do quando me dizem 'vê-se logo que foste tu que fizeste', ou 'tinhas de ser tu a descobrir isso'. e isto, não é porque somos melhores ou únicos. é o contrário, é mesmo na nossa imperfeição, nos nossos defeitos, termos sempre um vinco que deixa a nossa marca boa. seja a forma de rir quando estamos a dizer parvoíce, ou a forma de abraçar quando dizemos que gostamos, até a forma de ocultar (por carinho), quando fugimos aos problemas. ou aquela forma de cuidar, sempre atenta aos pequenos sinais, cheia de pequenos gestos que se tornam grandes, pela simples forma se saber estar: presente.
hoje, sei que o que distingue os grandes amores é a sintonia nestes pequenos toques, que fazem do mais normal dos dias, um momento sempre especial. é saber que se tem uma pessoa bonita e especial à nossa frente, mas que são os grandes detalhes que a fazem nossa paixão. coisas simples, como a forma de tomar café, ali meio a cair do balcão entre pernas encruzadas, seja em que casa for. ou ir às compras, e fazer sempre daquilo uma diversão, seja na loja mais in, ou no supermercado mais out. é haver sempre uma musica nova que é tão nossa, seja de quem for. é o cheiro da pele fresca da manhã, sempre familiar, seja em que banho for. é a forma como adormeces no meu peito, seja em que cama for. é o brilho do olhar no outro, que se reconhece quando está feliz, seja a que distância for. e sabes, é o nosso toque, que nos deu esta forma tão improvável de sermos iguais. porque somos almas que vivem da mesma forma: entregue. não apenas ao outro, mas ao tanto que sabemos que vamos viver com o outro.."


...haja alguma coisa que descubra gostar cada vez mais... quero muito acreditar nisto que estes textos transmitem, este toque, esta essência, que seja realidade para alguém, que me façam acreditar que é possível.... que ainda é possível. Que este toque de vida na vida ainda me é possível. Que um dia ainda vou respirar vida pelos poros. Todos. 

Bom Dia
"Carnuda, somente carnuda. Mas que tonta. Depois querem que uma pessoa acredite na existência de Deus. Como é que uma mulher pode ser tão cheiinha, tão perfeita, com aquele busto, com aquela boca, e sem cérebro? Seria necessário pôr-lhe um a transístores. Ou devolvê-la a Deus, como falha de fábrica. De qualquer modo, o baboso do noivo não há-de manusear-lhe precisamente o cérebro.
 - Vou comer no centro, menina, por isso estarei de volta pelas duas.
- Lembra-se que às três marcou com o senhor Rios?
Como fará para ter memória, se não tem cérebro? Terá a memória instalada no busto? Lugar há, de sobra. Ali poderia ter a memória, o estômago, os meniscos, o pâncreas, tudo.

(...)

(...)quero que tenhas uma recordação criada por mim, algo a que possas agarrar-te; para mim é insuportável que tenhas perdido a tua mãe, que odeies o teu pai, que te sintas distante do Gustavo, que não possas comunicar com a Susana e que de vez em quando sonhes comigo; creio que tens direito a sentir-te, uma vez pelo menos, em consonância com as tuas emoções, com a tua vida; creio que tens o direito de te sentires pleno; confesso-te que para mim foi uma verdadeira crise; mas de repente vi claramente, vi que a morte está sempre a vingar-se das nossas vacilações; a nossa vida compõe-se de três etapas: vacilar, vacilar e morrer; a morte, em troca, não vacila diante de nós; mata-nos e acabou-se; e o grande espião, o formidável quinto pilar que a morte instalou em nós, chama-se escrúpulo; já sei, eu tenho escrúpulo, tu também, compreende que não estou contra o escrúpulo; mas é o quinto pilar da morte; porque graças ao escrúpulo, vacilamos, e passa-nos o tempo de gozar, de gozar esse minuto feliz que, como graça especial, foi incluído no nosso programa; passamos toda a vida a sonhar com desejos incumpridos, recordando cicatrizes, construindo artificial e mentirosamente o que podíamos ter sido; constantemente estamos a travar-nos, a conter-nos constantemente, estamos a enganar e a enganar-nos; cada vez somos menos verdadeiros, mais hipócritas; cada vez temos mais vergonha da nossa verdade (...)

(...)

-Está bem Dolores.
-Não me olhes assim.
-Olho-te como sempre.
-Não, não é como sempre. Olhas-me como...
-Como quê?
-Como um derrotado.
-É que sou um derrotado, não sabias?
-Prometes-me uma coisa?
-Não, Dolores, não te prometo nada.
Porque fica ali, junto à cancela, enquanto faço lentamente marcha atrás? Que se vá embora, que entre de uma vez por todas em casa. Com dificuldade posso suportar o vestido branco, mas não aquelas sandálias, não aquele colar, não aqueles brincos de molas, os mesmos que uma vez lhe fui tirando, que continuo a tirar-lhe, acordado ou a dormir, sempre. Porque te tenho e não*. Já não te tenho. Definitivamente não. Que se vá embora. Que desapareça. Que se feche. Que se esconda a chorar. Eu não me escondo.

(...)

Daí que a tremenda satisfação sexual com que me brindou a única união com Dolores seja, sobretudo, um derivado daquela comoção prévia. Olha-me, e o seu olhar não é sexo, mas profundidade, tristeza, palpável socorro. Todavia, o seu olhar e o seu sorriso, ao apanhar-me, espremem o meu coração, aceleram-no, lançam-no, e uma vez que o meu coração é lançado a amar, a urgir, a necessitar, submete-se ao sexo, e este passa a proceder como mera filial orgânica e os seus modos de amor deixam de ser os próprios para se transformarem em subsidiários dos modos de amor do coração. Ou seja, o meu tipo sexual pode ser, por exemplo, uma mulher de pernas bem torneadas, cabelo escuro, olhos verdes, mãos delgadas, ancas tangíveis, mas quando o olhar e o sorriso decisivos me alcançam e fulminam, o resto já não importa e a partir desse instante o meu sexo só se encontrará satisfeito na assunção desse corpo que me olhou e sorriu, (...) a minha sentença contra o Velho, tenha sobrevivido a partir do convencimento, a partir do vislumbre de que ela não ia aceitar, porque a esta altura talvez me seja insuportável estar livre sem ela, inocente e sem ela. Talvez eu esteja a engendrar urgentemente uma grande culpa, um absorvente remorso, só para cobrir uma ausência, para justificar a minha solidão.

(...)

Anos antes já o tinha intuído, mas só agora o confirmo: quando se deseja uma mulher, só se conhece metade do próprio desejo. O desejo completo sobrevem no instante em que se tem consciência de que também a mulher nos deseja. Então sim a pressão torna-se insuportável.
-Vamos?
Aqui estive com Dolores. Porque faço isto? Será que no fundo quero comparar? Ou talvez tente apagá-la, acabar com a sua imagem? (...) Quando o acto é de união total, como com Dolores, não exijo nada; não exijo nada, simplesmente, porque está tudo."

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume.

[o prometido é devido, aqui ficam os últimos excertos do livro que acabei há dias, os que me fizeram marcar as páginas porque me fizeram parar para reler, ou só rir-me com o sentido de humor deste escritor que vai sendo salpicado pelo livro.  eu sou das que acho que o sentido de humor oportuno fica bem em todo lado, mesmo no meio de assuntos sérios que me fazem parar para pensar, identificar-me tanto que sorrio por falarem por mim o que sinto, concordar ou não, transpor, estabelecer paralelismos ou não, pôr-me a mim e outros naqueles pensamentos, tentar perceber chegar a algumas conclusões, tentar entender melhor o que nos faz seres humanos, e a diversidade enorme que há dentro do comum do amor, do que se sente, do que se sofre e pensa. Gostei.
(Não concordo totalmente com o escrúpulo, acho que o quinto pilar da morte - para usar as palavras de Benedetti - é o medo. O escrúpulo serve para nos travar e pensar melhor, ponderar onde nós começamos e acabam os outros, mas não nos impede obrigatoriamente, se impede é porque quebra as nossas próprias normas, e escrupulo é um conceito muito mais social que pessoal, e então na perspectiva social não é mais do que uma mera desculpa.)]

*parte dum poema de Mario Benedetti que está de certeza algures neste blog, em espanhol, e que no livro aparece traduzido (não fui buscar o post por preguiça, sorry, talvez noutro dia o faça...)

02 setembro 2014


"In a relationship, one mind revises the other; one heart changes its partner. This astounding legacy of our combined status as mammals and neural beings is limbic revision: the power to remodel the emotional parts of the people we love, as our Attractors [coteries of ingrained information patterns] activate certain limbic pathways, and the brain’s inexorable memory mechanism reinforces them.

Who we are and who we become depends, in part, on whom we love."


A ideia romântica que tinha do amor e do que ele nos pode fazer e fazer ser, melhorar, sermos o melhor que podemos ser, sendo nós mesmos... temo hoje em dia dia por mim e pelo que me posso tornar, e pelo enterro de todas as ideias românticas que tinha, e tentei soterrar, depois da adolescência, com a vida dos grandes, e que alguém fez irromper de novo com uma força imensa, que eu nem sabia poder existir, nem sonhava ter toda essa intensidade de gostar, de querer, de lutar, em mim. De ter tanta certeza do que se quer e ama, de nos sabermos o melhor de nós com quem nos faz sentir verdadeiros connosco, sem medos. Conheci-me para afinal morrer mais conhecedora de mim e do que poderia ser. Poderia...

... E quem sou eu para discutir com a ciência??? Pode não eliminar os sintomas da vida, mas esbate-os um bocadinho para eles não nos baterem tanto... E nem dores de cabeça... Ainda me habituo...
Bom dia 

28 agosto 2014



... já tantas vezes pensei, disse e escrevi isto... às tantas viro padre...
E realmente eu parece-me que só existo enquanto tiver utilidade, depois é fácil, é descartar e virar costas. Já não sou útil, já não sirvo aos propósitos da agenda do dia.

"Não estou bem seguro de nada. Susana sim deixar-me-ia. E vá, importa-me tanto que Susana me deixe ou não me deixe? A paixão acabou-se, acabou-se de tal forma, que agora não sei se alguma vez existiu, mas a minha memória, não o meu corpo, a minha memória diz que existiu. Pode ser. Quanto ao amor, o amor sem paixão digamos, é um conceito tal abstracto e geral, que se calhar continua a existir, mas sem importar muito. Estou acostumado a ela, à ordem que impõe em casa, ao seu modo frio de dialogar, ao seu estilo um pouco histérico para enfrentar as preocupações, à cara adormecida de sonhos, ao seu riso metálico, aos seus cremes, à sua pele, aos murmúrios, às suas depressões, às suas impertinências, às suas nádegas. Mas costume não é necessidade. Antes precisei dela, agora não. O que se passa então entre ela e eu? Paixão já não, quiçá amor lasso; necessidade já não; quiçá costume. Que palavra pode resumir tudo isso? Carinho? Estima? Apreço? Simpatia? Indiferença? Fastio? Aborrecimento? Raiva? Na realidade eu deixo-me viver. Não vamos investigar demasiado. Nem sequer em mim. Até um míope poderia dar-se conta de que isto não é a felicidade.
(...)
Sim, é quase seguro que a prudência fácil, este continuar como até agora, é quase seguro que isso seja o disparate. Não sou herói nem nada que se pareça. Bastou que Susana não acreditasse que eu falava sério, para que eu mesmo me levasse a brincar. Não estou para piadas, disse, e foi o suficiente para que as minhas palavras me soassem vazias. A verdade é que sei que não vou mudar, que não vou tomar nenhuma decisão abrupta, dramática. Enquanto se trata só de pensamentos, de um simples jogo mental, então sinto-me com ânimo, tenho a impressão de que vou decidir-me, de que vou dar o salto, mas quando chega o momento de criar os factos e enfrentar a sua responsabilidade, então dá-me um medo irracional, um pânico semelhante ao que me assaltava em pequeno (...) Não sei exactamente se é medo à miséria, à insegurança ou ao desprezo dos outros. Talvez seja menos digno que tudo isso. Talvez seja simplesmente medo ao incómodo, à falta de conforto. Porque quando penso que a minha vida é cinzenta, aborrecida e rotineira, não me escapa que a rotina inclui uma série de coisas insignificantes mas agradáveis.
(...)
Pode ser-se feliz junto a uma pessoa frívola, mas desde que se pertença ao mesmo grupo sanguíneo. E Dolly não. Dolly tem vida interior. É profunda quando quer. A sua simpatia baseia-se particularmente no que não diz: silêncios, gestos, olhares, etc. (...) Dolly querida. Vi-a pela primeira vez quando eu já levava dez anos de casado. Era aquilo, claro, o que eu tinha andado à procura, e agora tinha-a Hugo. Casei-me com Susana porque pensei que Aquilo não existia, ou melhor, resignado a que Aquilo não existisse. E, naturalmente, se uma pessoa pensa que Dolly não existe, então Susana parece bem. Mas existe. Por exemplo, agora, ali, no jardinzinho.
(...)
"Bem, agora está claro. Acabaram-se os sonhos. Mas deixa-me às vezes que fale contigo. Sinto que com ninguém, nem sequer quando estou sozinho, estou tão próximo da verdade. Da minha verdade, entendes-me? (...) como é que posso falar com ela, assim, de qualquer coisa, cães, mendigos e Cristina Jorgenssen? Creio que a amo mais, agora que estou seguro de que não acontecerá nada. Porque não a vi antes? Porque é que não levei a melhor ao Hugo? Com ela sim, sentir-me-ia valente. Ou isto será uma boa desculpa para me sentir cobarde?"

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[ existir o que não pensávamos existir, sentir o que achávamos só pertencer a telas e a páginas de romances bem escritos, depararmo-nos com o que procurávamos quando já não estávamos à procura, ou à espera. Nada nos prepara para isso, e nada nos salva disso. A conjugação perfeita, o estarmos com o outro como connosco próprios, sem reservas ou medos: inteiros. E a impossibilidade. As razões que se vão acrescendo para validar as cobardias, para as justificar e quase legalizar como quem moraliza. 
O livro não é o que esperava, escreve em prosa tão diferente do que se sente na sua poesia, mas o giro é que se sente a mesma sensibilidade, só não descrita na prosa, apenas através de alguns pequenos pormenores que só os atentos atentam, e a sensibilidade, a humanidade profunda da história, principalmente das reflexões dos personagens, da sua bagagem psicológica, de medos, traumas e desejos. Os personagens são muito humanos, muito frágeis, muito reais, e por isso profundos. E a parte política reflectida como fenômeno sociológico mas também psicológico do indivíduo. Interessante, mas não o que esperava. Ainda assim não me desilude. E isso é bom, e bolas muito raro nos dias que correm... ]
... Ainda não consigo. Ainda me agarram as saudades. Ainda se me colam as recordações a qualquer coisa que veja, que oiça, que cheire, que viva. Ainda te tenho entranhado na vida por viver como na vivida. 
Como é que se pode ter saudades de alguém que não nos ama, e se não nos ama nós não queremos? Como se pode ter saudades do que não foi? E como ter saudades do que não foi? Como se as memórias e as recordações fossem sonhos e nunca realidade, porque a minha realidade não existiu, nunca estiveste nos momentos como eu estive e recordo. São como memórias de contrabando, falsificadas, que comprei com a minha alma, como genuínas, verdadeiras, reais. 
Como agora saudades do passado mentido e do futuro a que não cheguei?
Saudades como? Como?

27 agosto 2014

"Mas o reconhecimento de que uma necessidade seja peremptória nem sempre significa que a solução seja iminente.
(...)
A maturidade não se adquire por decreto. Se rebentarmos, não por própria convicção, mas pura e exclusivamente porque rebentam os nossos vizinhos e o fogo se propaga, o mais provável é que as chamas recebidas não nos sirvam de nada, a não ser para nos destruirmos. Enquanto não fabricarmos o nosso próprio rastilho e a nossa própria pólvora, enquanto não adquirirmos uma consciência visceral da necessidade da nossa própria explosão, do nosso próprio fogo, nada será fundo, verdadeiro, legítimo, tudo será uma simples casca, como agora é casquinha (...)"

Mario Benedetti, Obrigada pelo lume

[... Verdade, enquanto não tivermos a nossa verdade e a sentirmos até à medula, nada se incendeia, nada muda, não há revoluções, políticas ou outras.]
- Não, come a fruta toda!... A fruta não te custa, tu gostas...
- Mas será que como porque gosto ou porque estou habituada, mamã?
(As perguntas que esta miúda faz com esta idade... Deu-me para sorrir com a reflexão dela...)
-Não sei, diz-me tu.
- Acho que é porque estou habituada...
- Então mas se não gostasses tinhas-te habituado?... 
- Não fui eu que me habituei, foi o meu estômago!
(... As coisas que me põem a pensar... Não foi ela que se habituou, foi o estômago, e o estômago nao parece depender dela gostar ou não...Tontices giras que só comecei a pensar muito mais tarde que ela... E que definitivamente não concluo o mesmo, há hábitos que se adquirem porque se gosta, ou se gostou para serem tão repetidos e virarem hábito...)
"(...) acabou-se o mundo lá fora. Ele conta-lhe tudo, pormenoriza-lhe os capítulos em que esteve dividido o dia. Sobre isso não há dúvida: é sincero com ela. Porque lhe conta coisas feias, coisas sujas, coisas terríveis. Como se soubesse que o amor dela é capa de aceitar esse lado negro do seu ser, essa zona do diabo que nunca mostra a ninguém totalmente.
(...)
Quando decidi ser como sou, fi-lo com toda a lucidez. Não vale dizer: que pena, enganei-me, peço perdão à sociedade, à família e ao fisco. Dir-me-ás: e a consciência? Não penses, eu também faço a mesma pergunta. A diferença está em que tu a fazes a mim, e eu a faço a esse fantasma chamado Deus. É a consciência?, pergunto-lhe. A minha pergunta, porém, é uma reclamação, como quando vais a uma loja protestar porque te deram um artigo com uma peça a menos. E a consciência? Isso é tremendo. Eu não tenho. Ou se tenho, nunca à encontrei.
(...) tinha chegado a captar, no entanto, que ela era uma espécie de instrumento, insignificante instrumento daquele homem difícil, impenetrável, duro. Tinha chegado a captar que era gozada, mas amada; desejada mas não necessitada. Ela era o instrumento de gozo do homem, e tinha validade enquanto ele precisasse dela como provocação dos seus sentidos."

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[... Relações estranhas de um instrumento de gozo a quem se conta o lado mais feio porque se sabe que aquele amor aguenta tudo... Um instrumento de vários sons e propósitos, com serventia para tanta coisa, mas nunca para amar realmente, de facto, assumidamente... E no meio disto tudo: a consciência? Onde fica, onde está? Não há, ninguém sabe. 

26 agosto 2014

O engraçado é que apesar de tudo apontar para eu não valer um cu, parece que o meu cu vale alguma coisa; logo, pela lógica das coisas, eu valho pelo menos um cu. O que é que isso quer dizer é que eu já não faço ideia...
O amor não tem tamanhos nem medidas, ou se sente e é todo, é tudo, ou não é nada. Não há amar um bocadinho, ou amar muito, isso poderá ser gostar talvez, de resto há amar ou não amar. 
E isto foi o que me ensinaram os últimos meses, já não me posso agarrar à dúvida, ou à ideia de poder ser um pouco de amor, de ter sido um bocadinho amada. Agora sei que não foi. Não foi nada. Não fui nada. 
É impossível não ver. 
E se eu o dissesse, a resposta seria para pensar assim se isso me ajuda, não seria negado, não seria confirmado. Mas também já não são precisas respostas, os últimos tempos calaram essa dúvida. Essa pelo menos. A única que importava, que me importava, que me importou.

... Sim, era isto.
A parte que vale a pena, que faz valer tudo o resto.

Boa noite.

25 agosto 2014

Quando é que os casais começam a ser só companheiros e deixam de ser namorados? É com os filhos? Ou os filhos aparecem porque as pessoas deixaram de ser namorados e precisam de alguma coisa que os junte? Ponho-me a olhar para as pessoas e não consigo descobrir. Sei que quando quis engravidar ainda namorava, mas agora que penso nisso, não era apaixonada...
"- O problema é que estou farta do meu marido, senhor Budiño.
- Talvez esteja deprimida esta noite, senhora Ransom.
- Chame-me Mary, Ramon.
- Como é que sabe que me chamo assim?
- Está no folheto da agência.
- Você está deprimida esta noite, Mary. Isso acontece a muitas pessoas com o triste Carnaval. Deprimem-se.
- Não estou deprimida. Estou enfastiada do meu marido. Nada mais, é muito simples. 
- Só esta noite ou sempre?
- É sempre, mas especialmente esta noite. 
- E porque não se separa?
- Digamos que por preguiça. 
- É um bom motivo.
- É, não é? Fez-me rir, Ramon, e eu não me rio facilmente.
- No entanto, fica muito bem quando se ri.
- O seu escritório fica muito longe?
- Chegámos, senhora."

Mario Benedetti, in Obrigada pelo lume

[... E eu que sou tão, mas tão preguiçosa, não tenho destas preguiças. E destas facilidades, desta rapidez de arranjar um entretém. No entanto ao menos é capaz de ser mais sincera a resposta, é escusado complicar ou vestir a verdade de outras roupagens. Prefiro a sinceridade, mesmo que estúpida.]
pois se calhar era uma ideia... 
aliás, ideia que se calhar já alguns tiveram... vestem e despem cá com uma bolina... 
... mas há vestidos que experimentam mais tempo e com mais vontade, e outros que nem chegam realmente a vestir põem assim à frente do nariz, acham muito giro, dizem que é lindo, mas não sei se chegam realmente a vestir com propriedade, vontade e convicção.
Seja como for o que não querem, despem e deixam no chão.
Vou pensar em começar a adoptar a mesma filosofia... é que chego à conclusão que quando tenho vontade de vestir e visto, normalmente é para levar, é para ficar, é porque quero. 
Tenho de variar mais, vestir e despir, e deixar no chão. E eu que ainda não arranjei quem me despisse os vestidos novos que ainda não vesti.... tss tsss que tristeza.... aliás dei por mim a pensar há dias há quanto tempo ninguém me toca, a pele e a alma. Nenhuma das duas.


"Quando encontrar alguém
e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos,
preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e,
neste momento, houver o mesmo brilho intenso entre eles,
fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso,
se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento,
perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa,
se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração,
agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.

Por isso,
preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR."

Carlos Drummond de Andrade

[de repente todas estas coisas perdem sentido, sei-as verdadeiras, mas inacreditáveis. Já não acredito, embora saiba que existem. Só não existem para mim, e com, sorte, não existem mais em mim, nem existirão.  Empenha-se a alma, dá-se tudo, e nunca resta nada, a não ser mágoa e tanta coisa para desembrulhar... às vezes penso que mais valia não ter sabido, não ter descoberto nada, não saber agora que isto existe e é possível; depois penso que é o meu caminho, e nos caminhos da vida não há desvios, tudo é caminho. Mas estou cansada de caminhar, os pés doem-me a lembrar-me os caminhos que decidi percorrer doesse a quem doesse, e a única a quem doeu e dói, é a mim, está certo, a opção foi minha. Assim seja, não me queixo, mas analiso. Analiso-me, e aos outros, e desiludo-me muito. Demais, e não me entendo. Se calhar estas coisas acontecem mas nunca a par. Eu senti, mas fui a única. Se calhar ainda estou para comprovar que isto por de ser correspondido, recíproco, bom, afinal!!...]